Correntes do Atlântico estão fracas? Estudo responde, especialistas discutem

Quando o assunto é correntes fundamentais do Oceano Atlântico, há consenso e debate na ciência. O consenso: elas vão enfraquecer ao longo das próximas décadas por conta das mudanças climáticas. O debate: se elas já enfraqueceram ou não ao longo dos últimos 60 anos. A discordância continua mesmo após a publicação recente de um estudo sobre a questão.

A pesquisa, publicada na revista Nature Communications em janeiro de 2025, apontou que a circulação do Atlântico está estável desde a década de 1960. Isso sugere que o sistema pode ser mais resistente ao aquecimento do que cientistas pensavam. Mas os resultados são controversos.

Pesquisa investiga sistema de correntes do Atlântico que pode causar perturbações climáticas globais

O estudo em questão investigou o passado da Circulação de Revolvimento Meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês). A AMOC é um sistema crucial de correntes oceânicas – entre elas, está a Corrente do Golfo, que transporta calor para o Hemisfério Norte.

  • Por que isso importa: se a AMOC enfraquecer, pode resfriar o norte da Europa, além de causar perturbações climáticas globais.
Dispositivo CTD rosette mede condutividade, temperatura e profundidade do oceano ao coletar amostras de água (Imagem: Woods Hole Oceanographic Institution)

Observações diretas da AMOC começaram apenas em 2004. Por isso, os cientistas dependem de “impressões digitais” climáticas, como temperatura e salinidade da superfície do mar, para inferir tendências de longo prazo.

A pesquisa em questão utilizou modelos climáticos atualizados para analisar a AMOC. Após testarem 24 modelos, os pesquisadores observaram que a temperatura da superfície do mar, um indicador comum, tem relação mais fraca com a AMOC do que se acreditava. Por isso, eles focaram no “fluxo de calor ar-mar”, que mede a troca de calor entre o oceano e a atmosfera.

O que o estudo diz: não houve declínio na transferência de calor no Atlântico Norte nos últimos 60 anos. Isso sugere que a AMOC permaneceu estável durante esse período, como mencionado no começo desta matéria.

  • Os autores do estudo ressaltam que isso não implica que a AMOC não enfraquecerá no futuro, mas que mudanças significativas ainda não ocorreram.

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Debate em torno do estudo

Especialistas argumentam que modelos climáticos usados no estudo sobre correntes do Oceano Atlântico podem ser imprecisos (Imagem: NOAA)
  • Críticas aos modelos climáticos: Especialistas argumentam que os modelos climáticos podem não ser totalmente precisos ao simular fluxos de calor ar-mar devido à dependência de dados observacionais incompletos e à influência de fatores como temperatura do ar, vento e cobertura de nuvens, que tornam as estimativas imprecisas;
  • Questionamentos sobre a reconstrução da AMOC: Stefan Rahmstorf, oceanógrafo do Instituto Potsdam, questionou a confiabilidade dos modelos climáticos mais recentes para reconstruir a AMOC, destacando sua sensibilidade e dificuldade em reproduzir eventos oceânicos passados;
  • Reconhecimento da abordagem inovadora: Apesar das críticas, David Thornalley, da University College London, reconheceu que o foco no fluxo de calor ar-mar é uma abordagem inovadora e útil por oferecer nova perspectiva sobre a estabilidade da AMOC nas últimas décadas;
  • Impacto nas projeções futuras: Maya Ben-Yami, pesquisadora climática, destacou que as incertezas sobre o enfraquecimento passado da AMOC não afetam as projeções futuras – isso porque a maioria dos cientistas concorda que a ela enfraquecerá no devido às mudanças climáticas.

(Os especialistas citados acima foram consultados pelo LiveScience e não estavam envolvidos no estudo em questão. Você encontra mais detalhes sobre a pesquisa neste comunicado, em inglês.)

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