IA pode atuar como psicanalista? Especialista responde

A inteligência artificial pode substituir o psicanalista? Seriam os algoritmos capazes de inferir comportamentos conscientes a partir de dados inconscientes ou não psíquicos, aproximando processos computacionais das dinâmicas do psiquismo?

Em artigo publicado no portal The Conversation, Monah Winograd, professora do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), discute as possibilidades e limitações da prática.

Chatbots estão sendo utilizados como forma de curar a saúde mental (Imagem: Wright Studio/Shutterstock)

Máquinas podem superar a capacidade humana?

  • Desde a década de 1990, quando o supercomputador Deep Blue venceu o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, temos nos habituado à ideia de que as máquinas podem superar os humanos em tarefas complexas.
  • Como define Terrence Deacon em seu livro Incomplete nature: how mind emerged from matter, a computação é um processo no qual uma parte do mecanismo altera outra, em série, até executar uma instrução.
  • Os algoritmos são sequências finitas de ações executáveis — descrições do que deve ocorrer —, mas não propriamente processos físicos em si mesmos.
  • São padrões, estruturas abstratas que operam sobre símbolos, sem necessariamente compreender seu significado.
  • Essa lógica levou muitos cognitivistas a acreditar que bastaria modelar adequadamente a mente humana em linguagem computacional para simular seus processos.
  • Mas, segundo a especialista, ao fazê-lo, negligenciaram que representações mentais não são apenas sintáticas, mas são também semânticas, intencionais e normativas.

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Ferramentas não conseguem substituir profissionais humanos (Imagem: Ground Picture/Shutterstock)

IA precisaria ser capaz de ouvir o que o paciente tem a dizer

Monah Winograd afirma que, se por um lado a tecnologia tem muito a oferecer às ciências da mente, por outro, há um risco evidente de excessos. Com a crescente popularidade de terapias automatizadas que reivindicam referências à psicanálise, é urgente que a própria psicanálise se posicione: um robô pode ser psicanalista? E, se não pode, por quê?

Um dos argumentos mais contundentes contra a equivalência entre mente humana e máquina vem do filósofo John Searle, com seu famoso experimento mental: o quarto chinês. Imagine uma pessoa trancada em uma sala, sem entender chinês, mas com um manual de regras que permite responder a símbolos com base apenas em sua forma, sem saber o que significam. Do lado de fora, quem observa acredita que a pessoa dentro da sala “sabe chinês”, já que responde adequadamente às perguntas. No entanto, ela apenas manipula signos, mas não compreende nada.

Monah Winograd, professora do Departamento de Psicologia da PUC-Rio

Apesar de todos os avanços, IA não consegue sentir (Imagem: Yuichiro Chino/Shutterstock)

O experimento citado mostra que a sintaxe não é suficiente para gerar semântica. Manipular signos não equivale a atribuir sentido. Uma IA pode parecer inteligente, mas isso não implica sentir e experimentar sensações.

A psicanálise — se quiser preservar sua função insubstituível — deve se concentrar não na manipulação sintática de significantes, mas na escuta do desejo, no manejo do afeto, na construção de sentido compartilhado. Mesmo abordagens que valorizam o sistema fechado da linguagem devem reconhecer que o que as máquinas não têm é justamente o que constitui a experiência psicanalítica: desejo, sentido e afeto. Por isso, a psicanálise não pode ser reduzida a um algoritmo. Ela existe no espaço entre palavras, no silêncio entre frases, na transferência entre sujeitos. Um chatbot pode conversar com você pela manhã. Mas ouvir, de fato — isso ainda é função do analista.

Monah Winograd, professora do Departamento de Psicologia da PUC-Rio

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