As novidades mais recentes em inteligência artificial (IA) da Apple e da Meta não chegaram à Europa. Para a Bloomberg, isso é sintoma de uma “escalada preocupante” no conflito entre o Vale do Silício e o Velho Continente. E as principais razões são: regulamentação rígida e escrutínio antitruste.
Segundo a agência, as empresas estadunidenses geralmente enquadram suas críticas não como uma objeção à regulamentação em geral, mas ao que a Meta descreveu como a “natureza imprevisível do ambiente regulatório europeu”.
Regulamentar IA impede progresso ou protege usuários? Eis a questão na Europa
De um lado, empresas argumentam que os legisladores europeus ameaçam retardar o progresso de uma tecnologia extremamente útil. De outro, autoridades europeias dizem que adotar uma abordagem branda pode agravar os danos que o domínio do Vale do Silício sobre a tecnologia global já está causando.
A UE tem uma ampla regulamentação de privacidade – é o chamado Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês). E três leis entraram em vigor em 2024, dando à UE maior autoridade para mirar nas big techs. São elas:
Lei dos Mercados Digitais: mira comportamentos que a UE considera anticompetitivos (plataformas favorecerem seus próprios serviços ou combinar dados pessoais entre diferentes serviços, por exemplo);
Lei dos Serviços Digitais: série de regras destinadas a fazer com que as plataformas fortaleçam suas defesas contra conteúdo ilegal e prejudicial;
Lei da IA: proíbe ou restringe o uso de IA que considera particularmente de alto risco; também impõe regras de transparência em modelos de IA avançados destinados a uso geral.
Lançamentos interrompidos
Em junho, a Apple anunciou que interromperia o lançamento do Apple Intelligence – seu “pack” de IA – na Europa. Na época, a empresa disse que a Lei dos Mercados Digitais a obrigaria a fazer o que considerava comprometimentos de segurança inaceitáveis.
A Meta seguiu a mesma linha ao segurar o lançamento da nova versão do Llama, seu modelo de IA de código aberto mais avançado, no Velho Continente. A decisão veio após uma troca de mensagens com reguladores sobre seus planos de treinar o Llama, em parte, com dados coletados de contas públicas do Facebook e Instagram na Europa.
Segundo a Bloomberg, o caso da Meta foi assim: um mês após a empresa notificar as autoridades europeias sobre suas intenções, os reguladores disseram para parar o treinamento do Llama e enviaram mais de 270 perguntas sobre como a prática estava em conformidade com a lei de proteção de dados da UE. Em vez de responder às perguntas, a Meta tirou o produto de lá.
Empresas dos EUA tiveram desentendimentos recentes com a Europa por conta de regulamentações da IA (Imagem: Tada Images/Shutterstock)
Elon Musk também tem tido desentendimentos com a UE. Recentemente, o bloco econômico obrigou uma de suas empresas, o X (antigo Twitter), a parar de coletar dados de usuários europeus para o Grok, seu modelo de IA. Foi um caso bem parecido ao do Llama da Meta na Europa (e no Brasil, se for ver).
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Consequências
A Bloomberg apontou que, por ora, as consequências desse cabo de guerra entre big techs estadunidenses e UE têm sido mínimas para o bloco.
“As empresas estão apostando que futuros avanços – ou o apelo deles – serão tão críticos que as autoridades da UE vão aliviar as regulamentações”, diz a reportagem publicada pela agência nesta semana. Será?
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