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Google rejeitou denúncias contra vídeos de Israel em Gaza, diz jornal

by Fesouza
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Um e-mail interno do Google revelou que a empresa decidiu manter no ar anúncios do governo de Israel no YouTube que afirmavam haver abundância de alimentos em Gaza, mesmo após receber um grande volume de reclamações. As críticas alegavam que os vídeos promoviam informações enganosas em meio a alertas da ONU sobre fome na região.

De acordo com o documento obtido pelo The Washington Post, o Google recebeu notificações de autoridades governamentais e de usuários apontando que os anúncios contrariavam avaliações de organizações internacionais sobre a escassez de comida em Gaza. Ainda assim, a equipe de Trust and Safety da empresa concluiu que o conteúdo não violava suas políticas de publicidade.

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“Há comida em Gaza. Qualquer outra afirmação é uma mentira”, afirma vídeo do governo israelense (Imagem: Reprodução/YouTube)

Anúncios contestados sobre fome em Gaza

Os vídeos foram publicados na plataforma de vídeos do Google pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel em agosto, poucos dias depois de um órgão apoiado pela ONU declarar a existência de uma fome em rápida expansão na região da cidade de Gaza. Um dos vídeos, divulgado em 24 de agosto, exibe um mercado com frutas, pães e doces, acompanhado do texto: “Há comida em Gaza. Qualquer outra afirmação é uma mentira”.

O material foi promovido em várias línguas e ultrapassou 7 milhões de visualizações apenas na versão em inglês. No entanto, uma análise do The Washington Post mostrou que as imagens foram gravadas em julho, quando os primeiros alimentos começaram a entrar em Gaza após meses de restrições impostas por Israel.

Segundo o autor original das filmagens, o fotojornalista palestino Majdi Fathi, os produtos exibidos estavam disponíveis a preços elevados, inacessíveis à maioria da população.

Revisão e decisão do Google

Segundo o e-mail interno de 4 de setembro, o Google concluiu que os anúncios “não violam nossas políticas”, que proíbem conteúdos enganosos ou sensíveis. A decisão envolveu equipes jurídicas e de segurança, que afirmaram que os vídeos não se enquadram nas regras contra “conteúdo perigoso ou depreciativo” nem “afirmações não confiáveis”.

Google rejeitou denúncias contra vídeos de Israel em Gaza, diz jornal
E-mail interno obtido pelo Washington Post revela que o Google não considerou o conteúdo como enganoso (Imagem: Jay Fog / Shutterstock.com)

Mesmo após novas denúncias — incluindo uma formal apresentada pela agência estatal polonesa NASK, que classificou o conteúdo como manipulado —, o Google manteve os vídeos disponíveis. Em nota enviada ao The Washington Post, Michael Aciman, porta-voz da empresa, declarou que o Google possui “políticas claras sobre os tipos de anúncios permitidos” e que remove conteúdos que as violem.

Campanha digital e reações internacionais

Os vídeos fazem parte de uma campanha digital do governo israelense para disputar a narrativa sobre a situação humanitária em Gaza. Além do YouTube, o mesmo conteúdo foi promovido no X (antigo Twitter) e em redes da Meta. Segundo documentos oficiais citados pelo site Drop Site News, Israel destinou pelo menos US$ 45 milhões para campanhas de publicidade no YouTube em 2025.

Organizações humanitárias e governos estrangeiros, incluindo Austrália, Canadá, Japão e países da União Europeia, pediram que Israel ampliasse imediatamente o fluxo de ajuda para conter a fome. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 67 mil palestinos morreram desde o início do conflito, e milhares sofrem com desnutrição e falta de acesso a alimentos.

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Questionamentos sobre políticas de moderação

Fontes internas do Google ouvidas sob anonimato afirmaram que a empresa e outras gigantes de tecnologia vêm reduzindo a checagem de fatos em anúncios e conteúdos políticos. O funcionário ouvido pelo The Washington Post disse que, atualmente, só anúncios que representem riscos à saúde pública ou à integridade eleitoral são removidos.

Especialistas em comunicação digital, como o professor Sam Woolley, da Universidade de Pittsburgh, alertaram que campanhas desse tipo transformam plataformas como o YouTube em instrumentos de propaganda. Segundo ele, “governos entendem que bilhões de pessoas passam tempo em redes sociais e usam isso para moldar percepções públicas”.

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Decisão de não remover anúncios é revelada em meio a protestos internos de funcionários contrários a contratos da empresa com Israel (Imagem: Phil Pasquini / Shutterstock.com)

A decisão do Google ocorre em meio a protestos internos de grupos como o No Tech for Apartheid, formado por funcionários do Google e da Amazon contrários aos contratos dessas empresas com Israel. O grupo afirma ter enviado mais de 50 mil reclamações à empresa pedindo a remoção dos anúncios.

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