As igrejas estão se transformando em data centers, e a fé, em um produto monitorável. É o que indica um novo documentário de investigação jornalística da MIT, que expõem como templos religiosos nos Estados Unidos estão usando plataformas de dados e IA como ferramentas de vigilância e proselitismo político. Longe de ser uma novidade inocente, essa tecnologia visa rastrear e perfilar indivíduos vulneráveis, como pessoas endividadas, com problemas de saúde mental ou vícios, para atraí-las e, em última instância, radicalizá-las.
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O app Gloo, cuja empresa é chefiada pelo ex-gerente executivo da Intel, Pat Gelsinger, supostamente vendem sistemas que analisam dados dos fiéis, como frequência de cultos, doações e até palavras-chave em pedidos de oração. As informações são cruzadas com dados externos, como histórico de crédito e hábitos de consumo, pra criar um perfil espiritual de cada pessoa. Com isso, as igrejas conseguem enviar mensagens personalizadas e campanhas de doações.
Algumas igrejas chegam a usar reconhecimento facial para monitorar quem entra e sai. O objetivo é auxiliar as igrejas a se conectarem, se engajarem e conhecerem seus membros em um nível mais profundo. No entanto, o enfoque subjacente é um pouco mais sombrio. Ela permite que igrejas, grandes e pequenas, coletem dados sobre seus congregados para construir perfis detalhados de suas vidas, incluindo problemas pessoais e financeiros. Esse modelo, que trata os fiéis como “clientes” a serem engajados, levanta sérias questões sobre a privacidade e a natureza da confiança na fé.
Ide e pregai o… algoritmo?

A tática de vigilância tem como alvo a população mais suscetível. A plataforma, acessível a milhares de igrejas em todo o país, permite identificar áreas geográficas com altas taxas de divórcio, dependência de opioides ou dificuldades financeiras. A justificativa oficial é oferecer ajuda, mas a denúncia aponta que a verdadeira intenção é monetizar a vulnerabilidade dos fiéis por doações e, sobretudo, convertê-los a uma agenda política radical. A tecnologia de dados, que pode parecer uma ferramenta de “ajuda”, na verdade, se torna um mecanismo de recrutamento, minando a autonomia e a privacidade dos indivíduos.
A crescente adoção dessas ferramentas de vigilância nas igrejas está alterando fundamentalmente a relação entre os fiéis e suas comunidades. O que antes era uma conexão baseada na confiança e na fé agora é mediado por algoritmos. A eficiência prometida por essa abordagem tecnológica, onde a fé é gerenciada por métricas de engajamento, ameaça a essência das relações interpessoais e comunitárias que são o pilar de muitas religiões.
Construção de comunidade ou estratégia mercadológica?

A Gloo, uma das principais empresas no mercado de “faith-tech”, busca inserir o setor religioso na era do conhecimento algorítmico. A companhia se apresenta como a principal plataforma para conectar o “ecossistema da fé”, e seu modelo de negócios tem atraído um investimento de milhões de dólares. No entanto, as evidências sugerem que essa abordagem tecnológica não é neutra. Ao coletar informações pessoais e comportamentais dos fiéis, a plataforma cria um perfil “muito mais rico do que qualquer impressão superficial”, permitindo que as igrejas otimizem a “missão” por meio da análise de dados.
O uso de IA para “ajudar” os fiéis levanta uma questão crucial sobre a moralidade da tecnologia e sua aplicação em questões de fé e ética. Enquanto a Gloo afirma que sua tecnologia é “alinhada a valores bíblicos”, críticos questionam se uma ferramenta sem alma pode realmente oferecer uma orientação espiritual legítima. A perigosa convergência entre fé e vigilância, tem o potencial de minar a autonomia dos indivíduos e transformar a igreja em um instrumento de poder e controle.
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