Documentos internos analisados pela Reuters indicam que a Meta obtém receitas bilionárias com anúncios fraudulentos veiculados em suas redes sociais, tendo projetado faturar US$ 16 bilhões com esse tipo de publicidade em 2024, o equivalente a R$ 85,4 bilhões pela cotação do dia. A empresa diz que os números foram “distorcidos”.
Conforme a reportagem publicada nesta quinta-feira (6), cerca de 15 bilhões de anúncios com sinais claros de golpe são exibidos aos usuários a cada dia. Somente com tal categoria, a big tech fatura US$ 7 bilhões anualmente, ou R$ 37,3 bilhões.
Sistemas de detecção insuficientes
Elaborados entre 2021 e 2025 pelos setores de finanças, lobby, engenharia e segurança, os relatórios internos obtidos pela agência de notícias mostram que grande parte da publicidade enganosa é detectada pelos sistemas da Meta. No entanto, só são proibidos os anúncios com 95% de certeza de envolvimento em fraude.
- Mesmo acreditando que o anunciante é um golpista, a empresa permite que ele divulgue em suas redes se a certeza for menor do que isso;
- Nesses casos, ela cobra taxas mais altas para a divulgação da publicidade como forma de dissuadir anunciantes suspeitos;
- Quem clica nas propagandas fraudulentas provavelmente terá acesso a mais conteúdos do tipo, devido ao mecanismo de personalização de anúncios;
- A gigante da tecnologia não conseguiu detectar e bloquear esses materiais enganosos durante três anos, expondo bilhões de usuários a cassinos online ilegais, produtos médicos proibidos, esquemas de investimento e lojas online falsas.
Os documentos também indicam que a companhia reconhece alguns de seus principais concorrentes realizando um trabalho melhor de moderação de anúncios. “É mais fácil anunciar golpes nas plataformas da Meta do que no Google”, aponta uma análise interna de abril.
Nos relatórios, a big tech deixa claro que pretende reduzir a receita com publicidade ilícita no futuro. Porém, ela também tem preocupações em relação a como essa medida pode afetar seus negócios.
Famílias de baixa renda impactadas
Segundo a pesquisa “Fraude, IA e dinheiro falso: como a Meta lucra bilhões com golpes e exploração de famílias carentes no Brasil”, pessoas de baixa renda e beneficiários de programas sociais são os principais alvos de publicidade enganosa no território nacional. O estudo analisou 16 mil anúncios em setembro deste ano.
Deste total, 52% traziam indícios de golpes e 9% foram confirmados como fraudulentos pelo Projeto Brief, que realizou a análise. Ofertas de empréstimo e crédito consignado para aposentados, trabalhadores formais e beneficiários do Bolsa Família representavam a maioria deles.
O relatório, que integra a iniciativa “Quem Paga a Banda”, mostra que os golpes são tolerados pelas plataformas e estruturados em um modelo para se alimentar da vulnerabilidade dos usuários de redes sociais. Além disso, muitas dessas campanhas usam deepfakes para enganar as pessoas.
O que diz a Meta?
Em comunicado, a dona do Facebook afirmou que os relatórios analisados pela reportagem “apresentam uma visão seletiva que distorce a abordagem da Meta a fraudes e golpes”. O porta-voz da empresa, Andy Stone, disse que o faturamento real é menor, mas não forneceu valores atualizados.
Ele também comentou que as denúncias de usuários de anúncios fraudulentos caíram 58% nos últimos 18 meses globalmente. A big tech afirma ter removido mais de 134 milhões de conteúdos relacionados a golpes em 2025, até o momento.
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