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Enigma de 30 anos da CIA é solucionado e coloca mais de R$ 2,5 milhões em risco

by Fesouza
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Por mais de três décadas, Kryptos, a enigmática escultura de cobre que habita o pátio da sede da CIA em Langley, Virgínia, desafiou alguns dos melhores decifradores de códigos do mundo. Suas quatro mensagens cifradas tornaram-se um dos mistérios criptográficos mais famosos do planeta. Três foram resolvidas. A quarta e última, conhecida como K4, resistiu ao tempo. Agora, o segredo foi descoberto, não por meio de supercomputadores ou matemática, mas por uma busca meticulosa em arquivos públicos – uma reviravolta que ameaça um leilão planejado pelo artista para a solução, avaliada em até meio milhão de dólares (mais de R$ 2,5 milhões em conversão direta). A história é do The New York Times.

O escultor Jim Sanborn, de 79 anos, estava nos estágios finais de preparação para o leilão da solução e de outros artefactos relacionados à Kryptos. A receita, ele disse, seria usada para despesas médicas e para financiar programas para pessoas com deficiências. Tudo parecia correr conforme o plano até 3 de setembro, quando Sanborn abriu seu e-mail e se deparou com a mensagem que temia: o texto completo e decifrado da passagem K4.

Segredo histórico revelado

Os autores do e-mail foram Jarett Kobek, um romancista e jornalista da Califórnia, e Richard Byrne, um jornalista e dramaturgo baseado em Washington. A descoberta deles foi um golpe de sorte e de “inteligência de código aberto” aplicada a documentos de biblioteca.

Kryptos
Kryptos na sede da CIA (Imagem: Jim Sanborn/CC BY-SA 3.0)

A chave estava nos próprios papéis de Sanborn, doados ao Arquivo de Arte Americana do Smithsonian há cerca de uma década. Kobek, um entusiasta de longa data de Kryptos, viu no anúncio do leilão uma menção a “gráficos de codificação” cujos originais estavam no Smithsonian. Ele pediu a Byrne, seu amigo em Washington, que fosse até o arquivo.

Em 2 de setembro, Byrne passou horas fotografando documentos. Naquela noite, Kobek, examinando as imagens, deparou-se com recortes de papel, alguns unidos por fita amarelada. “Ei — isso diz ‘BERLIN CLOCK’!”, ele percebeu, referindo-se a uma pista pública que Sanborn havia lançado anos antes. Outro recorte continha “EAST NORTHEAST”, outra pista conhecida. Eles montaram os fragmentos e, para seu choque, tinham diante de si os 97 caracteres do texto original não codificado de K4.

“Este é um problema que todos atacavam como um problema de STEM”, disse Kobek, referindo-se à ciência, tecnologia, engenharia e matemática. “A ciência criptográfica não pôde resolver Kryptos — mas a biblioteconomia pôde.”

Leilão do Kryptos em risco

Eles contataram Sanborn, esperando encontrar uma forma de proceder sem prejudicar o leilão. A conversa inicial foi cordial, com Sanborn confirmando que eles haviam descoberto o segredo. No entanto, o tom mudou. Kobek e Byrne alegam que Sanborn posteriormente sugeriu que eles assinassem acordos de confidencialidade (NDAs) e, em troca do silêncio, receberiam uma parte dos lucros do leilão.

A proposta foi um “não-iniciante” para os dois jornalistas. “É uma linha vermelha completa”, disse Byrne. “Não vai acontecer.” Eles temiam que isso os tornasse cúmplices de uma fraude perante os licitantes.

Sanborn, em entrevista, explicou que os recortes de papel eram anotações originais que ele havia compartilhado com a CIA e que foram incluídas por engano na doação ao Smithsonian durante um período de tratamento contra um câncer metastático. “Eu não tinha certeza de quanto tempo eu estaria por aqui e reuni às pressas todos os meus papéis”, disse ele, expressando choque ao perceber o erro.

Smithsonian
Smithsonian (Imagem: Felix Mizioznikov/Shutterstock)

O impasse se aprofundou. Preocupado, Sanborn conseguiu que o Smithsonian restringisse o acesso aos seus documentos até 2075. Paralelamente, os advogados da casa de leilões, a RR Auction, enviaram uma carta a Kobek e Byrne ameaçando ações legais por violação de direitos autorais e interferência contratual se eles publicassem o texto. A carta também tentou apelar para o seu ego, sugerindo que seriam vistos como “heróis” se mantivessem o silêncio.

Os dois homens contrataram advogados e afirmam não ter planos de revelar a solução, mas também se recusam a assinar um acordo legal que os obrigue a ficarem calados. Eles carregam o fardo de um segredo que pode val meio milhão de dólares.

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A RR Auction divulgou em seu site que a solução foi encontrada, uma medida que especialistas do mercado de arte consideram a mais prudente. Thomas C. Danziger, um advogado do ramo, pondera sobre o impacto no valor. “O segredo está sendo despedaçado diante dos olhos do mundo. Isso significa que tem menos valor? Ou mais valor? Eu não sei.”

Para os puristas, como Elonka Dunin, que administra uma grande comunidade online de fãs de Kryptos, a verdadeira magia está no método, não apenas na resposta. “Se eles não têm o método”, ela disse, “não está resolvido.”

Enquanto os lances estão programados para começar, o legado de Kryptos entra em um novo capítulo. O que era um quebra-cabeça puramente criptográfico transformou-se em um drama sobre o valor de um segredo, a ética da descoberta e as consequências imprevistas de se guardar os papéis no lugar errado.

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