Nossos ancestrais distantes viviam em árvores, mas um dia, enfrentaram seus medos e desceram para caminhar sobre a Terra. Mais tarde, enfrentamos oceanos em grandes navegações e, séculos depois, conquistamos os céus com nossos aviões. Mas nenhuma dessas aventuras se compara ao desafio de deixar o planeta. O espaço é o ambiente mais hostil que a humanidade já ousou desafiar — lindo, silencioso… e mortal. Lá fora, qualquer erro, por menor que seja, pode ser o último.
Cada missão espacial exige do astronauta uma alma disposta a encarar o desconhecido com frieza e acima de tudo com a coragem e a loucura de quem sabe que, no espaço, o perigo não é apenas uma possibilidade, mas uma certeza. Por isso, neste Halloween, vamos deixar os fantasmas e vampiros descansarem um pouco e relembrar histórias da exploração espacial tão aterrorizantes que fariam o Conde Drácula roer suas unhas. Histórias assustadoramente reais, mas que, felizmente, terminaram bem.
1. O Primeiro Voo de Yuri Gagarin (1961)
Em abril de 1961, o mundo inteiro ficou perplexo ao ouvir a voz de Yuri Gagarin vinda do espaço: “A Terra é azul!”. Mas a primeira aventura humana fora da Terra por muito pouco não se tornou uma tragédia. Os riscos eram tão elevados que o governo soviético preparou, previamente, três diferentes comunicados à imprensa: um em caso de sucesso e dois caso a missão fracassasse.
Quase tudo correu bem na primeira metade do voo da Vostok 1. Apenas uma falha em um dos foguetes, que levou a espaçonave a uma órbita 100 km mais elevada do que o planejado. Caso a manobra de retorno falhasse, essa altitude poderia manter Gagarin meses no espaço sem suprimentos suficientes. Mas quando chegou a hora de voltar, aí é que as coisas deram terrivelmente erradas. O desligamento dos retrofoguetes atrasou e a cápsula de retorno não conseguiu se separar do módulo de serviço. A nave começou a vibrar e girar violentamente, sacudindo Gagarin como se ele estivesse dentro de uma lavadora de roupas.
Por sorte, o módulo de serviço se desprendeu sem danificar a cápsula, e o primeiro homem no espaço pôde se ejetar a 7 km do solo — quase em segurança. Quando seu paraquedas abriu, um outro, de reserva, também abriu parcialmente, ameaçando transformar nosso herói numa panqueca, caso os dois se enroscassem.
Felizmente tudo terminou bem e, mesmo depois de momentos aterrorizantes, Yuri Gagarin fez história ao pousar suavemente em solo russo.
2. Gemini 8: A rotação da morte (1966)
Cinco anos depois, foi a vez dos americanos Neil Armstrong e David Scott experimentarem a centrifugação em modo turbo. Eles estavam prestes a realizar o primeiro acoplamento entre duas naves no espaço: a Gemini 8 e o módulo Agena. A missão correu perfeitamente bem, até que acoplaram. Juntas, as duas naves começaram a girar lentamente… e depois cada vez mais rápido. Acreditando que o problema estava na Agena, eles decidiram desacoplar, mas foi pior. Um dos propulsores da Gemini havia travado, e ao se separarem, a inércia diminuiu e a rotação acelerou, chegando a uma volta por segundo.
A força centrífuga impedia o sangue de circular no cérebro e um desmaio ali seria “game over” para os astronautas. Mas no momento mais tenso, Armstrong, frio como um vampiro, usou o sistema de controle de reentrada para estabilizar a nave e salvar suas vidas. A missão foi abortada, mas os dois voltaram em segurança — e a calma que os salvou naquele momento de terror, seria a mesma que, três anos depois, ajudaria Neil Armstrong a pousar na Lua.
3. Soyuz T-13: O resgate da Salyut 7 (1985)
Em junho de 1985 a estação espacial soviética Salyut 7 sofreu uma pane total em órbita. Sem energia, sem comunicação e sem ninguém à bordo para corrigir o problema. Era um zumbi metálico vagando pelo espaço. Temendo que ela fosse capturada pelos Estados Unidos, os soviéticos enviaram dois cosmonautas, Vladimir Dzhanibekov e Viktor Savinykh, para tentar um resgate. Quando se aproximaram, viram a estação girando descontroladamente. Acoplar com a Salyut nesse estado seria como entrar num carro em movimento — enquanto ele capota. Ainda assim, Dzhanibekov conseguiu sincronizar a Soyuz com a rotação da estação espacial e realizar um acoplamento manual perfeito.
Ninguém nunca havia tentado uma manobra como aquela, porque era algo tão arriscado, que um movimento errado poderia significar um fim trágico para a missão. Depois de acoplar e estabilizar a estação espacial, os cosmonautas entraram na Salyut e encontraram temperaturas negativas, escuridão total e ar quase irrespirável. Uma casa mal-assombrada em órbita, onde eles trabalharam por meses para devolver a Salyut 7 de volta à vida.
4. Apollo 11: O passo que quase não aconteceu (1969)
Todo mundo lembra da frase: “Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade”, mas pouca gente sabe do risco que essa frase correu de nunca ser dita.
Em julho de 1969, enquanto Neil Armstrong e Buzz Aldrin se aproximavam da superfície da Lua, o computador do módulo lunar Eagle começou a apitar loucamente: alarmes indicavam erros de sobrecarga, e o piloto automático levava o módulo para um arriscado pouso numa cratera. Armstrong assumiu o controle manual, desviou dos rochedos e procurou um local plano, consumindo quase toda reserva de combustível da nave.
Quando finalmente a Águia pousou, restavam apenas 17 segundos de combustível.
Por pouco, o “pequeno passo” não virou um grande tombo — mas a calma de Armstrong transformou o terror daqueles momentos em história.
5. Apollo 13: O inferno a 380 mil km de casa (1970)
Mas sem sombra de dúvida, a história mais aterrorizante da exploração espacial ocorreu em 1970. A Apollo 13, terceira missão tripulada enviada para a Lua corria bem — até que um tanque de oxigênio explodiu. As luzes se apagaram e os sistemas morreram. Pelo rádio os astronautas enviaram uma frase que arrepiou os controladores da missão e entrou para a história: “Houston, we’ve had a problem.”
A tripulação ficou sem energia, sem aquecimento e com o oxigênio acabando. O frio congelava os trajes; o ar tornava-se tóxico. Usaram o módulo lunar como bote salva-vidas, improvisaram filtros de ar com fita adesiva, calcularam manualmente o curso e deram a volta na Lua — só para ganhar impulso e retornar para casa.
Foram quatro dias desafiando a morte no limiar do impossível. E contra todas as probabilidades, voltaram vivos, fazendo da Apollo 13 “o fracasso mais bem-sucedido da história da exploração espacial”.
O custo e a coragem de desafiar o vazio
Essas histórias tiveram finais felizes, mas nem todas tiveram o mesmo destino. As tragédias da Apollo 1, Challenger, Columbia e Soyuz 1 nos lembram o quão frágil é a vida humana além da atmosfera que nos protege, e que cada passo rumo ao espaço tem um custo elevado, muitas vezes, pago com vidas. Mas, assim como ocorreu em cada momento em que a humanidade decidiu ir mais longe, essas vidas foram honradas com a persistência e com as conquistas alcançadas com a exploração espacial.
Explorar o espaço é, antes de tudo, enfrentar o desconhecido. Então se o Halloween é justamente o dia de encararmos nossos medos, vamos celebrar esses heróis que, diante dos maiores desafios da história, enfrentaram seus fantasmas e ajudaram a levar a humanidade aonde ninguém sonhava chegar.
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