Há momentos no cinema em que certas histórias deveriam ser deixadas como estão — especialmente quando já funcionam perfeitamente. É claro que novidades são bem-vindas em franquias consagradas, mas alguns elementos deveriam permanecer intocados. Um exemplo claro é o predador, a icônica criatura extraterrestre desenvolvida há mais de 30 anos, cuja essência sempre foi caçar e aterrorizar suas presas.
Predador: Terras Selvagens coloca a figura que dá nome à franquia como protagonista pela primeira vez. A ideia definitivamente parece interessante, mas, da forma em que foi executada, ela não funciona.
O diretor Dan Trachtenberg cuidou bem do personagem nos últimos filmes da franquia, O Predador: A Caçada e Predador: Assassino de Assassinos, mas errou ao assumir o desafio de humanizar o monstro. Afinal, será que ele realmente precisava ser humanizado?
Jornada do herói invertida

Talvez porque conheçamos o monstro como um antagonista monstruoso desde 1987, não era esperado acompanhá-lo em uma “jornada do herói”. Desde o trailer, a humanização do Predador não foi bem recebida — o personagem aparece menor, menos aterrorizante e sem a imponência habitual.
Em Terras Selvagens, acompanhamos Dek, um jovem yautja que busca provar seu valor em uma ilha remota. Lá, ele conhece a androide Thia, interpretada por Elle Fanning, com quem ele forma uma dupla para encarar um mesmo adversário
Com diálogos artificiais, o apoio da personagem de Fanning para despertar uma sensibilidade no protagonista causa desconforto, sendo uma aproximação forçada e com claro intuito de muleta para o desenvolvimento do personagem principal. Um desperdício do talento de Elle Fanning.
Ritmo previsível e classificação indicativa mais leve

Quanto ao ritmo do filme, ele segue a clássica fórmula de filmes de ação, com paralelos entre a narrativa do protagonista e os antagonistas que o procuram. As tentativas de deixar o filme mais divertido, com diálogos engraçados, são bem previsíveis, mas podem tirar risadas do público. As cenas de luta também decepcionam, com coreografias forçadas que não prendem a atenção na tela.
“Não temos nenhum humano no filme, então não há nenhum sangue vermelho”, diz o diretor
Com um predador mais novo e momentos cômicos, o longa recebeu classificação indicativa para maiores de 13 anos, abrindo espaço para um público mais jovem. Em comparação, os filmes anteriores da franquia foram classificados como R (equivalente a +16 no Brasil).
Em entrevista ao IGN, o produtor Ben Rosenblatt explicou a decisão: “Não temos nenhum humano no filme, então não há nenhum sangue vermelho. Nós queríamos tirar vantagem disso. O filme terá a maior quantidade de violência possível dentro dessas limitações, e sentimos que conseguimos criar algumas cenas bem nojentas, mas sem a cor vermelha [do sangue]”.
Uma mudança desnecessária na franquia Predador

Se a intenção era mostrar um predador mais fraco, inexperiente e vulnerável, o objetivo foi alcançado — mas não de forma positiva. Dek é constantemente humilhado pela narrativa, que reforça sua inferioridade repetidamente.
O problema não está apenas na tentativa de torná-lo humano, mas em transformá-lo em um protagonista sem graça e sem impacto. O resultado é um filme que não justifica sua própria existência dentro do legado da franquia.
Se esse fosse o primeiro longa da saga, dificilmente despertaria interesse em suas continuações. Por sorte, o monstro já tem uma reputação consolidada e não deve perder o status de clássico — mas se insistirem nessa abordagem humanizada e enfraquecida, a imagem dos antigos yautjas pode ser comprometida.
Predador: Terras Selvagens tenta reinventar a franquia, mas acaba descaracterizando o monstro clássico. A ideia de dar protagonismo à criatura é interessante, porém a execução falha transforma o terror em uma aventura morna e previsível.
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