Um dos principais nomes do Universo Cinematográfico da Marvel, o herói Homem de Ferro, alter-ego de Tony Stark vivido por Robert Downey Jr, ganhou o coração de muitos fãs com seu estilo de gênio, bilionário, playboy e filantropo. Mas e se ele realmente não tivesse uma armadura e grana de sobra para manter esse hobbie de salvar pessoas?
Essa é a premissa maluca, e ao mesmo tempo fascinante, de Dispatch, jogo de estreia da Adhoc Studio. Enquanto talvez você não conheça eles por nome, com certeza já deu de cara com algum dos seus trabalhos: o estúdio é formado por ex-desenvolvedores da Telltale Games, responsáveis por clássicos como The Wolf Among Us e Tales from the Borderlands.
Nos dois primeiros capítulos, que jogamos no PC com uma chave cedida pela desenvolvedora, ficou claro que Dispatch tem um potencial enorme para quem gosta de histórias interativas cheias de escolhas e bom humor. A proposta mistura o caos da vida de um super-herói com a rotina de um escritório — e o resultado é uma comédia de super-heróis que surpreende pela criatividade e pelo coração.
Além da narrativa cativante, Dispatch ainda combina estratégia, decisões morais e gerenciamento de equipe, em uma estrutura episódica com lançamento semanal. É uma mistura de Telltale com Two Point Hospital e um toque de The Office, tudo temperado com ironia e drama heroico.
Confira mais detalhes a seguir, na análise prévia realizada com os dois primeiros episódios do jogo.
Mais um mundo de super-heróis
Nos primeiros dois capítulos, Dispatch mostra que ainda existe espaço para fazer ótimas histórias de super-heróis. A premissa da história é simples, mas conversa diretamente com o público que cresceu acompanhando o MCU: e se o Homem de Ferro fosse pobre e burro?
A trama acompanha Robert Robertson, também conhecido como Mecha Man, que tenta carregar o legado heroico deixado por seu pai e seu avô. Mas, após uma emboscada devastadora, sua armadura é destruída de forma irreparável. Sem dinheiro e sem conhecimento técnico para consertar o traje, Robert vê sua vida como herói desmoronar — e a única saída é se aposentar.
É nesse ponto que a narrativa dá uma virada criativa. Sem alternativa, Robert acaba sendo contratado como coordenador em uma empresa de serviços heroicos, assumindo uma divisão formada apenas por ex-vilões em reabilitação. O contraste entre o heroísmo idealizado e a dura realidade do “trabalho de escritório” cria situações cômicas e, ao mesmo tempo, cheias de humanidade.
O mais interessante é que o jogo realmente faz o jogador sentir-se como um “CLT num mundo de superpoderes”. Mesmo sem dons especiais, você precisa lidar com dilemas éticos, personalidades explosivas e heróis com moral duvidosa. É uma abordagem original, que transforma a rotina corporativa em palco para discussões sobre poder, responsabilidade e redenção.
Uma coisa é fato: estamos vivendo no auge das histórias de super-heróis, com décadas de MCU, o renascimento do DCU e o universos caóticos como The Boys e Invencível no Prime Video. Ainda assim, visitar o mundo de Dispatch foi bem interessante, pois a narrativa é bem contada e o gameplay pode te fisgar.
Gameplay mistura estratégia e narrativa interativa
Como a Adhoc Studio é formada por veteranos da Telltale, o grande destaque de Dispatch está na narrativa guiada por escolhas. A todo momento, você está tomando decisões que prometem ter consequências — e, embora os dois primeiros capítulos não revelem todo o impacto dessas escolhas, já dá pra sentir o DNA da Telltale pulsando forte aqui.
Há novidades interessantes também: o jogador pode, por exemplo, pular quick time events durante cenas, caso prefira focar na história. O sistema de decisão também é fluido e orgânico, e o humor ácido do roteiro faz com que cada conversa no escritório soe natural, mesmo nas situações mais absurdas.
Mas o gameplay vai além das escolhas. Quando não está em meio a diálogos, o jogador atua como um verdadeiro operador de telemarketing de super-heróis. Através de uma interface de mapa, você recebe chamados de emergência e precisa enviar o herói certo para cada missão, equilibrando riscos, atributos e até a energia da equipe.
As ocorrências são variadas e hilárias: salvar um gato preso em uma árvore, participar de palestras em escolas ou até enfrentar supervilões em batalhas caóticas. Cada missão tem um índice de sucesso determinado pelos atributos do herói — inteligência, força, carisma e outros. Ou seja, enviar o personagem errado pode gerar resultados desastrosos, o que também pode afetar a narrativa.
Além disso, há um sistema de upgrades que permite evoluir seus heróis, melhorando seus talentos e desbloqueando novas habilidades. O gerenciamento é essencial: heróis cansam, se machucam e precisam descansar entre as missões.
A experiência também inclui minigames de hack, que exigem memorização e lógica para desbloquear portas ou acessar câmeras, por exemplo. Um toque extra interessante para dar mais variedade ao gameplay.
Essa mistura de estratégia com narrativa interativa cria uma experiência dinâmica e viciante. É o combo perfeito para quem gosta de jogos com foco em história, mas não abre mão de um toque de estratégia.
Destaco também que o jogo é bem leve de rodar, funcionando tanto no Steam Deck quanto em PCs mais antigos — rodei sem problemas em uma GTX 1050 aqui, por exemplo.
Elenco carismático e cheio de estrelas
Outro grande destaque de Dispatch é seu elenco de vozes, que impressiona tanto quanto a premissa do jogo. A Adhoc reuniu nomes lendários da TV, dos games e até da internet para dar vida a personagens cativantes, excêntricos e cheios de personalidade.
O protagonista Robert Robertson / Mecha Man é interpretado por Aaron Paul, o inesquecível Jesse Pinkman de Breaking Bad, que entrega uma performance marcante e cheia de nuances. Ao lado dele, um verdadeiro “dream team” de dubladores e atores completa o elenco, incluindo a galera da Critical Role, que é bem popular no mundo dos games.
- Aaron Paul (Breaking Bad, Westworld, Black Mirror)
- Laura Bailey (The Legend of Vox Machina, The Last of Us II, Marvel’s Spider-Man)
- Erin Yvette (Hades II, The Wolf Among Us, Armored Core VI)
- Jacksepticeye (Sonic Prime, River City Girls, Bendy and the Ink Machine)
- Travis Willingham (Critical Role, The Legend of Vox Machina, Lego Avengers)
- Alanah Pearce (Cyberpunk 2077, Gears 5, V/H/S Beyond)
- Lance Cantstopolis (Karate, Dancing, Actor)
- Joel Haver (Cineasta e YouTuber)
- THOT SQUAD (Músico: Pound Cake, Hoes Depressed)
- Matthew Mercer (Critical Role, Overwatch, Resident Evil 6)
- Jeffrey Wright (The Batman, Casino Royale, American Fiction)
A inclusão de nomes experientes como Jeffrey Wright é um baita diferencial para o game, que, felizmente, conta com legendas em português brasileiro. Assim, toda a experiência de gameplay lembra muito a vibe de assistir uma série de TV, mas com você tomando as decisões.
O que pode desagradar no jogo?
Enquanto Dispatch entrega um ótimo pacote dentro de sua proposta, é importante ressaltar que o jogo claramente não é para todos. Estamos falando de um título focado em narrativa, com pouquíssima ação, em formato episódico semanal. Os capítulos também não são muito longos, o que torna a experiência inicial relativamente curta.
Além disso, o gameplay de estratégia pode afastar parte do público que busca apenas uma experiência narrativa linear. O gerenciamento de recursos e heróis exige atenção, e nem todos os jogadores vão se encantar com essa camada tática.
Por outro lado, para quem gosta de desafios leves e decisões com peso narrativo, esses elementos só tornam a experiência mais rica e imprevisível. Mesmo com suas limitações, o game acerta em cheio na proposta de ser uma comédia de super-heróis sobre fracasso, burocracia e segundas chances.
Vale a pena jogar Dispatch?
Se você sente saudade dos jogos da Telltale, Dispatch é praticamente obrigatório. Em seus dois primeiros episódios, o jogo já mostra potencial, carisma e uma escrita afiada, equilibrando humor, drama e estratégia com uma leveza rara no gênero.
A Adhoc Studio conseguiu unir o melhor dos dois mundos: o coração narrativo de The Wolf Among Us com o frescor de uma comédia moderna sobre super-heróis falidos. E se o restante da temporada mantiver o mesmo ritmo dos capítulos iniciais, podemos estar diante de uma das melhores experiências narrativas de 2025.
Dispatch será lançado no PS5 e PC em 22 de outubro, com episódios chegando semanalmente com o seguinte calendário:
- Episódios 1 e 2 – 22 de outubro
- Episódios 3 e 4 – 29 de outubro
- Episódios 5 e 6 – 5 de novembro
- Episódios 7 e 8 – 12 de novembro
O game também possui uma demonstração grátis disponível na Steam, que é altamente recomendável para quem está interessado no jogo, mas tem dúvidas sobre o gameplay.
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