O Condado de Morrow, no Oregon (EUA), tem registrado aumentos nas taxas de câncer e abortos espontâneos que podem estar relacionados às atividades de data centers da Amazon na região, de acordo com reportagem da Rolling Stone divulgada na última semana. A empresa contesta as acusações.
Especialistas entrevistados pela revista apontam que o processo de resfriamento das megaestruturas do serviço de computação em nuvem da gigante da tecnologia impulsionaram a concentração de toxinas em um importante aquífero local que fornece água potável para a população. A companhia chegou à área em 2011.
Águas carregadas de nitrato
A região de Morrow conta com diversas fazendas e indústrias de processamento de alimentos que já causavam a contaminação da água. Mas a chegada dos centros de dados da Amazon teria contribuído para elevar a concentração de nitrato usado em fertilizantes na Bacia Inferior de Umatilla de maneira “alarmante”, conforme a publicação.
- Em 1992, o aquífero tinha uma concentração média de nitrato de 9,2 partes por milhão (ppm), número que subiu 46% em 2015, passando para 15,3 ppm;
- Porém, medições recentes apontam que a concentração já chegou a 73 ppm em alguns poços, mais de 10 vezes o limite do estado do Oregon e sete vezes o limite federal;
- O solo arenoso da região e a física também contribuem para a grande quantidade de toxinas na água, junto com a má gestão das águas residuais;
- Utilizando dezenas de milhões de litros de água por ano para resfriar as instalações lotadas de chips e outros equipamentos, os data centers direcionam a água residual para o esgoto.

Dessa forma, uma maior quantidade de água carregada de nitrato tem sobrecarregado a rede local, que já sofria com o enorme volume do escoamento agrícola. Até mesmo as áreas mais profundas do lençol freático estariam contaminadas, segundo o relatório.
Os problemas se agravam quando parte da água contaminada que passa pelas instalações da Amazon se evapora e o nitrato permanece, aumentando sua concentração. A água volta ao esgoto com mais toxinas, chegando às fazendas com até 56 ppm de nitrato e o solo poroso contribuindo para aumentar as toxinas.
Aumento dos casos de câncer e abortos espontâneos
A água potável com níveis elevados de nitratos tem sido apontada como a causa de formas raras de câncer e outras doenças no Oregon. O ex-comissário de Morrow, Jim Doherty, registrou pelo menos 25 abortos espontâneos recentes nas primeiras 30 casas que visitou para uma pesquisa sobre as condições médicas da população.
O levantamento também mostra seis casos de perda de rim entre as pessoas que participaram do estudo. Além disso, ele encontrou um homem que precisou retirar a laringe após ser afetado por um câncer normalmente associado a fumantes — o paciente, no entanto, alega nunca ter fumado.

Compostos químicos com aplicações diversas, os nitratos são frequentemente utilizados como conservantes de alimentos processados e em fertilizantes, pesticidas e herbicidas. Eles também são usados na fabricação de explosivos e na medicina, para o tratamento de doenças cardíacas e outras condições.
Apesar de alguns benefícios, o nitrato pode causar problemas se consumido em excesso, estando associado ao aumento do risco de câncer colorretal. Já a contaminação da água com o composto afeta a capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue, principalmente em bebês.
Amazon contesta acusações
Em resposta enviada à Rolling Stone, a porta-voz da gigante varejista, Lisa Levandowski, disse que as alegações contra a empresa são “enganosas e imprecisas”. De acordo com ela, os problemas com a água da região acontecem desde antes da chegada da Amazon.
Segundo a representante, “agências federais, estaduais e locais passaram anos trabalhando para combater nitratos provenientes de fertilizantes agrícolas, esterco, sistemas sépticos e águas residuais de plantas de processamento de alimentos”. Lisa comentou, ainda, que os nitratos não são utilizados no resfriamento dos data centers.
Ainda conforme a porta-voz, o volume total de água usado e retornado pelas instalações é somente uma “fração muito pequena” do sistema que envolve as fazendas e outras indústrias. Com isso, a big tech acredita que o processo não tem impacto significativo na qualidade da água.
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