A Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, vê 55% de chance de um La Niña fraco se firmar e moldar o clima entre dezembro de 2025 e fevereiro de 2026. É uma sinalização antecipada de que o padrão atmosférico pode mudar no trimestre, com impactos espalhados pelo planeta.
Mesmo assim, a agência alerta: o resfriamento global temporário típico do La Niña não deve impedir que muitas regiões registrem temperaturas acima da média.
A previsão, divulgada nesta quinta-feira (04), parte de indicadores oceânicos e atmosféricos que já mostravam um cenário “quase La Niña” no meio de novembro. Ou seja, uma situação no limite, ainda indefinida, agora aparece com mais clareza nos modelos.
OMM detalha o La Niña e projeta retorno à neutralidade no início de 2026
O La Niña começa com um resfriamento amplo da superfície do Pacífico Equatorial Central e Centro-Leste, movimento que reorganiza a circulação tropical.

É um ajuste periódico. Quando as águas caem 0,5°C ou mais, o fenômeno é oficialmente caracterizado e passa a influenciar ventos, pressão atmosférica e a forma como a chuva se distribui pelos continentes.
A dinâmica é conhecida, mas nunca igual. Cada episódio responde de um jeito às condições do oceano e da atmosfera.
Essas oscilações aparecem em ciclos que, historicamente, voltam num período de três a cinco anos. O episódio mais recente, fraco e curto, terminou em abril de 2025, segundo a Noaa, a agência oceânica e atmosférica dos EUA.
Agora, com sinais de resfriamento reaparecendo, a OMM volta a apontar um padrão típico do fenômeno. Mas em sua versão moderada, de curta duração e com efeitos espalhados de forma desigual.
Para os próximos três meses, o mapa de temperaturas tende a fugir da lógica intuitiva. Mesmo com o resfriamento oceânico, a OMM projeta valores acima do normal em grande parte do Hemisfério Norte e também em amplas regiões do Hemisfério Sul.
Já as chuvas devem seguir o desenho clássico de uma La Niña fraca, com impactos mais marcados nas faixas tropicais e subtropicais, onde os ventos respondem com mais sensibilidade ao comportamento do Pacífico.
No horizonte, porém, o fenômeno começa a perder força. Entre janeiro e março e depois entre fevereiro e abril de 2026, a probabilidade de um retorno à neutralidade sobe de 65% para 75%.
O risco de um El Niño despontar nesse intervalo é considerado “muito baixo”. Até lá, os Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais seguem no monitoramento contínuo para orientar governos e setores que dependem de previsões climáticas de curto prazo.
Mais chuvas no Norte e tempo seco no Sul: os efeitos do La Niña no Brasil
O La Niña costuma reorganizar o mapa climático brasileiro. No Norte e no Nordeste, o efeito clássico é de chuvas mais frequentes. O Sudeste pode enfrentar semanas atípicas de frio, enquanto o Sul tende a ficar mais seco.

Mesmo assim, a OMM projeta temperaturas acima do normal no Hemisfério Sul entre dezembro e fevereiro. Isso deve atingir o Norte, o Nordeste e também o extremo Sul do Brasil.
O contraponto é o El Niño, fase positiva do Enos – sigla para El Niño–Oscilação Sul, o sistema climático que engloba tanto o El Niño quanto a La Niña.
O El Niño costuma inverter essa lógica, especialmente nas regiões tropicais. Ele reforça o calor no verão, suaviza o inverno e dificulta a chegada de frentes frias no Brasil.
No Norte e no Nordeste, o padrão se traduz em seca – chuvas abaixo da média, sobretudo nas áreas equatoriais. Já no Sul e no Sudeste, o fenômeno empurra chuvas excessivas e ainda alimenta ciclones tropicais no Pacífico.
Isso eleva o risco de inundações em partes das Américas. Em 2024, por exemplo, pesquisas apontam que o El Niño atuou como intensificador das cheias no Rio Grande do Sul.
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Esses eventos naturais, porém, não acontecem no vácuo. Eles operam dentro de um planeta em aquecimento acelerado pela ação humana, que eleva temperaturas de longo prazo, intensifica extremos e remodela o ritmo das chuvas.
As projeções oficiais indicam que 2025 deve terminar como o segundo ou terceiro ano mais quente já registrado,o que reforça a pressão do clima sobre setores sensíveis.
Nesse contexto, previsões sazonais tornam-se uma forma de inteligência climática. Como resume a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, essas informações “ajudam a evitar milhões de dólares em perdas econômicas e a salvar inúmeras vidas”.
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