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Holanda recua, China avança: a trégua na Nexperia que acalmou a guerra dos chips

by Fesouza
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O governo da Holanda suspendeu a intervenção na fabricante de chips Nexperia, devolvendo o controle para a chinesa Wingtech Technology. A reversão, anunciada nesta quarta-feira (19), encerrou seis semanas de disputa que paralisaram embarques de semicondutores e pressionaram a cadeia global de produção de veículos.

O ministro da Economia holandês, Vincent Karremans, classificou a decisão como um “gesto de boa vontade” após “conversas construtivas” com autoridades chinesas

O recuo é visto como um passo para estabilizar o fornecimento de chips, especialmente os usados em sistemas essenciais de carros. E reduzir o risco de novas interrupções num setor que ainda tenta se recuperar de crises recentes.  

Holanda reverte intervenção na Nexperia após garantir retorno no fornecimento global de chips

A Nexperia, sediada em Nijmegen, é uma fabricante europeia de chips controlada pela chinesa Wingtech Technology. Ela produz chips “básicos” – componentes minúsculos que permitem o funcionamento de motores, freios e sistemas eletrônicos em veículos modernos. 

São peças simples, mas insubstituíveis no curto prazo. E dependem de semicondutores (materiais como o silício, que conduzem eletricidade de forma intermediária e permitem criar circuitos eletrônicos).

Miniaturas de carros colocadas ao lado de chips em placa de computador
A Nexperia produz chips “básicos” considerados essenciais para veículos modernos (Imagem: Dan74/Shutterstock)

O governo holandês interveio na empresa em 30 de setembro, usando a Lei de Disponibilidade de Bens, legislação da era da Guerra Fria criada para proteger setores estratégicos. 

A ação foi justificada por “razões de segurança econômica”, com temor de que propriedade intelectual e conhecimento técnico fossem transferidos definitivamente para a China. 

A resposta de Pequim veio rápido. Exportações de chips fabricados pela Nexperia foram temporariamente suspensas, o que provocou escassez e impacto direto na indústria automotiva mundial.

A reversão anunciada por Haia ocorreu quando o ministro Vincent Karremans afirmou que o grupo “atualmente não mostra sinais de continuar o comportamento que motivou minha ordem nem qualquer intenção de fazê-lo”. 

Segundo o governo, as autoridades chinesas agora “parecem estar concedendo permissão a empresas de países europeus e de outros países para exportar chips da Nexperia” (via O Globo).

Disputa entre China e Holanda expôs a dependência global de chips – e mobilizou o Brasil

A crise entre Holanda e China escancarou a vulnerabilidade da cadeia automotiva global diante de componentes minúsculos, mas essenciais. 

Montadoras como Mercedes-Benz, Stellantis, Nissan, Honda e Volkswagen revisaram cronogramas e enfrentaram o risco de paralisação por falta de chips “básicos” (justamente os produzidos pela Nexperia, lembra?).

Ilustração de chip com desenho de carro nele
Crise entre Holanda e China escancarou a vulnerabilidade da cadeia automotiva global de chips para carros (Imagem: Ju Jae-young/Shutterstock)

Especialistas alertaram que um prolongamento do impasse poderia reduzir a produção mundial de veículos, enquanto a dependência de fornecedores asiáticos mostrava que ainda não há alternativas viáveis fora da região.

No Brasil, o impacto seria imediato. A Nexperia é responsável pelos semicondutores usados nos carros flex produzidos no país. Diante do temor de “colapso” no abastecimento, a Anfavea emitiu alerta. E o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin (PSB), acionou a diplomacia. 

Após negociações com o embaixador chinês Zhu Qingqiao, Pequim se comprometeu a manter o envio de chips ao Brasil. O acordo evitou uma repetição da escassez global de 2021. 

Restituição do controle da Nexperia é parcial e conflito interno continua

O recuo da Holanda ocorre num momento em que a China já havia levantado a suspensão de exportações. Pequim liberou os embarques em 9 de novembro, após um acordo comercial com os Estados Unidos no fim de outubro que abriu espaço para uma descompressão diplomática. 

Mesmo assim, Haia decidiu manter salvaguardas, segundo o jornal The Guardian. O governo segue autorizado a retomar a intervenção se considerar que a produção, os ativos ou a propriedade intelectual da Nexperia voltarem a correr risco.

Logo da Nexperia
Governo da Holanda segue autorizado a retomar a intervenção na Nexperia se considerar que algo corre risco (Imagem: T. Schneider/Shutterstock)

Além disso, a empresa terá de continuar a fornecer informações estratégicas ao governo holandês, sobretudo sobre possíveis transferências de recursos produtivos ou tecnológicos. 

Na prática, o controle legal retornou para a Wingtech, mas o monitoramento estatal permanece como contrapeso. O gesto indica que a suspensão é um passo de desescalada, não uma vitória definitiva da China no caso.

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A disputa também segue dentro da própria Nexperia. Em outubro, um tribunal em Amsterdã determinou a remoção do ex-CEO e fundador da Wingtech, Zhang Xuezheng, por “má gestão”. A decisão foi rejeitada pela empresa chinesa, que exigiu que o ministro Karremans retirasse apoio ao processo judicial, de acordo com a Reuters

O governo, porém, se considerou confortável para suspender a intervenção porque a ordem de afastamento continua válida. No setor, fica a incerteza. Durante a crise, montadoras buscaram alternativas. E o papel futuro da Nexperia dependerá de como o mercado reagirá a essas novas rotas.

(Essa matéria também usou informações do jornal The New York Times.)

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