Grande Firewall da China que censura a internet estaria à venda para outros países

Uma “versão comercial” do Grande Firewall da China está sendo exportada para países interessados em monitorar e censurar a internet em seus territórios. É o que sugerem documentos vazados da Geedge Networks, empresa associada à infraestrutura de vigilância online do gigante asiático.

Conforme revelou a Wired na segunda-feira (8), a companhia fundada em 2018 e que ajudou na implementação dos sistemas de controle de informação em massa na internet chinesa desenvolveu um sistema avançado de monitoramento com funcionamento semelhante ao adotado por Pequim. Esse serviço é oferecido para outros governos e já foi instalado em alguns países.

O sistema comercializado é semelhante ao usado pelo governo chinês para o controle da internet local. (Imagem: Getty Images)

Como funciona o mecanismo de vigilância online?

O sistema de vigilância à venda pela Geedge Networks é baseado em uma ferramenta denominada Tiangou Secure Gateway (TSG). Funcionando dentro de datacenters, a tecnologia possui a capacidade de processar o tráfego de internet de um país inteiro, segundo os mais de 100 mil documentos expostos.

  • Cada pacote de tráfego que passa por ele pode ser analisado, filtrado e bloqueado imediatamente, se necessário, averiguando usuários como um todo ou individualmente;
  • Nas conexões sem criptografia, a tecnologia intercepta informações como conteúdos de site acessados, senhas e anexos de emails, entre outros dados confidenciais;
  • Já no caso de conteúdos protegidos, é acionado o protocolo Transport Layer Security, baseado em técnicas de inspeção profunda de pacotes e IA para coletar metadados e identificar eventuais tentativas de escapar da censura com VPN;
  • E para os momentos em que não for possível distinguir o material criptografado, o TSG permite sinalizá-lo como suspeito e realizar o bloqueio temporariamente.

A empresa também comercializa o Cyber Narrator, interface para usuários sem conhecimento técnico que exibe, em tempo real, a localização de cada pessoa conectada à rede, com base nos dados do celular, e identifica o uso de soluções para escapar da vigilância. Em um dos registros vazados, são listados apps com prioridades de bloqueio.

Os documentos também indicam que as capacidades técnicas da Geedge estão aumentando, com a possibilidade de adicionar novos recursos. A empresa, que se chamava Zhongdian Jizhi, possui ligação com o conglomerado estatal China Electronics Corporation e com o cientista da computação Fang Binxing, o “pai” do Grande Firewall chinês.

De acordo com os documentos, a tecnologia permite vigiar os passos de todos conectados à web onde ela está operando. (Imagem: Getty Images)

Quais países utilizam a ferramenta de controle da internet?

Segundo a reportagem, a versão comercial do Grande Firewall da China já opera em países como Cazaquistão, Paquistão, Etiópia e Mianmar, além de outro território não identificado. Em Mianmar, uma captura de tela mostrou o sistema monitorando 81 milhões de conexões simultaneamente.

O material informa que o hardware da Geedge está em 26 datacenters e 13 provedores de internet do país asiático, embora as empresas neguem a utilização da plataforma de monitoramento. A companhia usava equipamentos da Dell e da HP em seu sistema, mas mudou para soluções chinesas diante da possibilidade de sanções dos Estados Unidos.

De acordo com a pesquisadora do IntersecLab, Marla Rivera, este mecanismo vendido pela empresa chinesa vai muito além da interceptação legal das conexões feitas em países democráticos, dando poderes que as autoridades não deveriam possuir. “Isso é muito assustador”, alertou a especialista.

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