Um novo modelo de inteligência artificial voltado para a área de saúde pode prever o risco de desenvolver doenças com até 20 anos de antecedência ao analisar o histórico médico do paciente, superando tecnologias semelhantes. A ferramenta foi revelada em um estudo publicado na revista Nature, na última quarta-feira (17).
Batizada de Delphi-2M, a IA desenvolvida por cientistas do Reino Unido, Alemanha, Dinamarca e Suíça é capaz de fazer estimativas sobre mais de 1 mil doenças. Ela alcançou 76% de precisão nas previsões de curto prazo e manteve uma média de 70% naquelas com uma década ou mais de antecedência.
Como a IA prevê doenças com antecedência?
Treinada com um banco de dados de mais de 400 mil pessoas do sistema UK Biobank, a nova tecnologia foi testada ao analisar 1,9 milhão de registros de saúde de pacientes dinamarqueses. Ela levou em consideração informações como diagnósticos de doenças, hábitos dessas pessoas e intervalos de tempo entre eventos médicos.
- Dessa forma, o modelo identifica padrões e faz cálculos sobre a probabilidade de registros futuros, estimando quanto tempo até a pessoa ficar doente se o conjunto de eventos mais provável acontecer;
- Para um paciente de 60 anos com diabetes e pressão alta, o Delphi-2M apontou riscos 19 vezes maiores de câncer de pâncreas, por exemplo, além de estimar um risco de mortalidade aumentando quase 10 mil vezes se a pessoa já tiver a doença;
- O desempenho se mostrou melhor em doenças como infartos, septicemia e determinados tipos de câncer, que possuem progressão mais bem definida;
- Por outro lado, foi menos confiável para complicações na gravidez, transtornos mentais e outras condições suscetíveis a uma maior variação de fatores.
As previsões do modelo inovador se aproximaram dos resultados reais dos pacientes avaliados. Ele também igualou ou até superou ferramentas clínicas validadas para tais cálculos, com a diferença de analisar várias condições de uma vez, enquanto os recursos convencionais preveem uma doença.
Com isso, os autores do estudo acreditam que o algoritmo se sairia melhor na identificação de indivíduos com risco maior ou menor de certas condições do que uma avaliação baseada na idade ou outros fatores. Além disso, permitiria intervenções médicas precoces, auxiliando na prevenção de diversas doenças.
Limitações dificultam o uso clínico
Apesar da possibilidade de aprimorar os trabalhos médicos, a IA que prevê doenças ainda não está pronta para implementação em clínicas e hospitais. Por enquanto, ela auxilia na simulação de impactos de estilo de vida, análises de progressão de doenças e de cenários de saúde pública.
Uma das limitações é a baixa diversidade étnica com a qual o Delphi-2M foi treinado, se concentrando em dados de adultos e pessoas brancas. Os pesquisadores ressaltaram a necessidade de ampliar a validação para populações mais diversas, incluindo informações de voluntários da África, América e Ásia.
Também há preocupações quanto à privacidade dos dados, pois a integração com sistemas de saúde pode trazer uma série de problemas técnicos e regulatórios. Para o experimento inicial, as informações dos pacientes foram anonimizadas, dificultando a identificação.
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