A semana que passou foi marcada por paradoxos e sinais contraditórios. O estopim veio de um estudo polêmico do MIT, que afirmou que 95% das empresas não conseguem mensurar retorno (ROI) em seus projetos de IA generativa. A leitura negativa repercutiu imediatamente nos mercados: na terça-feira, o Nasdaq caiu 1,4%, sua maior retração diária desde 1º de agosto. Entre as empresas mais associadas ao setor, Nvidia recuou 3%, Palantir 9%, Arm 5%, enquanto a SoftBank desabou 9% em Tóquio.
Na mesma linha, Sam Altman, CEO da OpenAI, declarou que o momento atual lembra a bolha da internet dos anos 2000 e alertou que “alguém vai perder uma quantidade fenomenal de dinheiro”. Mas, em um gesto quase contraditório, o próprio Altman reafirmou os planos da OpenAI de investir trilhões em infraestrutura de data centers. A mensagem foi clara: bolha ou não, a corrida segue em ritmo acelerado.
O debate sobre o relatório do MIT
Apesar do impacto inicial, especialistas rapidamente questionaram o estudo. Muitos argumentam que o relatório mistura métricas de projetos-piloto — naturalmente com ROI baixo no curto prazo — com iniciativas estratégicas de longo prazo. Essa leitura, dizem, distorce a realidade.
Casos corporativos em áreas como cadeias de suprimento, manutenção preditiva e personalização em saúde exigem tempo para amadurecer, mas podem gerar ganhos transformadores. Além disso, indicadores tradicionais como payback não capturam benefícios menos tangíveis, mas altamente relevantes: resiliência, escalabilidade modular e até a criação de novos modelos de negócio. Para os críticos, a visão “fotográfica” do MIT subestima o impacto estrutural da IA.
Do pessimismo ao otimismo em poucos dias
Se na terça o clima era de tensão, na sexta-feira o cenário já havia mudado. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, adotou um tom mais dovish em Jackson Hole e reacendeu as apostas em cortes de juros. O efeito foi imediato: o Dow Jones bateu recorde, o S&P 500 fechou a semana em alta de 1,5% e o Nasdaq recuperou as perdas. Uma lembrança de que, apesar da volatilidade, o entusiasmo com a IA segue firme.
Mercado privado segue ativo
Enquanto os mercados públicos reagiam às manchetes, o setor privado manteve o ritmo. A Manus, vista como uma potencial concorrente da OpenAI, atingiu US$ 90 milhões em receita anualizada. Já a DeepSeek lançou a versão 3.1 de seu modelo “open-weight, non-thinking”, projetado para reduzir custos de inferência. O movimento revela uma diversidade crescente de abordagens, com empreendedores apostando em eficiência, acessibilidade e novos caminhos de escala.
Volátil por natureza
Os últimos dias reforçaram uma lição clara: o mercado de IA é volátil por natureza. O ROI de curto prazo ainda é incerto, e os sinais de excesso continuarão alimentando ceticismo. Mas, por trás do ruído, os investimentos em infraestrutura, a ambição dos fundadores e a velocidade das inovações mantêm a transformação em curso.
Bolha ou não, a revolução da inteligência artificial está apenas começando — e a história principal ainda está sendo escrita.