Já imaginou conversar com alguém que já partiu – e ouvir uma resposta quase real? A inteligência artificial está tornando isso possível.
Conheça os “deathbots”, sistemas capazes de recriar a voz, o estilo e até a personalidade de pessoas falecidas. A dúvida é: será que essas conversas funcionam mesmo? Uma pesquisa publicada na revista Memory, Mind & Media traz algumas respostas.

Como os “deathbots” permitem essa conversa
Os “deathbots” usam a IA para simular quem já se foi. Eles analisam rastros digitais – como mensagens, áudios, e-mails e postagens – para criar um avatar que fala e reage como o falecido. É a promessa de manter a lembrança de alguém viva em formato de chatbot.
Isso é feito a partir de:
- Preservação de memória: gravar e organizar histórias pessoais por temas.
- Interação contínua: criar chatbots que respondem de forma natural com base nos dados coletados.
- Aprimoramento automático: o sistema “aprende” e melhora conforme interage.
- Interface emocional: algumas plataformas tentam reproduzir empatia, gestos e tom de voz.
No projeto Passados Sintéticos, as pesquisadoras criaram versões digitais de si mesmas para testar se seria possível manter uma conversa natural com esses “eus” artificiais. O resultado foi tão curioso quanto inquietante.
“Alguns sistemas ajudam os usuários a gravar e armazenar histórias pessoais, organizadas por tema, como infância, família ou conselhos para entes queridos. A IA então indexa o conteúdo e guia as pessoas por ele, como um arquivo pesquisável”, explicam as autoras em artigo no The Conversation.
Outros sistemas, continuam, “usam a IA generativa para criar conversas contínuas”. Nesse caso, o usuário carrega dados sobre a pessoa e o sistema cria um chatbot capaz de responder no “tom e estilo dessa pessoa”.

A fronteira entre o real e o artificial
De início, as conversas pareciam espontâneas, mas quanto mais as pesquisadoras personalizavam o avatar, mais “mecânica” a experiência se tornava. Emojis alegres e frases otimistas surgiam mesmo quando o assunto era morte ou saudade.
Em uma resposta típica, o “deathbot” dizia:
“Estou aqui para você, sempre pronto para oferecer encorajamento e apoio. Vamos enfrentar o dia juntos, com positividade e força.”
A tentativa de soar humano acabava reforçando a artificialidade. O algoritmo falhava em captar nuances emocionais, tornando o contato mais estranho do que reconfortante.

Quando a memória vira um negócio
Essas experiências não vêm de instituições de caridade, mas de startups que transformam lembranças em produto. “Taxas de assinatura, planos ‘freemium’ e parcerias com seguradoras ou prestadores de serviços de saúde revelam que a memória está sendo transformada em um produto”, pontuam as pesquisadoras.
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A ideia de “reviver” os mortos por meio de IA parece futurista, mas levanta questões profundas. As plataformas prometem devolver vozes e gestos, mas acabam oferecendo apenas uma simulação emocional.
Em resumo, a IA pode preservar histórias, mas não substitui a complexidade de um ser humano real. As “vidas após a morte sintéticas” são fascinantes justamente por revelarem seus limites – e por mostrarem que, ao tentar falar com os mortos, acabamos ouvindo mais sobre nós mesmos.
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