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Dois sóis e três Terras: o sistema que desafia o que sabemos sobre planetas

by Fesouza
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Três planetas do tamanho da Terra foram encontrados orbitando duas estrelas pequenas e frias a cerca de 190 anos-luz daqui. A descoberta, feita por uma equipe internacional, desafia o que se sabia sobre a formação de mundos. Trata-se de um sistema binário tão compacto e estável que não deveria existir. Mas existe.

O sistema, batizado de TOI-2267, é o primeiro a ser observado com planetas transitando em torno de ambas as estrelas. Além de quebrar recordes, ele oferece aos cientistas um “laboratório natural” para entender como planetas rochosos podem surgir e sobreviver em ambientes onde a gravidade deveria torná-los instáveis.

Sistema descoberto por astrônomos é ‘laboratório natural’ entre duas estrelas

A descoberta, publicada na revista Astronomy & Astrophysics, foi conduzida por pesquisadores da Universidade de Liège (Bélgica) e do Instituto de Astrofísica da Andaluzia (Espanha)

A pesquisa usou dados do telescópio espacial TESS, da NASA, e observações terrestres dos telescópios SPECULOOS e TRAPPIST, também operados pela equipe belga. 

O achado reforça o valor da integração entre missões espaciais e observatórios de solo, mostrando que até sistemas antes considerados caóticos podem abrigar mundos estáveis. E que o Universo parece gostar de contrariar as próprias regras.

Um sistema improvável

O TOI-2267 é formado por duas estrelas frias e pequenas, separadas por cerca de 1,2 bilhão de quilômetros – menos que a distância entre Saturno e o Sol. 

Ilustração de exoplaneta parecido com a Terra perto de estrela parecida com o Sol
Um dos exoplanetas descobertos pelos astrônomos circula uma das estrelas de um sistema binário (Imagem: Nazarii_Neshcherenskyi/Shutterstock)

Mesmo nesse espaço apertado, astrônomos detectaram três exoplanetas do tamanho da Terra. Dois orbitam uma das estrelas, enquanto o terceiro circula sua companheira. Essa configuração, que parecia impossível de sustentar, mostrou-se surpreendentemente estável e coerente.

O achado é inédito. É a primeira vez que trânsitos planetários são observados em torno das duas estrelas de um mesmo sistema binário. Além disso, TOI-2267 é o par estelar com planetas mais frio e mais compacto já conhecido. 

Em um cosmos acostumado a romper expectativas, o sistema mostra que até os ambientes mais turbulentos podem abrigar mundos consistentes. E que as leis da formação planetária ainda estão longe de serem totalmente compreendidas.

Um desafio à teoria da formação planetária

Por muito tempo, os modelos clássicos da astrofísica sustentaram que sistemas binários compactos eram lugares caóticos demais para que planetas se formassem – e muito menos sobrevivessem por bilhões de anos. 

A gravidade combinada de duas estrelas próximas tenderia a desestabilizar qualquer órbita, o que arremessaria mundos recém-nascidos para fora do sistema. 

Dois sóis e três Terras: o sistema que desafia o que sabemos sobre planetas
Sistema TOI-2267 desafia uma das hipóteses mais aceitas sobre a formação de planetas em sistemas binários compactos (Imagem: Brunohitam/Shutterstock)

O TOI-2267, no entanto, derruba essa hipótese ao mostrar três planetas firmes e alinhados em torno de um par estelar que gira em estreita parceria.

Para os pesquisadores, o achado obriga a revisitar as bases da teoria de formação planetária, originalmente moldada a partir do equilíbrio solar. 

“Descobrir três planetas do tamanho da Terra num sistema binário compacto é uma oportunidade única para testar os limites dos modelos de formação”, afirmou Sebastián Zúñiga-Fernández, da Universidade de Liège, em comunicado

O estudo aponta que discos de gás e poeira podem se estabilizar mesmo em ambientes gravitacionalmente turbulentos. E que o Universo pode ser mais engenhoso do que se supunha.

Além de contrariar expectativas, o sistema amplia o leque de “arquiteturas planetárias” conhecidas – isto é, as formas possíveis de organização de estrelas e planetas. 

Em vez de seguir o padrão do Sistema Solar (uma única estrela central cercada por planetas bem espaçados), o TOI-2267 mostra que a natureza pode montar mundos em configurações muito mais ousadas.

Cada novo caso como este ajuda a recalibrar os modelos usados para explicar onde e como planetas como a Terra podem surgir.

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O que vem pela frente

A equipe pretende agora usar o Telescópio Espacial James Webb (JWST) e observatórios terrestres para medir massa, densidade e composição atmosférica dos três planetas. 

Essas informações vão ajudar a determinar se eles são rochosos, como a Terra, ou compostos principalmente de gás e gelo. Também poderão revelar se algum deles reúne condições mínimas de habitabilidade, embora ainda seja cedo para afirmar qualquer coisa sobre presença de água ou atmosfera.

Mais do que procurar sinais de vida, o objetivo dos astrônomos é entender como mundos tão estáveis conseguiram se formar num sistema duplo tão compacto. 

“Este sistema é um verdadeiro laboratório natural para compreender como planetas rochosos podem emergir e sobreviver em condições dinâmicas extremas”, resume Francisco Pozuelos, coautor do estudo e pesquisador do Instituto de Astrofísica da Andaluzia. 

A descoberta reforça que, no Universo, planetas podem prosperar até nos cenários mais improváveis.

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