As mudanças climáticas podem trazer sérios riscos à cadeia de suprimentos da indústria farmacêutica, afetando desde a produção até a entrega de medicamentos. Isso representa um desafio direto à saúde global, já que qualquer interrupção pode dificultar o acesso de milhões de pessoas aos remédios que precisam.
Para evitar esse cenário, empresas do setor estão investindo em redução de emissões, processos mais sustentáveis e maneiras de tornar sua logística mais resiliente, segundo o ArsTechnica. A preocupação é grande porque a cadeia farmacêutica é altamente vulnerável a eventos extremos, como ondas de calor, frio intenso ou enchentes.

O objetivo é garantir que os medicamentos cheguem ao destino em perfeitas condições, sem defeitos ou atrasos, mesmo diante de um clima cada vez mais imprevisível.
Mudanças climáticas estão entre as principais preocupações da indústria
Pesquisadores de Harvard investigaram como eventos climáticos extremos afetam a indústria farmacêutica nos Estados Unidos, analisando a frequência com que desastres naturais atingem fábricas de medicamentos.
Com base em dados da Food and Drug Administration (FDA), foram identificadas mais de dez mil instalações ativas entre 2019 e 2024, cobrindo todo o ciclo de produção de medicamentos – da análise da matéria-prima à fabricação de ingredientes ativos e ao envase final.

- Os pesquisadores cruzaram a localização dessas unidades com registros de emergências climáticas, incluindo furacões, tempestades, tornados, incêndios e inundações. O resultado mostrou que, em seis anos, 6.819 instalações (63%) foram atingidas por ao menos um desastre, enquanto 2.146 fábricas (33%) enfrentou algum evento climático por ano;
- O estudo alerta que um terço das instalações do país está sob risco de desastres, evidenciando a fragilidade das cadeias de suprimentos, especialmente quando uma única empresa responde por até 60% do fornecimento de um determinado medicamento;
- Essas descobertas ressaltam a importância de reconhecer as vulnerabilidades climáticas e a necessidade urgente de transparência na cadeia de suprimentos, de alocação estratégica da produção e de estratégia de gestão de riscos de desastres para evitar interrupções na assistência médica nos Estados Unidos, concluíram os autores no estudo publicado na JAMA.
Leia mais:
- Exclusivo: “Amazônia está à beira do precipício”, alerta Carlos Nobre
- Lama da Antártida pode ajudar a combater as mudanças climáticas; entenda
- Como as mudanças climáticas afetam nosso cérebro?
Outro estudo corroborou com os resultados de Harvard
Outro estudo, este realizado pela Sociedade Americana do Câncer, chegou às mesmas conclusões que o estudo de Harvard e, segundo a pesquisadora sênior Letícia Nogueira, diretora científica em serviços de saúde da sociedade, “a escassez de medicamentos após desastres climáticos demonstra como a cadeia de suprimentos farmacêutica ainda não é resiliente às interrupções relacionadas ao clima”.

A pesquisa também analisou dados da FDA, no mesmo período do estudo de Harvard, mas alcançou 11 mil unidades de produção ativas.
De acordo com os pesquisadores, furacões foram o desastre climático mais comum a ameaçar as unidades de produção de medicamentos. Por exemplo, quando Porto Rico e Carolina do Norte (EUA) foram impactadas por furacões, respectivamente em 2017 e 2024, houve escassez nacional de fluidos intravenosos, afirmou a equipe.
Esses eventos de desastre representaram riscos de interrupções para as unidades ativas em todos os aspectos da cadeia de suprimentos, desde a fabricação de ingredientes farmacêuticos ativos até a embalagem, interrupções que poderiam ser ainda mais ampliadas pelo tempo necessário para a reinspeção das instalações danificadas pela FDA.
Letícia Nogueira, pesquisadora sênior e diretora científica em serviços de saúde da Sociedade Americana do Câncer, ao site UPI.
As descobertas ressaltam a importância de reconhecer as vulnerabilidades relacionadas ao clima e a urgente adoção de uma estratégia para tornar a cadeia de suprimentos mais transparente e resiliente.
O post Mudanças climáticas colocam em risco produção e distribuição de medicamentos apareceu primeiro em Olhar Digital.