Um artigo publicado nesta segunda-feira (24) na revista Nature Astronomy sugere que pequenas luas geladas do Sistema Solar podem esconder oceanos que chegam a ferver sob suas superfícies. A descoberta reforça o interesse científico por esses mundos remotos, vistos como possíveis candidatos na busca por vida extraterrestre devido à presença de água líquida.
Estudos anteriores já haviam proposto que algumas luas, como Encélado, de Saturno, não são blocos congelados por completo. Entre o gelo externo e o núcleo rochoso, elas podem guardar enormes reservatórios de água. E, como a presença de água costuma ser um dos principais indicadores de ambientes favoráveis à vida, esses oceanos escondidos se tornaram alvos promissores para futuras explorações científicas.
Em resumo:
- Pesquisadores apontam que luas geladas do Sistema Solar escondem oceanos subterrâneos ferventes;
- Essas águas profundas atraem o interesse científico pela possibilidade de abrigar vida extraterrestre;
- Novo estudo investigou como o gelo muda ao longo de eras, analisando o afinamento provocado por interações gravitacionais contínuas;
- Pressão reduzida pode alcançar ponto triplo e iniciar “ebulição fria”;
- Essa fervura superficial pode liberar gases que ajudam a moldar a superfície.
Cientistas analisaram o afinamento das camadas de gelo
Para investigar como os oceanos subterrâneos se comportam, o geofísico Maxwell Rudolph, da Universidade da Califórnia em Davis, EUA, analisou processos que afetam as camadas de gelo ao longo de centenas de milhões de anos. A principal dúvida era se mudanças na espessura desse gelo poderiam abrir fissuras profundas, conectando a superfície ao oceano interno e permitindo jatos de água escaparem para o espaço.
Em trabalhos anteriores, Rudolph e sua equipe estudaram o que acontece quando o gelo dessas luas se torna mais espesso. Como o gelo ocupa mais volume que a água líquida, o congelamento gera pressão interna e pode criar padrões marcantes, como as famosas “listras de tigre” observadas em Encélado.
No novo estudo, os pesquisadores analisaram o processo contrário: o afinamento das camadas de gelo. Isso pode acontecer quando o gelo derrete na base, especialmente por causa das forças gravitacionais que essas luas sofrem ao interagir com outras. Um exemplo é Mimas, outra lua de Saturno, cuja órbita apresenta uma oscilação suspeita, possivelmente causada pela presença de um oceano subterrâneo relativamente jovem.
Segundo a pesquisa, quando o gelo dessas pequenas luas fica mais fino, a pressão sobre o oceano diminui. Em corpos muito pequenos, como Mimas, Encélado ou Miranda (satélite de Urano), essa queda de pressão pode chegar ao chamado “ponto triplo” da água – a condição em que gelo, líquido e vapor podem coexistir. Nesse cenário, a água próxima à superfície pode começar a ferver, mesmo sem atingir altas temperaturas.
Essa “ebulição fria” ocorre quase a zero grau Celsius. De acordo com o explicado por Rudolph o site Space.com, isso não impediria a sobrevivência de possíveis formas de vida, já que a fervura aconteceria apenas em regiões rasas, enquanto o restante do oceano permaneceria estável. Assim, organismos hipotéticos poderiam viver normalmente nas áreas mais profundas e protegidas.
Nas luas maiores, com diâmetro acima de 600 km, o comportamento parece diferente. Em Titânia, de Urano, por exemplo, a queda de pressão seria insuficiente para atingir o ponto triplo. A camada de gelo provavelmente se quebraria antes disso, criando fraturas e deformações. Os pesquisadores sugerem que algumas estruturas da superfície de Titânia podem ter surgido justamente após fases alternadas de afinamento e espessamento do gelo.
A equipe também destaca que a fervura interna pode liberar gases que formam clatratos, estruturas de gelo que aprisionam moléculas. Estudos futuros devem investigar como esses gases se movimentam, como são armazenados e que tipos de marcas podem deixar na superfície dessas luas geladas.
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Podemos estar muito perto de encontrar lua habitável de Avatar na vida real
Pesquisadores da Universidade do Arizona, nos EUA, sugerem que luas habitáveis – como Pandora, da franquia Avatar – podem ser detectadas em exoplanetas próximos usando uma técnica chamada astrometria, que mede pequenas oscilações na posição das estrelas.
Essa abordagem pode identificar luas com massa suficiente para manter atmosfera e oceanos. A descoberta reforça a ideia de que mundos semelhantes a Pandora podem existir em sistemas próximos do Sol. Saiba mais aqui.
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