Observações do Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, revelam que Earendel, a estrela mais distante conhecida, pode não ser realmente uma estrela.
Pesquisadores sugerem que o objeto, na verdade, seria um aglomerado estelar, um grupo de estrelas unidas gravitacionalmente na mesma nuvem de gás e poeira. Se confirmado, isso muda nossa compreensão sobre como estrelas e aglomerados se formaram nos primeiros bilhões de anos do Universo.
Em resumo:
- Medições do James Webb sugerem que Earendel pode não ser uma estrela única;
- Novo estudo propõe que o objeto seria um aglomerado estelar distante;
- Dados espectrais de Earendel se assemelham aos de aglomerados globulares;
- A descoberta do objeto pelo Hubble em 2022 foi possível graças à lente gravitacional;
- A técnica amplia a luz de alvos distantes, permitindo observá-los;
- Microlentes futuras ajudarão a confirmar se Earendel é uma estrela ou um aglomerado.
Em um artigo publicado no periódico científico The Astrophysical Journal, uma equipe liderada por Massimo Pascale, doutorando em astronomia na Universidade da Califórnia, em Berkeley, EUA, analisou dados do JWST para investigar a natureza de Earendel, descoberta pelo Telescópio Espacial Hubble em 2022.

Os resultados obtidos indicam que as características espectrais de Earendel se assemelham às dos aglomerados globulares que existem no Universo próximo. Esses aglomerados são grupos densos de estrelas que compartilham origem e idade semelhantes.
“Se Earendel for realmente um aglomerado, não é inesperado”, disse Pascale ao site Live Science, explicando que os achados estão alinhados com o que se espera de aglomerados globulares no primeiro bilhão de anos do Universo.
Earendel foi descoberta por lente gravitacional
Earendel está localizada na galáxia Arco do Sol Nascente, a 12,9 bilhões de anos-luz da Terra. A estrela foi descoberta graças à lente gravitacional de um enorme aglomerado de galáxias entre nós e o objeto. Esse efeito, previsto por Albert Einstein, distorce e amplifica a luz, permitindo que telescópios detectem objetos muito distantes e fracos. A ampliação da luz de Earendel é estimada em pelo menos 4.000 vezes.
O fenômeno da lente gravitacional é mais potente em regiões específicas chamadas “pontos ideais”. Se um objeto distante se alinhar a um desses pontos, ele pode se tornar centenas ou milhares de vezes mais brilhante. Segundo Pascale, Earendel parece estar precisamente em um desses locais, o que explica como foi possível observá-la, mesmo a quase 13 bilhões de anos-luz de distância.

Análises anteriores com a Câmera de Infravermelho Próximo (NIRCam) do JWST sugeriram que Earendel poderia ser uma estrela massiva, muito mais quente e luminosa que o Sol, possivelmente acompanhada de uma estrela companheira mais fria.
Pascale decidiu explorar a hipótese de aglomerado estelar após constatar que o brilho e o tamanho observados poderiam ser compatíveis com a luz combinada de várias estrelas em vez de um sistema binário.
A equipe utilizou dados de outro instrumento do JWST, o Espectrógrafo de Infravermelho Próximo (NIRSpec), para estudar a idade e a composição de Earendel. O contínuo espectroscópico mostrou padrões condizentes com os esperados de um aglomerado estelar, sugerindo que a luz detectada pode vir de múltiplas estrelas.

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Para descobridor, Earendel ainda pode ser mesmo uma só estrela
Brian Welch, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Maryland e no Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA, que liderou a descoberta original de Earendel, ressalta que os dados atuais não confirmam definitivamente se ela é um aglomerado. “Na resolução espectral do NIRSpec, o espectro com lente de uma estrela e de um aglomerado estelar pode ser muito semelhante”, explica Welch. “Portanto, é importante considerar todos os dados disponíveis ao tentar classificar esses objetos altamente ampliados”.
Tanto o descobridor de Earendel quanto o líder da nova pesquisa acreditam que a chave para desvendar a verdadeira natureza dela está na observação de microlentes, efeitos temporários de ampliação que ocorrem quando um objeto menor passa em frente a um objeto distante. Alterações no brilho causadas por microlentes podem indicar se o objeto é uma estrela única, um sistema binário ou um aglomerado maior.
“Será emocionante acompanhar o que os futuros programas do JWST poderão fazer para desvendar ainda mais a natureza de Earendel”, afirma Pascale.
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