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Lua “piscando”: o mistério milenar que a ciência ainda não decifrou

by Fesouza
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Relatos de misteriosos flashes de luz na Lua intrigam observadores há mais de mil anos. Desde muito antes da invenção do telescópio, pessoas afirmam ter visto fenômenos luminosos que iluminam brevemente a superfície lunar. Apesar de esses registros se estenderem por séculos, a ciência levou muito tempo para levá-los a sério e, até hoje, não existe uma explicação definitiva.

Observações documentadas desses chamados Fenômenos Lunares Transitórios (LTPs, na sigla em inglês) remontam pelo menos ao século VI d.C. Um estudo que reuniu relatos desse tipo entre os anos de 557 e 1994 contabilizou 2.254 observações com informações suficientes para análise adicional.

Destas, 645 foram confirmadas independentemente ou registradas em fotografias, espectros, fotometria e polarimetria. Outras 448 não puderam ser explicadas por efeitos atmosféricos ou instrumentais terrestres, sendo classificadas como possivelmente de origem lunar.

Meteoro
Uma das teorias é que meteoros atingem a Lua e criam os flashes (Imagem: Marko Aliaksandr/Shutterstock)

Um dos registros mais antigos e famosos ocorreu em 18 de junho de 1178, quando monges relataram ter visto um clarão intenso na superfície lunar. O cronista medieval Gervase de Canterbury descreveu o evento:

“Agora havia uma nova e brilhante Lua, e, como de costume nessa fase, seus chifres estavam inclinados para o leste; de repente, o chifre superior se dividiu em dois. Do meio da divisão surgiu uma tocha flamejante, expelindo fogo, carvão quente e faíscas”. Ele acrescentou que “o corpo da Lua abaixo se contorceu, como uma cobra ferida, e, depois, voltou ao seu estado normal”.

Os fenômenos continuaram sendo observados nos séculos seguintes. Em 1939, o astrônomo amador e comunicador científico Patrick Moore testemunhou um desses flashes e cunhou o termo “fenômenos lunares transitórios” para descrevê-los.

“Tem havido muita discussão recente sobre os LTPs ou fenômenos lunares transitórios. Minha única qualificação para discuti-los é que venho observando-os há quase 40 anos e registrei vários, mas foi apenas nos últimos anos que foram aceitos como reais”, escreveu Moore em um artigo de 1977.

Pontos alcançados pela missão NELIOTA
Pontos alcançados pela missão NELIOTA, que já detectou o fenômeno (Imagem: Divulgação/ESA)

Características dos flashes vistos na Lua

  • Segundo ele, os eventos podem assumir várias formas: “alguns são apenas obscurecimentos locais, escondendo detalhes da superfície normalmente visíveis; outros são claramente coloridos, geralmente vermelhos”;
  • Moore lembrou ainda a observação clássica feita por Kozyrev, em 1958, que registrou um TLP avermelhado na cratera Alphonsus e obteve espectrogramas confirmatórios;
  • Embora por muito tempo se acreditasse que fossem raros, observações recentes mostram que esses eventos ocorrem com mais frequência do que se pensava;
  • Entre 2017 e 2023, o programa NELIOTA, da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), monitorou a Lua em períodos em que estava parcialmente escura, registrando 55 eventos em 90 horas de observação;
  • A partir desses dados, a ESA estimou que ocorrem, em média, quase oito flashes por hora em toda a superfície lunar.

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E o que deve ser isso?

As explicações propostas para o fenômeno variam. Uma hipótese popular sugeriu que o gás radônio estaria sendo liberado do subsolo lunar.

Em 2007, o professor de astronomia da Universidade Columbia (EUA) Arlin Crotts defendeu essa possibilidade: “As pessoas atribuíram os TLPs a todo tipo de efeito: turbulência na atmosfera terrestre, efeitos fisiológicos visuais, distorções de luz e até histeria. Mas os TLPs se correlacionam fortemente com o vazamento de radônio da Lua. Nenhum efeito terrestre pode simular isso.”

Lua “piscando”: o mistério milenar que a ciência ainda não decifrou
Outra hipótese é o vazamento de radônio para a superfície lunar (Imagem: Francesco Scatena/Shutterstock)

Mais recentemente, a explicação mais aceita é que os flashes são causados por impactos de meteoritos na superfície lunar, desprotegida por atmosfera. Ainda assim, essa teoria não resolve todos os casos. A missão Clementine, da NASA, registrou quatro desses eventos em 1994, mas, ao examinar o local posteriormente, não encontrou alterações visíveis que indicassem impacto.

Apesar dos avanços, cientistas afirmam que mais estudos são necessários. As hipóteses de impactos meteóricos e possível atividade geológica continuam sendo as explicações mais prováveis para os misteriosos flashes que, há mais de um milênio, intrigam quem observa a Lua.

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