No cenário corporativo atual, marcado por rupturas tecnológicas, transformações aceleradas e consumidores cada vez mais imprevisíveis, errar rápido deixou de ser tabu e passou a ser tática. Mas o verdadeiro salto de mentalidade está acontecendo além da velocidade.
O novo C-Level entende que não basta falhar depressa, é preciso aprender depressa, e com precisão. E isso só é possível quando os dados se tornam protagonistas da tomada de decisão. Quando cada falha deixa de ser um buraco no caminho e passa a ser um ponto de leitura do terreno.
A máxima “fail fast, learn faster”, que nasceu nos ecossistemas de startups do Vale do Silício, se infiltrou no vocabulário das grandes empresas como uma forma de contornar a rigidez paralisante das estruturas tradicionais. Mas a verdade é que muitas organizações se apegaram ao “errar rápido” e esqueceram do “aprender melhor”. Resultado? Repetem falhas sem refinamento, multiplicam erros sem inteligência, vestindo a falha como se fosse um troféu de inovação.

E, na verdade, o valor só nasce da correção embasada. Segundo estudo da McKinsey, organizações que combinam experimentação ágil com analytics estruturado têm 2,5 vezes mais chances de se destacar no mercado. Ou seja, testar é apenas metade da equação. A outra metade está em como se interpreta, se aprende e se age a partir do que se mediu.
É nesse ponto que se desenha a nova fronteira da liderança: dados não são mais um suporte para justificar decisões, são o próprio fundamento das escolhas relevantes. A era do instinto como principal ativo do líder está chegando ao fim. Não porque o instinto não tenha valor, mas porque, em um mundo de alta complexidade, ele não basta.
Um estudo da CB Insights apontou que 42% das startups falham porque não resolvem um problema real do cliente, ou seja, testaram ideias, mas ignoraram os sinais do mercado. Erraram rápido, sim, mas sem usar os dados como bússola, falharam onde poderiam ter se reinventado.
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Do erro à evidência: a diferença entre arriscar e evoluir
Casos como o da Netflix ilustram com clareza essa virada estratégica. Ao perceber que o modelo de entrega de DVDs estava perdendo tração, a empresa não apostou em uma intuição qualquer. Ela mergulhou nos dados de comportamento dos usuários, analisou tendências de consumo e fez tudo com base em evidências.

Não foi apenas a percepção de uma queda na demanda que motivou a mudança para o streaming, mas sim uma combinação de métricas detalhadas: tempo médio de visualização, preferências de gênero, padrões de devolução de DVDs e até sugestões não atendidas em suas buscas. Com isso, a Netflix não só antecipou o movimento de mercado, ela o moldou.
Empresas que aspiram a inovação sustentável precisam se espelhar nesse modelo. A Netflix não teve sucesso apenas porque foi ágil, mas porque sua agilidade foi guiada por evidências concretas e não por achismos. Essa é a diferença entre correr no escuro e correr com um mapa detalhado em mãos. Em vez de se deixarem levar por tendências efêmeras ou por decisões baseadas em hierarquia e opinião, as organizações devem cultivar uma cultura onde os dados não são apenas coletados, mas também interpretados, compartilhados e transformados em ação.
Não à toa, empresas como Amazon, Spotify, Mercado Livre e Nubank construíram seus diferenciais competitivos sobre uma infraestrutura robusta de dados, testes e validação contínua. Elas sabem que a intuição tem prazo de validade. E que o mercado pune a teimosia analógica em um mundo digital.

Porque, no fim das contas, errar rápido reduz o custo da falha, mas é corrigir com dados que aumenta o valor do acerto. A mentalidade vencedora não é aquela que glorifica o risco, mas a que sabe medi-lo, reduzi-lo e extrair dele informação estratégica.
A liderança do século XXI não é feita de certezas absolutas, mas de sistemas de aprendizagem em tempo real. O líder não é mais o que sabe tudo, é o que sabe perguntar melhor, medir com mais exatidão e agir com base em sinais, não em suposições.
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