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Fitas cassete: história, evolução e renascimento dessa forma clássica de guardar músicas

by Fesouza
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A fita cassete é uma forma de gravar e tocar conteúdos apenas em som que teve muita fama, mas com o tempo encarou um mercado bem difícil contra outras mídias físicas e formas de armazenamento de áudio. Ainda assim, ela teve uma grande importância na indústria e até hoje sobrevive graças a fãs e entusiastas.

Ela foi uma das primeiras tecnologias que realmente permitiram o compartilhamento de músicas e gravações — além do hábito de ouvir canções em qualquer lugar. Quando elas foram criadas, o vinil já existia e dominava a indústria em volume de vendas, mas não era nada portátil pelo tamanho dos álbuns e das vitrolas.

Mas você conhece a origem desse formato, o funcionamento e a evolução dessa tecnologia? A seguir, o TecMundo preparou uma retrospectiva para você voltar no tempo e reviver a era de ouro desses objetos.

A criação da ‘fitinha’ cassete

Fitas magnéticas contendo informações gravadas existem ao menos desde a década de 1920. Elas já eram usadas para armazenamento de dados, em especial na era dos primeiros computadores.

Já em 1935, a empresa AEG lançou o primeiro tape deck de rolo: o Magnetophon, baseado na leitura de uma fita de papel revestida com aço em pó. Esses materiais eram muito caros e relativamente difíceis em utilização, restritos a profissionais do áudio, estúdios ou emissoras de rádio. Levou tempo até esse formato diminuir de preço e tamanho.

Leo Ottens
Lou Ottens. (Imagem: Reprodução/Philips

Foi em 1962 que nasceu a fita cassete, ou compact cassette no original em inglês. Esse equipamento foi desenvolvimento pela empresa Philips, com envolvimento especial de um engenheiro chamado Lou Ottens. Foi ele que, algum tempo depois, também seria um dos responsáveis pela padronização do CD.

A empresa apresentou esse invento na Berlin Radio Show, a atual feira IFA que existe até os dias de hoje, e no ano seguinte, lança ele também nos Estados Unidos. O slogan tinha tudo a ver com a época e também com a sua principal característica, que era o tamanho: “Menor que um maço de cigarros!”.

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Philips EL 3300. (Imagem: Reprodução/Philips)

A primeira máquina de reprodução de fitas cassete foi a Philips EL 3300, de 1963. Ela chegou inclusive no Brasil, e por aqui ficou conhecida como Mini-K7. E olha que curioso: a utilização proposta originalmente pela empresa era em ditados, com pessoas falando em uma velocidade bem cadenciada e com função educativa, seja para alfabetização e aulas de idiomas ou datilografia.

O funcionamento da fita cassete

Mas como é que funciona essa tecnologia? A fita tem como principal componente uma fita magnética de poliéster, que passa por duas bobinas. Essa estrutura é protegida por um corpo de plástico no formato retangular que, por padrão, tem 10 cm de comprimento e 7 de largura. Quando ela é colocada em um aparelho de leitura, que encaixa duas hastes na altura dos furos, ela se movimenta em uma direção e permite a leitura dos dados.

A média era de 30 minutos de música de cada um dos dois lados, o A e o B. E, quando a reprodução termina, é preciso rebobinar ela até o começo ou o ponto desejado, igual o VHS. É possível fazer isso pelo próprio aparelho e até de forma manual: uma gambiarra clássica envolvia girar uma das bobinas no sentido anti-horário usando uma caneta.

Fitas cassete: história, evolução e renascimento dessa forma clássica de guardar músicas
Imagem: YouTube/Allan Hazle

A história por trás do nome também é curiosa: o termo original ‘Cassette’, com dois ‘s’ e dois ‘t’ vem do francês e significa ‘pequena caixa’. Em alguns idiomas, incluindo o nosso português, ele é também abreviado como a letra “k” seguida do número “7”.

Expansão e popularização

A fita cassete se estabeleceu como um padrão desse tipo de material, mas isso não significa que ela não teve rivais. Em 158, a RCA apresentou uma fita de cartucho, que tinha 60 minutos de reprodução de som e era bem competente, mas o formato foi descontinuado antes da explosão desse padrão. Já o Stereo 8, de 64, ela um cartucho também baseado em fita magnética que suporta 8 pistas de áudio, e daí veio esse nome.

Teve também o Microcassette, de 1969 e criado pela Olympus. Essas fitas eram ainda menores e, em português, também foram batizadas como fitas cassete.

Microcassette - Wikipedia
Comparação de tamanho do microcassete. (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

Nessa década de 1960, os carros começaram a despontar como um dos principais locais para ouvir uma dessas fitas. Ford e Motorola criaram um player pioneiro em 1965 pra fitas de oito faixas e, três anos depois, a Philips lançou a versão própria.

Nesse período começou também o lançamento de gravadores de fitas, que eram capazes de armazenar áudios que eram reproduzidos no mesmo aparelho de som ou captados com um microfone. Um dos primeiros veio de novo da Philips e foi o EL 3302. de 68.

Só no começo dos anos 70 que as fitas começaram a ser vistas como uma alternativa para a música. Isso porque alguns modelos passaram a usar tecnologias de redução de ruído feitos pelos laboratórios da Dolby, que permitiam uma maior fidelidade do som original.

A revolução do Walkman

Mas a revolução mesmo que firmou a fita cassete na indústria veio de uma marca japonesa em 1979. Foi nesse ano que o cofundador da Sony, Masaru Ibuka, percebeu que poderia adaptar gravadores da empresa pra usar em uma viagem de trabalho. Ele entregou essa tarefa pra equipe de Norio Ohga e o resultado foi o primeiro reprodutor portátil de fitas cassete que foi um sucesso absoluto: o Walkman.

Ele simplesmente mudou a forma com que o mundo inteiro ouvia música, permitindo não só que você escutasse álbuns inteiros logo depois de sair da loja, mas saísse de casa só com uma fita pra curtir o dia.

The Evolution of the Walkman - Australian Traveller
Imagem: Divulgação/Sony

Mo começo dos anos 1970, um inventor brasileiro chamado Andreas Pavel criou um método de acoplar um toca-fitas na cintura, o que seria um ‘proto-walkman’. Em um processo que levou décadas para ser encerrado, o Andreas conseguiu por um acordo o reconhecimento em créditos e uma indenização.

Já a década de 1980 foi o auge dessa tecnologia. Isso aconteceu com o Walkman cada vez mais popular e sistemas de som com alto-falantes com rádio, leitor de vinil e de fita cassete, os chamados 3 em 1. Aqui no Brasil, marcas como a Gradiente, CCE e várias outras lançaram vários modelos de sucesso.

Fitas cassete: história, evolução e renascimento dessa forma clássica de guardar músicas
O AT-70 da Gradiente era um 3 em 1. (Imagem: Reprodução/Datassette)

Com a popularização do deck, que é o sistema de gravador de áudio, muitas pessoas passaram a criar as próprias mixtapes, seja para consumo próprio, vender ou presentear alguém especial. São muitas as histórias de quem ficava ouvindo rádio atentamente até a hora de tocar uma certa música e sair correndo colocar o gravador pra funcionar.

Além disso, colecionadores mais exigentes gravavam o conteúdo de um vinil na fita para ouvir e não ‘gastar’ o disco. Tudo isso ficou tão popular que gravações caseiras ou piratas em fitas cassete foram inicialmente combatidas pela indústria fonográfica. Nos Estados Unidos, teve até mesmo uma campanha chamada ‘fitas caseiras estão matando a música’.

Auge e fim da hegemonia

Em 1985, a venda de fitas cassete ultrapassou a de discos de vinil e surgem novos concorrentes: o Digital Audio Tape (DAT) da Sony, menor que as fitas cassete e mais cara, restrita ao uso por estúdios. Além disso, computadores traziam um acessório de leitura dessas fitas, usada para armazenar programas inteiros que não caberiam nos armazenamentos dos modelos da época.

O fim da era de ouro do mercado de fitas cassete ocorre na virada para a década de 1990. Mas elas seguiram existindo forte, em especial em países fora de Japão e Estados Unidos, que costumavam mudar de tecnologia mais rapidamente. Foi o caso do Brasil: aqui, as fitas cassete continuaram populares por bem mais tempo, enquanto outras mídias não barateavam.

Walkman Aikoman - 1982 - Propagandas Históricas | Propagandas Antigas
Imagem: Reprodução/Propagandas Históricas

E aí começaram alguns problemas. Em 1990, a Philips lança outro formato, o Digital Compact Cassette (DCC). Ele tinha boa qualidade, mas foi um fracasso de vendas porque outra mídia batia na porta: foi nessa época que o CD começou a superar as fitas cassete em vendas. E o MiniDisk da Sony acabou virando o queridinho de muita gente pra formato compacto.

Aliás, as fitas cassete tinham os seus pontos negativos. Como formato, ela era frágil e podia até ser danificada dentro do próprio aparelho, que entalava ou até ‘cuspia’ a fita magnética. Além disso, em termos técnicos, a qualidade do áudio não era tão boa comparada com o que estava surgindo no CD e não trazia o “chiado” do som do vinil.

CD-ROM colorido Foto stock gratuita - Public Domain Pictures
 

Com o tempo, artistas e gravadoras adotaram o CD como o formato mais usado. Em 2001, o mercado de fitas cassete entre mídias de armazenamento era de apenas 5% e isso tendia a cair ainda mais, porque nesse ano foi apresentado o iPod e os players de música em mp3 começariam a se popularizar.

Chegou ao ponto de, em 2010, a Sony encerrar a produção do walkman que roda fitas. O Diskman chegou a ter mais alguns modelos e a marca teve tentativas de lançamento só pra arquivos digitais.

A fita cassete sumiu?

Apesar tudo, não é possível falar que o formato desapareceu. Na década de 2010, as fitas cassete ou suas variantes ainda eram usadas para funções em áreas como jornalismo, gravação histórica de vozes ou relatos de pessoas, investigações policiais, audiolivros e outras utilidades. A questão de preservação histórica do áudio dessas fitas é importante: a vida útil de uma fita cassete antiga é de no máximo 30 anos até ela pelo menos começar a se degradar.

E, assim como aconteceu com o vinil, as fitas cassete tiveram um retorno: nos EUA, entre 2015 e 2018, a venda desse formato triplicou e dobrou de novo entre 2020 e 2021. Em 2017, tivemos o lançamento do filme “Guardiões da Galáxia”, com a mixtape do personagem Peter Quill consolidando esse fator nostalgia.

Taylor Swift - 1989 (Taylor's Version) Cassette Unboxing
Imagem: Reprodução/Universal Music

Em 2018 a brasileira Polysom, que reativou a fábrica de vinis, também voltou a fabricar fitinhas cassete em menor escala. E no Brasil, as vendas de fitas cassete aumentaram 35% em 2023 em comparação com o ano anterior. Artistas como Taylor Swift, Beyoncé, Adele, Harry Styles e vários outros lançaram versões em fita cassete de seus álbuns mais recentes.

É importante notar também a presença da fita cassete em áreas menos comentadas. A primeira boombox foi lançada pela Philips e, ao longo dos anos, esse tipo de aparelho de som com tocador de fita embutido mudou culturas inteiras. Só pra citar um exemplo, ele foi chave pro desenvolvimento da cultura hip-hop, de breakdance até batalhas de rap.

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Imagem: GettyImages

Além disso, o mercado de pirataria de músicas foi praticamente criado aqui, com a cópia de transmissões de rádio, troca ou venda de bootlegs, que eram coleções e gravações não oficiais. Por fim, não há como não citar todo o processo de bandas no início de carreira, gravando ‘fitas demo’ para enviar às gravadoras e tentar a sorte de conseguir um contrato.

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