A Intel está enfrentando uma reestruturação significativa devido a desafios estratégicos e financeiros. A empresa, que dominou por muito tempo o mercado de chips para PCs, falhou em prever a explosão da demanda por chips potentes usados em inteligência artificial (IA), perdendo terreno para concorrentes, como Nvidia, AMD e TSMC.
Isso resultou em seis trimestres consecutivos de perdas, o maior período em 35 anos. Para reverter essa situação, a Intel está cortando 15% de sua força de trabalho (principalmente gerência média) e cancelando planos de gastos bilionários em novas instalações, focando em lucratividade e na competitividade no mercado de chips de IA.

Pilares da reestruturação da Intel
A nova estratégia da Intel sob o comando do CEO Lip-Bu Tan foca em quatro pilares principais:
- Recapturar participação de mercado em processadores para PCs;
- Investir pesadamente no altamente competitivo mercado de chips de IA;
- Desenvolver sua tecnologia avançada 14A para vender para grandes clientes;
- Ainda, a empresa pretende concentrar-se em produtos relacionados ao desenvolvimento de modelos de IA capazes de tomar decisões e realizar tarefas complexas;
- O lema é “não há mais cheques em branco“, ou seja, cada investimento deve fazer sentido econômico.
Segundo o The Wall Street Journal, para competir com Nvidia e TSMC, a Intel está direcionando seus esforços para o mercado de chips de inteligência artificial (IA), onde ficou para trás.
Embora o roteiro detalhado ainda esteja sendo formado, a empresa planeja se concentrar em produtos que impulsionam o desenvolvimento de modelos de IA com capacidades de tomada de decisão.
Além disso, a Intel está apostando em suas tecnologias de fabricação, como a 18A, que será usada em seus próximos processadores móveis Panther Lake, e a 14A, que visa produzir chips mais eficientes com mais transistores, atraindo grandes designers de chips como clientes.
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Cortes bilionários em projetos
A Intel está cancelando planos de gastar dezenas de bilhões de dólares em novas instalações de chips na Europa. Além disso, o projeto de construção de uma fábrica de chips de US$ 28 bilhões (R$ 154,60 bilhões, na conversão direta) perto de Columbus, Ohio (EUA), que deveria ser concluído até o final de 2025, foi adiado para depois de 2030.
Essas medidas visam garantir que os gastos estejam alinhados com a demanda e os objetivos econômicos da empresa, marcando uma transição de uma estratégia de expansão agressiva para uma abordagem mais focada e financeiramente responsável, explica o jornal.
As demissões e a reestruturação são respostas às perdas financeiras da Intel. A empresa registrou prejuízo de US$ 2,9 bilhões (R$ 16,01 bilhões) no segundo trimestre, uma ampliação em relação às perdas de US$ 1,6 bilhão (R$ 8,83 bilhões) no mesmo período do ano anterior. Este é o sexto trimestre consecutivo de perdas.
Embora a receita do trimestre de junho tenha ficado estável em US$ 12,9 bilhões (R$ 71,22 bilhões), superando as expectativas de Wall Street, a empresa ainda está trabalhando para retornar à lucratividade e à estabilidade financeira. As demissões, que começaram nas primeiras semanas do trimestre atual, visam reduzir a força de trabalho para um total de 75 mil até o final do ano, explica o WSJ.

E Lip-Bu Tan, qual é seu desafio?
Lip-Bu Tan assumiu como CEO da big tech em março, substituindo Pat Gelsinger, e enfrenta a difícil tarefa de reverter a situação da empresa.
Veterano investidor na indústria de semicondutores, Tan tem a responsabilidade de fornecer um roteiro claro para os investidores sobre como ele planeja resolver os desafios complexos da Intel. Sua liderança está por trás da nova ênfase na lucratividade, cortes de custos e no foco estratégico nos chips de IA, sinalizando uma mudança de direção em relação à expansão de fábrica que Gelsinger havia priorizado.
As tecnologias 18A e 14A são cruciais para o futuro da Intel. A 18A é usada principalmente para fabricar chips de PC projetados pela Intel e é considerada “a coisa mais importante que estamos fazendo agora” pelo diretor financeiro David Zinsner.
O primeiro produto a ser fabricado usando a 18A, os processadores móveis Panther Lake, será lançado ainda este ano. A tecnologia 14A, por sua vez, é uma aposta para o crescimento futuro, permitindo chips mais eficientes com mais transistores. A Intel espera desenvolver essa tecnologia até o final da década, visando atrair grandes designers de chips como clientes, diz o Journal.
Governo Trump no meio disso tudo
O Chips Act, de 2022, implementado pelo ex-presidente dos EUA Joe Biden, forneceu bilhões em financiamento governamental para a expansão da capacidade de fabricação de chips nos EUA. A Intel se beneficiou desse ato, com fundos designados para a expansão de sua fábrica. No entanto, para receber o dinheiro, a empresa deve cumprir marcos de construção e operacionais.

O atraso na conclusão da fábrica de Ohio, originalmente auxiliada pelo Chips Act, indica que a Intel está reavaliando seus compromissos e prioridades de gastos, alinhando-os com a demanda e a realidade econômica, mesmo com o apoio governamental.
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