Mesmo cercados por ferramentas poderosas, especialistas em inteligência artificial estão deixando de automatizar tarefas básicas do dia a dia. Engenheiros e pesquisadores preferem escrever e-mails na raça, anotar encontros no papel e até esboçar apresentações à mão.
Segundo o The Wall Street Journal, essa escolha revela como eles enxergam os limites práticos — e até estratégicos — do uso de bots.

Um cotidiano surpreendentemente analógico
É fácil imaginar que quem trabalha com IA vive cercado de sistemas automatizados, como se estivesse em um episódio de uma série de ficção cientifica. Mas a realidade é bem diferente. A engenheira Stella Dong, cofundadora da Reinsurance Analytics, escreve todos os seus e-mails do zero. “Não confio na IA para redigir textos sozinha”, afirma.
Mesmo usando o Copilot para revisar textos, ela prefere escrever seus próprios rascunhos. “Ninguém sabe exatamente o que quero dizer melhor do que eu mesma”, diz. O mesmo vale para sua agenda: Dong evita assistentes digitais e adiciona compromissos manualmente, porque isso a ajuda a realmente memorizar o que precisa fazer. Quando não dá conta, pede ajuda ao sócio… humano, claro.

Por que tanta IA… e tanta caneta?
Essa postura tem muito a ver com uma visão realista sobre a automação. Um relatório do McKinsey Global Institute estima que a tecnologia atual poderia executar 57% das horas de trabalho das pessoas, mas alerta que automatizar nem sempre é a melhor escolha.
À medida que redesenhamos o trabalho e os empregos, você pode optar por não maximizar o que um agente de IA ou robô faz”.
Lareina Yee, sócia sênior e diretora do McKinsey Global Institute, ao WSJ.
Yee observa que empresas podem limitar o uso de bots de propósito, garantindo que funcionários juniores aprendam tarefas essenciais antes de delegá-las à IA. E, em nível pessoal, fazer algumas atividades manualmente pode servir para descansar o cérebro ou manter uma rotina mais equilibrada — sem aquela pressão constante por produtividade máxima.

Pensar com as mãos
Essa lógica se reflete nos jovens pesquisadores. Ziyi Liu, estagiária de pesquisa em IA na Microsoft e doutoranda na USC, ignora completamente as transcrições automáticas de reuniões e escreve tudo à mão. Para ela, isso mantém o controle total do processo e se inspira em um mentor que produzia atas detalhadas. “Escrever manualmente ajuda a memorizar e mostra que você está realmente prestando atenção”, diz.
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Mesmo começando no papel, as ideias podem ser refinadas com IA, usando ferramentas como Claude ou ChatGPT. No fim das contas, resta uma reflexão: será que estamos realmente usando a IA para facilitar a vida ou só seguimos a onda do momento?
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