A COP30, em Belém (PA), entrou oficialmente em sua segunda fase nesta segunda-feira (17), com a chegada de ministros e representantes de alto nível de diversos países. Este é o momento mais político (e mais tenso) da conferência. É quando governos precisam decidir o que estão dispostos a ceder para tentar fechar um acordo global sobre o clima.
A sessão de abertura desta etapa tem discursos do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), do embaixador e presidente da COP30, André Corrêa do Lago, de Simon Stiell (UNFCCC) e de Annalena Baerbock (ONU).
A semana decisiva começa com um documento-chave divulgado no fim do domingo (17). Ele reúne o diagnóstico técnico da primeira fase e resume as consultas sobre os quatro temas mais polêmicos que ficaram pendentes:
- Financiamento climático;
- Comércio internacional;
- Lacuna de ambição;
- Relatórios de implementação.
O consenso sobre financiamento, considerado o “fiel da balança”, será determinante para destravar os demais pontos.
A presidência separou esses quatro itens da agenda formal para permitir avanços na primeira semana, quando diplomatas conseguiram liberar mais de 100 temas técnicos.
Agora, o desafio é transformar esse diagnóstico em acordos reais. E evitar que a COP30 termine como apenas mais uma lista de impasses.
Financiamento vira o centro da disputa e deve testar a ambição da COP30
O financiamento climático entrou na segunda semana como o ponto mais sensível da conferência. O plano brasileiro de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 enfrentou resistência de países como Japão, China e Quênia, que questionaram a legitimidade do debate e evitaram apoiar o documento preparado pelas presidências da COP29 e COP30.
Para complicar, o resumo técnico divulgado no fim de semana não incorporou os “mapas do caminho” defendidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isso esvazia o peso político da proposta justamente quando o tema chega ao centro das negociações.
Mesmo assim, houve sinais positivos. A Alemanha indicou que deve anunciar “nos próximos dias” quanto pretende aportar no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa liderada pelo Brasil.
O grande teste agora será avançar no compromisso de triplicar o financiamento global para adaptação até 2030, condição considerada essencial para dar substância às negociações. Sem clareza sobre números e fontes de recursos, todo o pacote político da COP30 corre o risco de emperrar.
Implementação entra no centro das negociações e pressiona definição de indicadores
Com a chegada dos ministros, a segunda semana da COP30 passa a girar em torno de um tema central: como transformar em prática os compromissos assumidos desde o Acordo de Paris.
A presidência da conferência reforça que esta deve ser uma COP focada em implementação, não em criar novas obrigações. Há consenso sobre a urgência de acelerar a execução das Contribuição Nacionalmente Determinada (NDCs), ampliar o financiamento (especialmente para adaptação) e avançar em reformas da arquitetura financeira internacional.
O desafio imediato dos ministros será fechar indicadores globais de adaptação, que já aparecem num rascunho de texto e servirão para medir o avanço real dos países.
A proposta de triplicar o financiamento para adaptação também está na mesa, mas depende de acordo político. Se a adoção formal desses indicadores atrasar, ações e investimentos podem desacelerar, alertam especialistas, segundo o UOL. Isso ameaça a ambição da conferência e o objetivo de apresentar resultados concretos ainda em Belém.
Decisões de capa voltam ao debate e podem definir rumo sobre fósseis
As chamadas decisões de capa (textos políticos que funcionam como guarda-chuva para amarrar o resultado final da conferência) voltaram ao centro das conversas em Belém.
Embora o Brasil diga preferir não usar esse instrumento, a pressão internacional por um recado claro sobre combustíveis fósseis, desmatamento e financiamento reacendeu a discussão.
Essas decisões não pertencem a um item específico da agenda e não passam pelo mesmo processo rígido de negociação linha a linha, o que gera desconfiança entre muitos países.
Nos bastidores, cresce a avaliação de que os quatro temas mais polêmicos – financiamento, metas, prestação de contas e medidas unilaterais de comércio – podem acabar empacotados numa única saída política, potencialmente transformada numa decisão de capa.
Esse arranjo permitiria registrar avanços mesmo fora da agenda formal, incluindo a disputa sobre como se afastar ou eliminar os combustíveis fósseis, descrita por organizações como uma “nuvem tóxica” sobre as negociações.
O histórico ajuda a explicar o peso desse debate. Em COPs anteriores, decisões de capa elevaram a ambição (como em Glasgow e Dubai) ou frustraram expectativas (como em Madri e Sharm).
Protestos, fósseis e povos indígenas marcam o fim de semana em Belém
O fim de semana em Belém foi marcado pela Marcha Global por Justiça Climática, que reuniu milhares de pessoas e movimentos sociais de vários países, segundo o G1.
A imagem que resumiu o tom do protesto (três caixões com os nomes “carvão”, “petróleo” e “gás”) circulou dentro e fora da conferência e reforçou a pressão por respostas mais rápidas sobre combustíveis fósseis.
Mesmo fora da Zona Azul, a marcha foi transmitida pelas telas da COP30, o que lembrou aos negociadores da cobrança crescente nas ruas.
A presença da indústria fóssil também virou alvo de críticas. No sábado (15), o prêmio satírico “Fóssil do Dia” foi entregue à Indonésia.
Organizações acusam o país de levar um dos maiores grupos de lobistas de petróleo e gás entre os países em desenvolvimento. E de repetir seus argumentos numa fala oficial sobre o mercado de carbono (Artigo 6.4).
Um levantamento citado nas referências mostra que mais de 1,6 mil pessoas ligadas ao setor fóssil estão credenciadas na COP30, o que supera delegações inteiras de países vulneráveis.
Leia mais:
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Outro destaque do fim de semana foi a Aldeia COP, na federal do Pará (UFPA), onde mais de três mil indígenas do Brasil e do exterior se reuniram durante a conferência.
Eles relatam que as mudanças climáticas já afetam o cotidiano, como plantio perdido por chuvas irregulares ou calor fora de época. E defendem participação direta nas decisões.
A presença massiva reforça um ponto central da COP30: para muitos povos, o debate climático não é abstrato ou distante, mas uma questão que atravessa a vida diária e exige estar “na mesa onde as escolhas são feitas”, como repetiram diversas lideranças.
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