A 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30) terminou Belém sem conseguir incluir na declaração final a proposta brasileira que estabelecia um “mapa do caminho” para o fim do uso dos combustíveis fósseis, uma das pautas mais importantes do evento. A iniciativa, apoiada por mais de 80 países, enfrentou resistência firme de nações produtoras de petróleo, com destaque para a Arábia Saudita.
O impasse manteve negociadores em discussões até a madrugada deste sábado (22)), refletindo a divisão profunda entre países que pressionam por metas concretas de eliminação progressiva de combustíveis fósseis e aqueles que defendem que menções a esse tema poderiam comprometer seu desenvolvimento econômico.
Presidente da COP30 diz que Brasil seguirá com proposta paralela
André Corrêa do Lago, presidente da COP30, confirmou em entrevista à CNN que o texto final do acordo não incorporou a proposta brasileira, mas anunciou que o país seguirá com a iniciativa como um programa independente.
A decisão representa um contraste significativo com o discurso ambicioso do presidente Lula que marcou o início da conferência, quando o Brasil mobilizou dezenas de países em torno da necessidade de um roteiro claro para superar a era dos combustíveis fósseis.
“Lacuna” no relatório final
O resultado final da conferência mantém assim a lacuna entre o reconhecimento da crise climática e a implementação de ações concretas para enfrentar sua principal causa: a queima de combustíveis fósseis. Especialistas e representantes da sociedade civil alertam que, sem avanços nessa frente, torna-se impossível romper ciclos de desigualdade e destruição ambiental.
Em entrevista ao Olhar Digital News na última sexta-feira (21), o renomado climatologista Carlos Nobre chamou de “grande lacuna” a ausência de qualquer referência à eliminação dos combustíveis fósseis nos últimos rascunhos do documento final.
O nosso documento dizia, idealmente, zerar o uso de combustíveis fósseis em 2040, não mais que em 2045, para não deixar a temperatura do planeta aquecer demais, não deixar em 2050, por exemplo, chegar a dois graus, que isso vai ser um ecocídio, um suicídio ecológico
Carlos Nobre, climatologista, Professor Titular da Cátedra de Clima e Sustentabilidade da Universidade São Paulo e copresidente do Painel Científico para a Amazônia
A extensão das negociações além do prazo original – um fenômeno comum nas COPs – não foi suficiente para superar as resistências. O cenário repete impasses de conferências anteriores e evidência os desafios persistentes da diplomacia climática multilateral em traduzir a urgência científica em compromissos políticos vinculantes.
Avanços reais: financiamento e valorização das florestas tropicais
Apesar do impasse climático, os especialistas concordam que a COP30 produziu avanços relevantes. Artaxo cita como exemplo o fundo TFFF (Florestas Tropicais para Sempre), que ganhou novo fôlego com o aporte de € 1 bilhão (cerca de R$ 6,1 bilhões) da Alemanha, somando agora mais de US$ 6 bilhões. O fundo visa financiar países em desenvolvimento na preservação de florestas, como as nações da Bacia do Congo e do Sudeste Asiático.
Outro ponto positivo foi a consolidação de mecanismos de financiamento para a transição energética. Embora o fundo global de adaptação ainda esteja longe da meta de US$ 1,3 trilhão por ano, o reforço em relação à COP anterior indica uma tendência de crescimento, essencial para que países em desenvolvimento acelerem sua descarbonização.
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Apesar dos avanços, a sensação ao final do evento foi de que a COP30 poderia ter feito mais. O lobby do petróleo, que já havia conseguido impedir o avanço de propostas pelo fim dos combustíveis fósseis em COPs anteriores, conseguiu prevalecer mais uma vez, apesar dos enfáticos discursos do Brasil e do apoio de algumas das maiores economias do mundo.
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