Corte de verba dos EUA paralisa pesquisa sobre Chagas no Brasil

A política externa dos Estados Unidos sob Donald Trump bloqueou uma pesquisa sobre a doença de Chagas no Brasil. A Faculdade de Medicina da USP liderava o estudo, financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH). Uma ordem executiva suspendeu os repasses internacionais e interrompeu o projeto. Agora, os cientistas enfrentam incertezas sobre a continuidade do trabalho e o impacto no combate à doença.

A suspensão do financiamento afetou diretamente o pagamento de despesas já realizadas. Equipamentos, testes e até bolsas de pesquisadores ficaram sem garantia de cobertura. Sem esses recursos, a continuidade da pesquisa se tornou incerta.

A doença de Chagas afeta milhões de pessoas na América Latina. No Brasil, o estudo buscava novas formas de diagnóstico e tratamento. Com a interrupção, avanços importantes podem ser adiados. Cientistas temem que a falta de verba comprometa anos de trabalho.

Pesquisa paralisada e futuro incerto

A crise se intensificou quando a cientista Ester Sabino solicitou o pagamento das despesas de janeiro, no valor de US$ 23 mil, e recebeu uma resposta negativa do NIH. O órgão bloqueou a transferência e informou que novas instruções dependeriam do Escritório de Administração e Orçamento (OMB) do governo dos EUA. Como resultado, o projeto ficou sem garantia de continuidade.

Trypanosoma cruzi, parasita causador da doença de Chagas, que pode levar a graves problemas cardíacos se não tratada (Imagem: CDC / Wikimedia Commons / CC BY-NC-ND 2.0)

Além disso, segundo entrevista recente ao Jornal da USP, a pesquisadora alertou que a falta de recursos ameaça diretamente o estudo. A decisão do governo americano impôs uma revisão da eficiência e do alinhamento desses projetos com sua política externa. Com os cortes orçamentários em andamento, o risco de cancelamento definitivo do financiamento aumentou significativamente.

Desde 2013, o projeto Centro São Paulo-Minas Gerais para o Tratamento da Doença de Chagas (SaMI-Trop) conta com apoio do NIH. Após passar por seleções competitivas, garantiu a renovação dos recursos. No entanto, sem esse financiamento, bolsas para pesquisadores, insumos e serviços hospitalares essenciais ficarão comprometidos.

Entendendo a pesquisa

Um dos focos da pesquisa é testar uma nova forma de avaliar o tratamento da doença de Chagas. Os cientistas usam um exame chamado PET-Scan, que cria imagens detalhadas do coração. O objetivo é verificar se o benzonidazol, único remédio disponível, consegue agir logo nos primeiros estágios da infecção. A doença pode levar décadas para apresentar sintomas, o que dificulta o acompanhamento.

Pesquisadores usam PET-Scan para avaliar a eficácia do tratamento da doença de Chagas (Imagem: Maria do Carmo Nunes, UFMG/Divulgação)

Até agora, 75 pacientes fizeram tomografias antes do tratamento, mas apenas 15 foram reavaliados após oito meses. O estudo precisa seguir esse grupo para medir os efeitos do medicamento, mas a falta de verba ameaça essa etapa. Se os exames não forem feitos no prazo certo, os pesquisadores perderão informações essenciais.

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Outro braço do projeto acompanha 1.400 pacientes com Chagas. Eles fazem exames de sangue e eletrocardiogramas para ajudar a entender como a doença evolui e quais fatores influenciam o tratamento.

Metade desse grupo já foi recrutada, mas a incerteza sobre o financiamento coloca tudo em risco. “São estudos únicos no mundo”, ressalta Sabino. “Para uma doença tão pouco pesquisada, o impacto dessa paralisação é enorme.”

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