A comunidade indígena Anacé apresentou uma queixa formal contra a construção do datacenter do TikTok em Caucaia, no Ceará, alegando que a obra acontecerá em suas terras. No documento enviado às autoridades federais, no final de agosto, o grupo solicitou a suspensão imediata dos trabalhos.
No início do mês passado, os indígenas ocuparam a sede da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE) em protesto contra a autorização para a instalação do empreendimento na região metropolitana de Fortaleza. A iniciativa, operada pela empresa de energia eólica Casa dos Ventos, é orçada em R$ 55 bilhões.
Por que os Anacé querem barrar o datacenter em Caucaia?
Em entrevista ao site Rest of World, o cacique Roberto Ytaysaba Anacé afirmou que a comunidade não foi consultada a respeito do licenciamento para a obra, violando um acordo internacional. Isso aconteceu devido à falta de propriedade oficial da terra, embora antepassados do grupo tenham se estabelecido na região por volta de 1600.
- Questões ambientais também são citadas, principalmente em relação ao consumo de água e o histórico de seca na área de Caucaia;
- A estimativa oficial aponta que a instalação consuma em torno de 30 mil litros de água diariamente, mas o número é contestado, por se apresentar muito abaixo de iniciativas semelhantes;
- Citando estudos internacionais, o grupo indica o uso de 11 milhões de litros a 19 milhões de litros de água por dia em datacenters com o mesmo tamanho;
- O líder da comunidade pediu, ainda, que as 1.500 famílias sejam consultadas sobre planos futuros, em um processo seguindo a Convenção da Organização Internacional do Trabalho, que exige a supervisão de autoridades ambientais.
Segundo Ytaysaba, os moradores estão dispostos a dar novos passos para tentar impedir a construção do datacenter do TikTok no Ceará, mesmo que isso represente riscos. Pelo menos sete lideranças do grupo foram incluídas em programas de proteção a defensores do meio ambiente por causa de ameaças de morte.
Bloqueio de rodovias e ocupação de um escritório do governo estão entre as próximas fases planejadas do protesto. Há dois anos, os Anacé processaram uma empresa interessada em erguer uma usina termelétrica no local e comemoram mesmo perdendo o caso, já que a instalação foi levada para outra região.
O que disse o TikTok?
Questionado pela reportagem sobre a consulta à comunidade para o início da obra, o app de vídeos não respondeu, até o momento. Já a Casa dos Ventos informou que a obra não viola as regras de licenciamento ambiental nem se sobrepõe a qualquer território indígena titulado.
É válido destacar que protestos semelhantes têm ocorrido em outros países, diante da alta demanda por datacenters. Em alguns casos, as comunidades indígenas trabalham em colaboração com as empresas, como a Microsoft na Austrália e companhias do ramo no Canadá.
Já em outros, a resistência dos moradores prevaleceu. A Meta precisou arquivar o projeto de um datacenter na Holanda depois de protestos, assim como o Google, que teve a construção de um empreendimento suspensa no Chile por ordem da justiça quando a comunidade descobriu que a instalação gastaria 7 bilhões de litros de água anualmente.
Curtiu o conteúdo? Leia mais notícias no TecMundo e compartilhe-as nas redes sociais com os amigos.