Como sete empresas dos EUA ultrapassaram a economia europeia

As sete empresas gigantes tecnológicas dos Estados Unidos, conhecidas como as “Sete Magníficas“, ultrapassaram o Produto Interno Bruto (PIB) da União Europeia (UE) em valor de mercado, acendendo um debate sobre a possibilidade de uma nova bolha tecnológica. O grupo é composto por Nvidia, Microsoft, Apple, Alphabet, Amazon, Meta e Tesla.

Até o fechamento de quinta-feira (2), essas companhias acumulavam uma capitalização total de US$ 20,8 trilhões (R$ 111 trilhões, na conversão direta), superando o PIB do bloco europeu, de US$ 19,4 trilhões (R$ 103,5 trilhões). A Nvidia, sozinha, alcançou avaliação de mercado de cerca de US$ 4,3 trilhões (R$ 22,9 trilhões) — o equivalente ao PIB da Alemanha, a maior economia da Europa.

PIB europeu ficou para trás — há espaço para “recuperação”? (Imagem: rarrarorro/Shutterstock)

Empresas Sete Magníficas “maiores” que a Europa: nova bolha da internet?

  • O marco extraordinário reacende discussões sobre o que define uma bolha tecnológica e se o momento atual se assemelha ao estouro das pontocom, no início dos anos 2000;
  • Uma bolha desse tipo é caracterizada não apenas por avaliações elevadas, mas por um descolamento entre preços de mercado e fundamentos econômicos, impulsionado por otimismo excessivo e especulação;
  • Segundo o Euronews, o economista Robert Shiller descreve as bolhas como períodos de “contágio social”, nos quais histórias de enriquecimento rápido estimulam uma febre de participação no mercado;
  • Bolhas especulativas são alimentadas pela propagação contagiosa de narrativas de mercado, que inspiram entusiasmo e o desejo de participar entre um número crescente de investidores”, escreveu Shiller em Irrational Exuberance (Exuberância Irracional, em tradução livre).

Hyman Minsky, outro economista influente, afirmava que, em momentos de euforia, a especulação se torna a força dominante, com preços de ativos sustentados mais por narrativas do que por dados concretos. Quando um gatilho ocorre — seja macroeconômico, regulatório ou psicológico —, o ciclo se inverte e o mercado corrige bruscamente.

No atual contexto, o entusiasmo se concentra na inteligência artificial (IA). Desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, o índice Nasdaq 100 subiu 140% em menos de três anos. Embora expressivo, o ganho ainda está longe dos 500% registrados nos três anos que antecederam o pico da bolha das pontocom, em março de 2000.

Jordi Visser, diretor-gerente sênior e chefe de pesquisa macroeconômica da 22V Research, defende que o movimento atual não deve ser confundido com especulação irracional. “Para separar a IA do rótulo preguiçoso de ‘bolha’, precisamos reconhecer que o que está acontecendo não é uma mania especulativa, mas uma corrida estrutural”, afirmou ao portal.

Ele aponta o investimento maciço de governos e corporações em IA como uma questão de segurança nacional e econômica.

Nvidia, sozinha, alcançou avaliação de mercado de cerca de US$ 4,3 trilhões (R$ 22,9 trilhões) (Imagem: Poetra.RH/Shutterstock)

Para Visser, o processo atual reflete uma concentração econômica de décadas, em que riqueza e inovação se acumulam nas mãos de poucas empresas, famílias e nações. “Bolhas elevam todos para a euforia; a concentração deixa a maioria para trás”, afirmou.

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Sinais de risco

Apesar da defesa de que não se trata de uma bolha, há sinais de risco. O volume de investimentos em fundos de índice (ETFs, na sigla em inglês) voltados à IA, a valorização especulativa de pequenas empresas do setor e o peso desproporcional de poucas gigantes sobre o mercado são indícios de tensão crescente.

Em termos de avaliação, apenas a Tesla destoa fortemente do grupo, com um índice preço/lucro (P/L) projetado de 220 vezes, o mais alto do Nasdaq 100. As demais empresas apresentam P/L entre 24,8 e 33,3, abaixo da média do próprio índice, hoje acima de 40 vezes.

Com isso, ainda que as avaliações sejam elevadas, não atingem os níveis de irracionalidade vistos no auge das pontocom. O atual ciclo, portanto, parece mais um reflexo de uma transformação estrutural do capitalismo do que de uma euforia especulativa, diz o Euronews.

Tesla destoa fortemente do grupo de empresas (Imagem: Stock all/Shutterstock)

O fato de as sete maiores empresas de tecnologia valerem mais que toda a produção econômica da União Europeia simboliza a mudança no centro de gravidade da economia global na era digital. Ainda assim, a linha entre transformação estrutural e excesso especulativo permanece tênue.

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