As mudanças climáticas provocam secas, enchentes e outros problemas ambientais que podem levar ao surgimento de novas doenças ou ao avanço de patologias já controladas na Amazônia. Um destes casos é o da Doença de Chagas.
De acordo com estudo publicado na revista Medical and Veterinary Entomology, o aumento médio das temperaturas do planeta pode facilitar a expansão dos mosquitos responsáveis pela transmissão da doença. A principal preocupação é que estes insetos consigam atingir novas áreas.

A Doença de Chagas
- Causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, a doença é transmitida principalmente por insetos conhecidos como barbeiros.
- Ela existe há milhões de anos e passou a ser transmitida para os humanos a partir da invasão dos ambientes silvestres pelo homem.
- O primeiro caso em humanos só foi descrito em 1909, a partir de descoberta do médico brasileiro Carlos Chagas, que detectou o parasita em uma criança de dois anos de idade na cidade de Lassance, no interior de Minas Gerais.
- Embora muitos infectados permaneçam assintomáticos por anos, cerca de um terço desenvolve formas clínicas graves da doença, como a forma cardíaca crônica e o megacólon, caracterizado pela dilatação do intestino grosso.
- Entre 1999 e 2007, o Brasil registrou uma média anual de cerca de 6 mil mortes relacionadas à Doença de Chagas, representando aproximadamente 43% de todos os óbitos por essa enfermidade na América Latina.
- Ela é uma das principais causas de morte entre as doenças tropicais negligenciadas no país.
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É preciso se antecipar ao problema
Em artigo publicado no The Conversation, os professores Leandro Schlemmer Brasil, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Divino Vicente Silvério, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Filipe França, da Universidade de Bristol, José Orlando de Almeida Silva, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), além de Leandro Juen, Thiago Bernardi Vieira e Leonardo Viana de Melo, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e de Walter Souza Santos, pesquisador do Instituto Evandro Chagas (IEC), apresentaram os resultados de um novo estudo sobre a doença.

A equipe analisou mais de 11 mil registros de ocorrência de 55 espécies de barbeiros. Para isso, utilizaram uma técnica chamada modelagem de nicho ecológico, que cruza dados biológicos e ambientais, para prever como esses vetores podem se deslocar até 2080 sob diferentes cenários climáticos. Os resultados indicam uma tendência preocupante: os barbeiros devem expandir sua distribuição na Amazônia, especialmente em áreas já vulneráveis. Esse movimento pode surpreender os sistemas de saúde despreparados, afetando populações que já enfrentam desigualdades e condições precárias de moradia.
A pesquisa identifica áreas da Amazônia que poderão se tornar favoráveis à presença de vetores devido às mudanças climáticas, alertando para o aumento do risco em regiões hoje consideradas seguras. Essas informações permitem antecipar estratégias de prevenção, vigilância e fortalecimento do sistema de saúde. Mesmo sem estimar quantos serão afetados, o estudo mostra onde o risco pode crescer e isso já é um passo crucial para proteger populações vulneráveis.
Artigo publicado no The Conversation

Os pesquisadores afirmam que essa mesma abordagem pode ser aplicada a outras enfermidades tropicais, como dengue, leishmaniose e malária, gerando dados que podem subsidiar políticas públicas de saúde. Isso pode ajudar a minimizar os efeitos de futuras infecções, impedindo, inclusive, o surgimento de surtos e pandemias.
As projeções do nosso estudo reforçam a necessidade de políticas integradas de saúde, meio ambiente e adaptação às mudanças climáticas. A Amazônia enfrenta múltiplos desafios de degradação ambiental, e a eles se soma o risco crescente de doenças infecciosas associadas ao clima. E as populações mais afetadas serão aquelas já vulneráveis. Em regiões com pouco acesso a serviços de saúde, saneamento e moradia digna, o avanço dos barbeiros representa mais um obstáculo à justiça social.
Artigo publicado no The Conversation
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