Quando o Prime Video anunciou que haveria uma série sobre o “presídio dos famosos”, expectativas foram criadas. A reação imediata pode ser “isso é real? Essas pessoas realmente conviveram?”, seguida por “como ainda não fizeram uma série sobre isso?”. Com as produções de true crime em alta e o audiovisual brasileiro decolando mais uma vez, não existia momento melhor para a série Tremembé ser lançada.
A diferença da produção é que aqui não se fala apenas sobre os crimes, mas do convívio dos criminosos na prisão, com casos que repercutiram em grande escala no Brasil. A ideia de adaptar histórias reais é sempre arriscada, mas muitas vezes é isso que desperta a curiosidade do público. Com casos muito sensíveis, o debate moral sobre transformar essas histórias em produções é inevitável. Afinal, com crimes tão recentes e um excesso de true crime no mercado, Tremembé justifica a sua própria existência?
Convívio na prisão mais famosa do Brasil
O destaque da série é também o seu maior diferencial: o dia a dia dos detentos na prisão. Essa realidade não é familiar para grande parte da população brasileira e, quando algo foge da realidade, é comum que seja esquecido que essas pessoas são humanos. A série mostra que o complexo funcionava muitas vezes como um espaço de convívio usual, como um trabalho, uma escola ou até um lugar de lazer, ou seja: tinha rivalidade, relações amorosas, amizades e intrigas.
Claro, os limites existiam e julgamentos também. Além das regras da própria prisão, é possível ver o tratamento hostil que Anna Carolina Jatobá recebia de outras presas pelo seu crime, mesmo todas também estando lá encarceradas. Tanto na ala feminina quanto na masculina, as próprias regras existiam. Um exemplo interessante é a hierarquia estabelecida, com Sandrão na área feminina e Terremoto na área masculina. Pessoas que não possuíam poder fora do Tremembé, lá eram reis e rainhas.
O complexo penitenciário é um reflexo da sociedade
Por mais que doa admitir, uma série que trata da prisão faz questionar alguns ideais já estabelecidos, tendo pontos positivos e negativos. É possível enxergar o lado humano dos criminosos, o que pode provocar uma empatia não desejada e desnecessária, considerando os crimes cometidos. Sem falar que aqui tratamos de casos reais, as pessoas envolvidas têm acesso a tudo: à série, aos comentários, à repercussão, podendo despertar gatilhos nos envolvidos.
Por outro lado, o roteiro de Tremembé foi desenvolvido com responsabilidade, sendo fiel aos fatos. Nas palavras do roteirista Ullysses Campbell, “os crimes são totalmente baseados nos autos dos processos, a gente seguiu a denúncia que o Ministério Público fez à justiça pela qual eles foram condenados”. Além dos crimes mais famosos, a série expõe discretamente crimes menos conhecidos.
Por mais chocante que a história de Poliana seja, será que ela não provoca uma preocupação mais séria em relação às nossas crianças? E a história de Gal, inspirada em um jovem de 19 anos que matou a mãe depois de ser expulso de casa por ela a pauladas por ser gay? Encarar os fatos reais é bem difícil, não há dúvidas, mas também pode fazer com que a sociedade questione certos comportamentos já consolidados há anos.
Poucos episódios pra muita história
Mesmo que longos (todos com mais de 45 minutos), 5 episódios não parecem o suficiente para desenvolver personagens tão complexos. Por mais que o foco seja o convívio, em alguns momentos é possível sentir uma certa superficialidade nas cenas. Por exemplo, como o crime de Suzane von Richthofen e dos irmãos Cravinhos é retratado apenas no início da série, no quarto episódio ele é quase esquecido, ainda mais com os três vivendo narrativas tão rasas. Interessantes, porém rasas.
Apesar dessa falta de tempo para o desenvolvimento, os atores cumpriram perfeitamente seus papéis. Dos protagonistas aos coadjuvantes, todos entregam performances impecáveis. A caracterização dos personagens principais é um show à parte, sendo até difícil selecionar um favorito. Entretanto, Marina Ruy Barbosa de fato se transformou em Suzane e lembrou ao Brasil que é uma grande atriz. Além disso, a pesquisa de Ulysses e a direção de Vera com certeza compensam no quesito fidelidade ao que acontecia na prisão mais famosa do país.
Tremembé não tira a responsabilidade dos criminosos e deixa claro seu propósito desde o começo: mostrar o que acontecia dentro do presídio dos famosos. Com reproduções dos crimes de forma não gráfica e apenas para dar contexto, não é de se imaginar que alguém aprenderá a cometer um crime apenas pela série, portanto essa não deve ser uma grande preocupação.
Agora, o debate sobre “celebrização” de criminosos é naturalmente levantado aqui: será que nos esquecemos das ações terríveis que essas pessoas cometeram enquanto assistimos atores ex-globais vivendo um triângulo amoroso? Ou será que não deveríamos estar mais preocupados com o fato de um homem vestir uma calçinha ter chocado mais do que o homicídio que ele cometeu?
A sentença desses criminosos na vida real já foi decidida pela justiça. O que fica é a lembrança dessas histórias e a provocação de questionamentos muitas vezes já esquecidos, mas que devem ser feitos para que tragédias como as retratadas na série não se repitam. Nenhum crime do Tremembé deve ser justificado, mas é importante entender que monstros não existem e que ações humanas têm consequências, e talvez esse seja o maior legado da série de sucesso.
Você já assistiu Tremembé? Acredita que as séries de true crime são um benefício ou malefício para a sociedade? Comente nas redes sociais do Minha Série! Estamos no Threads, Instagram, TikTok e até mesmo no WhatsApp. Venha acompanhar filmes e séries com a gente!