Década decisiva: estudo de 1972 se confirma e aponta para colapso social em 2040

Em 1972, o Clube de Roma publicou o estudo “Limits to Growth” (“Limites ao Crescimento“, em tradução literal), que utilizava o modelo computacional World3 para analisar a interação de cinco forças — população, produção industrial, produção de alimentos, uso de recursos e poluição — em um planeta finito.

A principal conclusão era que o caminho do “business as usual” levaria a humanidade a ultrapassar os limites ecológicos, seguido por um declínio dentro do século XXI. Em contrapartida, uma transição administrada, com estabilização populacional, redução do consumo e investimentos em eficiência, poderia garantir equilíbrio entre bem-estar e sustentabilidade.

À época, o estudo foi considerado controverso, mas tornou-se referência nos debates sobre limites planetários e a necessidade de mudança no modelo de crescimento material ilimitado.

Foram analisadas a interação de cinco forças — população, produção industrial, produção de alimentos, uso de recursos e poluição — em um planeta finito (Imagem: Rodrigo Mozelli [gerado com IA – Gemini]/Olhar Digital)

Em 2020, quase cinco décadas depois, a analista de sustentabilidade Gaya Herrington revisitou o modelo World3, comparando seus cenários com dados empíricos recentes sobre população, produção, recursos, poluição, bem-estar e pegada ecológica.

O estudo foi publicado no Journal of Industrial Ecology e, posteriormente, compartilhado pela KPMG, empresa onde Herrington trabalhava.

Quais foram os resultados do novo estudo?

  • Os resultados mostraram que os cenários de 1972 ainda correspondiam “de forma impressionante” à realidade observada;
  • Em especial, o chamado “business as usual” apontava para queda do capital industrial, da produção agrícola e do bem-estar ao longo do século;
  • A análise sugeriu que, sem mudanças de rumo, uma forte recessão econômica poderia começar já nesta década e evoluir para um colapso social em torno de 2040;
  • Herrington enfatizou, porém, que não se tratava de uma previsão fatalista, mas de um alerta sobre o comportamento estrutural do sistema quando o crescimento segue como objetivo principal;
  • Sua conclusão foi clara: manter o crescimento econômico ilimitado é inviável, mesmo com avanços tecnológicos sem precedentes, aponta o Interesting Engineering.

Em 2022, Herrington publicou uma reflexão intitulada “What a 50-year-old world model tells us about a way forward today” (“O que um modelo mundial de 50 anos nos diz sobre o caminho a seguir hoje“, em tradução literal). Nela, destacou que os dados empíricos ainda se alinhavam a múltiplos cenários do World3 e que, a partir de 2020, começaria a ocorrer divergência significativa entre possíveis futuros.

O cenário mais promissor seria o “Mundo Estabilizado” (Stabilized World), em que a sociedade substitui a busca por crescimento industrial por metas de eficiência de recursos, redução da poluição e investimentos em saúde e educação. Embora os dados se afastassem mais desse cenário, Herrington avaliou que ainda havia possibilidade de alcançá-lo, definindo a década atual como uma janela decisiva para mudar de direção.

Chamado “business as usual” aponta para queda do capital industrial, da produção agrícola e do bem-estar ao longo do século (Imagem: Rodrigo Mozelli [gerado com IA – Gemini]/Olhar Digital)

Paralelamente, outro grupo de pesquisadores, liderado por Nebel e colegas, recalibrou o modelo World3 com dados atualizados, aproveitando maior poder computacional e bases empíricas mais ricas. O estudo, também publicado no Journal of Industrial Ecology, concluiu que, mesmo com parâmetros mais precisos, o sistema continuava a indicar a dinâmica de “ultrapassagem e colapso”.

O ajuste mostrou queda da produção industrial a partir de meados da década de 2020, redução populacional a partir dos anos 2030 e pico da produção de alimentos no presente. O modelo ainda sugeriu que a poluição persistente tende a se acumular mais do que previsto inicialmente, gerando impactos de longa duração.

De acordo com análises posteriores de Joachim Klement e Andrew Curry, a curva de “desenvolvimento humano” gerada pelo modelo indica que o mundo estaria próximo de um pico global, com tendência de declínio nas próximas décadas.

Os autores do estudo alertaram que os mecanismos de retroalimentação podem se reorganizar em um cenário de contração, tornando o futuro diferente das linhas exatas do modelo, mas mantendo o risco de declínio interligado de produção, alimentos e bem-estar entre 2024 e 2030.

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1972 nunca foi tão atual

A síntese das pesquisas indica que o modelo de 1972 ainda descreve a estrutura da situação atual. A repetida conclusão é que o crescimento econômico ilimitado conduz a desequilíbrios e colapsos, enquanto a adoção de novos objetivos — eficiência, controle da poluição e investimentos sociais — pode redirecionar o sistema para a resiliência.

Para Herrington, o “Mundo Estabilizado” não é uma utopia, mas um caminho possível se houver decisão política e social para abandonar o crescimento como princípio organizador.

Ainda há tempo para evitar o colapso, mas a janela é estreita e exige ação imediata nesta década decisiva (Imagem: Rodrigo Mozelli [gerado com IA – Gemini]/Olhar Digital)

As pesquisas reforçam que a tecnologia tem papel crucial, mas não suficiente. Sem mudança de objetivos, avanços tecnológicos apenas aumentam os picos e, consequentemente, a severidade das quedas. O recado final é que ainda há tempo para evitar o colapso, mas a janela é estreita e exige ação imediata nesta década decisiva.

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