Um dos equipamentos de uso médico mais tradicionais da área está em fase de transformação com ajuda da inteligência artificial (IA). Pesquisadores do Imperial College London e de um fundo mantido pelo sistema de saúde público do Reino Unido (NHS) estão testando um novo estetoscópio que ajuda até em diagnósticos.
O projeto se chama TRICORDER e está em fase experimental em clínicas desde 2023, com os primeiros resultados estruturais e práticos publicados em um artigo neste ano. Ainda que não sejam definitivos, os dados encontrados na primeira bateria de testes são animadores e podem melhorar consultas em emergências ou até de rotina.
Ao trazer uma nova forma de apoio a profissionais da área da saúde e não a substituição de funcionários, o estudo vai contra resultados que indicam piora na detecção de câncer por médicos que se tornaram “dependentes” de IA, por exemplo.
Como o estetoscópio com IA pode salvar vidas
A ideia é que o aparelho auxilie médicos generalistas a detectar certas condições cardíacas ainda em estágios iniciais ou antes de um incidente mais grave — algo que só seria possível até então com exames mais complexos, demorados e que nem sempre são solicitados em uma primeira consulta.
- O equipamento se parece bastante com um estetoscópio convencional e não deixa de funcionar exatamente como esses modelos. Porém, a extremidade que entra em contato com a pele do paciente tem uma estrutura diferente (e, em algumas variantes usadas nos testes, até um visor no lado oposto para exibir informações detalhadas da medição);
- Com um microfone e um sensor que realiza o eletrocardiograma na hora, ele capta e envia dados para um servidor privado na nuvem, onde eles são avaliados por um algoritmo treinado com diagnósticos parecidos de problemas cardíacos;
- Caso alguma possível irregularidade nos batimento seja detectada, um dispositivo móvel pareado via Bluetooth (como um smartphone, por exemplo) exibe o aviso e indica qual foi a informação que gerou o alerta. Todo o procedimento leva cerca de 15 segundos;
- Nos testes realizados pela equipe, o estetoscópio foi adotado caso o paciente relatasse um entre três sintomas: fadiga, dificuldade para respirar ou formigamento nos pés e pernas, sinais possíveis de problemas de circulação ou no coração;
- O objetivo da pesquisa foi comparar o desempenho no diagnóstico do aparelho para condições como insuficiência cardíaca, arritmia por fibrilação atrial e doenças que afetem as válvulas do coração;
Pontos positivos e negativos
O estudo envolveu mais de 12 mil pacientes, sem contar o grupo controle usado como comparativo. Nas pessoas examinadas com o estetoscópio com IA, havia 3,5 vezes mais chances de um diagnóstico na hora de fibrilação atrial (um sintoma que pode indicar até a proximidade de um AVC) e duas vezes mais chances de detecção de doenças nas válvulas do que o uso de um estetoscópio comum.
Na pesquisa, todos os pacientes identificados com um possível problema foram encaminhados para exames de sangue e outras avaliações do coração. Porém, o projeto encarou uma série de limitações — como médicos parando de adotar o equipamento depois de alguns meses de uso.
Além disso, os pesquisadores notaram que dois terços das pessoas que tinham suspeita de insuficiência cardíaca na verdade não apresentaram essa condição depois de testes mais precisos. Isso reforça que, ao menos por enquanto, esse tipo de aparelho só deve ser usado em casos onde já há a suspeita de uma condição para evitar o estresse do paciente e exames desnecessários.
Interessado em saber mais sobre IAs que já são realidade na área da saúde? Leia esse artigo produzido pelo TecMundo!