O povo passa fome e é ignorado. Um golpe de estado está em andamento. Intelectuais divergem sobre quem deve deter o poder. Um governante está acuado…
Poderia ser a descrição da situação atual de vários países ao redor do mundo, mas é “apenas” um jogo de videogame.
Forestrike é o novo lançamento da Devolver Digital que chega para PC e Nintendo Switch no dia 17 de novembro. Desenvolvido por Thomas Olsson e pelo time do Skeleton Crew Studio, responsáveis por Olija, essa nova pérola combina artes marciais, pixel art e uma história cativante para entregar aos jogadores uma experiência que tenta equilibrar diversão com uma gameplay precisa.
Com uma simplicidade indiscreta e narrativa sugestiva, Forestrike possui uma proposta que deve atrair aqueles que procuram por uma gameplay de combate refinada e estejam esperando um bom jogo com de kung-fu.
O timing certo
Responsável pelo excelente Olija, o Skeleton Crew Studio mais uma vez nos agraciou com um game tático de luta, desta vez baseado em kung-fu.
Controlando o artista marcial Yu, os jogadores deverão trespassar combates que são descritos pelo time de desenvolvimento como puzzle-like utilizando a técnica que o cerne do jogo, a presciência.
Como um aprendiz da Ordem dos Prescientes, Yu pode planejar cada movimento da sua luta antes que ela realmente aconteça e tenha efeitos reais.
A presciência funciona como uma antecipação de cada movimento, quase como uma clarividência. O jogador poderá experimentar quais os golpes quer utilizar e saber como cada inimigo irá reagir quando atacar. Isso dá a oportunidade de você praticar as suas ações e refina-las até que estejam perfeitas – quantas vezes desejar. Com os movimentos ensaiados e cada reação memorizada, então você pode partir para ação real e vencer seus inimigos.
A mecânica tenta reproduzir com fidelidade as cenas de ações mirabolantes que vemos em filmes de kung-fu, com ataques precisos e a utilização do cenário e até da força do próprio oponente contra ele.
No desenrolar do jogo temos a oportunidade de aprender novas técnicas provindas de escolas diferentes de kung-fu que são ensinadas por cinco mestres distintos. Além, é claro, de movimentos mais comuns, como esquiva, aparar e utilização de objetos (bastões, mesas, garrafas) como armas e defesa.
Todas as lutas se desenrolam em cenários fechados. Diferente de Olija onde o jogador progredia como um jogo de plataforma, em Forestrike vamos de cena a cena, combatendo os adversários que se apresentam naquele momento da história.
E não podemos deixar de dizer que se trata de um roguelite. Então espere a tão conhecida progressão através de run, onde você conhece um pouco mais sobre a história, adquire habilidades permanentes e faz escolhas que podem ter resultados diferentes dependendo do caminho que seguir.
A arte da guerra
Algumas mensagens podem chegar de forma direta, outras através de caminhos tortuosos. Forestrike conduz sua narrativa do segundo jeito.
Não entenda minha colocação de maneira equivocada, pois o jogo da Devolver é de fácil entendimento. Entretanto, a trama simples de usurpação de poder esbarra em muitos paralelos com a realidade.
Como vimos acima, o jogo tem como protagonista Yu, o último discípulo da Ordem da Presciência, que foi encarregado de salvar o Império de com suas habilidades.
A presciência é um conceito real – embora bem imaginativo -, que pode ser comparado com clarividência. No jogo a presciência é tanto a principal habilidade quanto uma arte marcial milenar passada de geração a geração por mestres que a utilizam através de estilos diferentes.
O reino ao qual a ordem serve sofreu um golpe de Estado. O Almirante (o golpista), se infiltrou no império, corrompeu os acadêmicos e dominou a guarda imperial, desejando destronar o imperador e dominar tudo. O povo não se sente seguro, tão pouco lembrado pelo império, o que resulta em uma divisão entre os cidadãos, com alguns apoiando o golpe e outros o imperador.
No meio disso tudo, o grupo de eruditos que vivem isolados nas montanhas, conhecidos como a Ordem da Presciência, permanece como a última linha de defesa para restabelecer a paz e resgatar o Imperador, que se encontra em isolamento, escondido do Almirante.
A leitura sobre a narrativa pode ser simplória, vendo tudo apenas como mais uma aventura divertida. Mas eu deixo aqui a sugestão para que você – caso vá jogar – olhe mais atentamente. De uma boa jogatina de kung-fu pode sair um despertar para olhar a sociedade de uma maneira mais apurada.
Vale a pena?
Particularmente gosto muito da mecânica central baseada na presciência. Ao combinar essa clarividência com um combate bem executado, temos uma fórmula bem divertida, com muitas possibilidades de experimentação, graças às adições das habilidades que conquistamos em cada run. Desde Sifu não via um jogo de kung-fu tão divertido.
A ambientação do jogo também se destaca, trazendo o tom adequado para essa aventura. Destaque para a abertura do game que apresenta os personagens com lindas ilustrações, o que ajuda na imersão da narrativa.
Em comparação com Olija, acredito que a Skeleton Crew Studio evolui vários aspectos de gameplay, narrativa e arte. Entretanto a opção de ser uma aventura roguelite tira parte da emoção para mim. As mecânicas de combate e presciência que são o grande destaque do jogo acabam ficando repetitivas ao longo do tempo – e até massantes. Isso não tira o brilho do jogo, mas com certeza é um ponto negativo.
Se você joga no PC existe a possibilidade de baixar a demo no Steam e experimentar o jogo para saber se ele é palatável para você. Mas se você gostou de Olija, acho que deveria ao menos dar uma checada.
Forestrike já está disponível para PC via Steam e Nintendo Switch. Uma cópia para PC de Forestrike foi concedida pela Devolver Digital para a realização deste texto.