Maior floresta tropical do planeta, a Amazônia enfrenta um risco crescente de colapso ecológico. Um estudo publicado nesta quarta-feira (20) na revista Communications Earth & Environment aponta que ela pode começar a ser extinta já neste século, caso o desmatamento e o aquecimento global continuem avançando.
Isso significa que a floresta, que é essencial para o equilíbrio climático e abriga enorme biodiversidade, deve deixar de existir em sua forma atual.
Os pesquisadores avaliaram mudanças de longo prazo na floresta amazônica até o ano 2300 usando modelos de sistemas terrestres de última geração do Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados (CMIP5 e CMIP6), que informaram o Quinto e o Sexto Relatórios de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
As simulações mostraram que o risco de colapso é maior do que se imaginava, especialmente em cenários de altas emissões de gases de efeito estufa.
Degradação da floresta vai impactar clima mundial
O fenômeno, chamado de “dieback”, descreve a perda severa da capacidade de fotossíntese em regiões altamente produtivas da Amazônia. Essa queda no funcionamento vital da floresta pode levar a uma transição para um ecossistema degradado, menos biodiverso e incapaz de armazenar tanto carbono. A mudança traria impactos profundos para o clima mundial.
Segundo os pesquisadores, as condições que favorecem esse colapso incluem aumento da temperatura do ar, redução das chuvas e conversão de áreas de floresta em pastagens e lavouras. Mesmo em cenários de aquecimento mais moderado, a partir de 1,5°C acima da média pré-industrial, a Amazônia já mostra sinais de fragilidade, indicando que a degradação não está restrita a cenários extremos.
Um dos pontos críticos identificados no estudo é que os modelos atuais ainda podem subestimar o risco. Isso acontece porque muitos não consideram de forma completa processos como incêndios florestais e morte de árvores causada por secas prolongadas, fatores que ampliam a vulnerabilidade da floresta e aceleram o ritmo das transformações.
A pesquisa também destaca os mecanismos climáticos globais que influenciam a região. O aquecimento contínuo enfraquece a Circulação Meridional do Atlântico (AMOC), um sistema de correntes oceânicas que regula o clima. Esse enfraquecimento desloca a chamada Zona de Convergência Intertropical, responsável por chuvas tropicais, para o sul. Como consequência, o norte da Amazônia pode enfrentar temperaturas mais altas e maior escassez de chuvas.
Outro fator agravante é o aumento do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Embora esse gás seja usado pelas plantas na fotossíntese, em excesso ele reduz a evapotranspiração, processo pelo qual as árvores liberam umidade no ar. Isso enfraquece o ciclo natural de reciclagem da água, diminuindo as chuvas e intensificando a seca na região.
Leia mais:
- Poeira do Saara é encontrada na Amazônia
- Conheça (e entenda) o que são os “rios voadores” da Amazônia
- “Nós vamos perder a Amazônia”, diz climatologista sobre aquecimento global
Amazônia está prestes a ultrapassar um ponto de não retorno
As projeções também apontam para eventos climáticos extremos mais frequentes, semelhantes aos do fenômeno El Niño. Essas condições aumentam o calor e a aridez em toda a bacia amazônica, ampliando o risco de incêndios e dificultando a regeneração da floresta. Pela primeira vez, um estudo conseguiu mostrar esse cenário de mortandade em diferentes modelos climáticos de longo prazo.
As mudanças desencadeiam um efeito em cadeia. Com menos chuvas e mais calor, a fotossíntese se torna menos eficiente, enquanto a respiração das plantas aumenta. Esse desequilíbrio reduz a capacidade da floresta de absorver carbono, enfraquecendo sua função como reguladora do clima. A falta de água e nutrientes também afeta a saúde das árvores e compromete sua regeneração.
Com o tempo, essas condições podem levar a Amazônia a ultrapassar um ponto de não retorno. Nesse estágio, a floresta não teria mais condições de sustentar uma vegetação densa e rica em biodiversidade. Se combinadas com a expansão agrícola e o desmatamento, essas transformações empurrariam a região para um colapso ecológico em larga escala, com grandes áreas se tornando semelhantes a uma savana.
Irina Melnikova, principal autora do estudo, reforça que os resultados são um alerta para a urgência de reduzir emissões e proteger a resiliência da Amazônia. Segundo ela, é necessário aprimorar os modelos climáticos para representar melhor processos ecológicos e, assim, antecipar riscos futuros. “A proteção da floresta depende de ações coordenadas entre países, que envolvam mitigação climática, conservação e uso sustentável da terra”.
O post Extinção da Amazônia pode começar ainda neste século apareceu primeiro em Olhar Digital.