Pesquisadores liderados pela Universidade da Pensilvânia descobriram que a hidralazina — um dos remédios mais antigos usados no tratamento de pressão alta — pode ter um segundo efeito significativo: interromper o crescimento de tumores cerebrais agressivos. A equipe publicou os resultados na Science Advances, revelando pela primeira vez o mecanismo molecular de ação do medicamento e sugerindo novas possibilidades terapêuticas.
Como um remédio para pressão alta atua no corpo
A hidralazina é usada há cerca de 70 anos e continua sendo um dos principais tratamentos contra hipertensão grave, especialmente em casos de pré-eclâmpsia. Apesar de amplamente utilizada, seu mecanismo de ação sempre foi um mistério. Agora, os pesquisadores identificaram que o remédio bloqueia uma enzima sensora de oxigênio chamada ADO (2-aminoethanethiol dioxygenase), responsável por indicar quando os vasos sanguíneos devem se contrair.
O medicamento se liga ao centro metálico da ADO e impede que ela ative o “alarme” de baixa oxigenação. Com o bloqueio, proteínas reguladoras chamadas RGS deixam de ser degradadas, enviando aos vasos o sinal de interromper a contração. O resultado é a redução dos níveis de cálcio — considerado o principal regulador da tensão vascular — e, consequentemente, a dilatação dos vasos, o que diminui a pressão arterial.
Segundo os cientistas, essa descoberta abre caminho para aprimorar a segurança e a eficácia de tratamentos voltados à pressão alta, especialmente em gestantes com pré-eclâmpsia, condição responsável por até 15% das mortes maternas no mundo.
Do controle da pressão alta ao combate ao glioblastoma
O estudo também revelou uma ligação biológica inesperada entre distúrbios hipertensivos e câncer cerebral. Pesquisas anteriores já indicavam que tumores como o glioblastoma dependem da enzima ADO para sobreviver em regiões com pouco oxigênio. Entretanto, faltava um inibidor confiável para explorar essa via.
Com apoio de bioquímicos e neurocientistas de universidades dos EUA, os cientistas testaram a hidralazina diretamente em células de glioblastoma. As descobertas mostram que:
- o mesmo caminho bioquímico que regula a contração dos vasos ajuda as células tumorais a sobreviver em baixa oxigenação;
- ao bloquear a ADO, o remédio induz um estado de “senescência”, no qual as células param de se multiplicar sem gerar inflamação adicional;
- o medicamento não age como quimioterapia tradicional, mas sim interrompe o ciclo de crescimento tumoral.
Esse comportamento sugere que o remédio para pressão alta pode atuar como um modulador biológico, abrindo uma janela para novos tratamentos contra tumores cerebrais altamente agressivos.
Próximos passos e novas possibilidades terapêuticas
Com a identificação da ADO como alvo principal, os pesquisadores planejam desenvolver novas versões do fármaco capazes de atravessar com mais eficiência a barreira hematoencefálica e agir de forma mais seletiva no tecido tumoral.
A equipe também acredita que entender mecanismos antigos de medicamentos amplamente utilizados pode revelar conexões inesperadas entre doenças e inspirar terapias mais seguras.
Leia mais:
- Inteligência artificial é nova aliada nos tratamentos conta tumores
- Este composto natural apoia o combate ao câncer – e provavelmente está na sua dieta!
- Veneno de aranha pode controlar tumor cerebral, segundo pesquisa brasileira
Como ressalta Megan Matthews, uma das cientistas envolvidas, é raro que um remédio cardiovascular antigo ensine algo novo sobre o cérebro — mas esses achados podem abrir portas para soluções inovadoras tanto para o câncer quanto para problemas graves de pressão alta.
O post Famoso remédio para pressão alta surpreende ao impedir avanço de tumor cerebral apareceu primeiro em Olhar Digital.