A guerra contra o streaming pirata ganhou mais um capítulo neste fim de semana. De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), mais de 30 plataformas ilegais foram derrubadas no sábado (1º) após uma operação conjunta de autoridades argentinas.
Entre os serviços afetados está o My Family Cinema, bastante popular entre os brasileiros por oferecer acesso a filmes e séries de forma irregular no Brasil. O serviço é conhecido por oferecer um catálogo de produções no estilo Netflix, com um app e assinatura mensal em TVs, celulares, computadores e TV Box.
A decisão que tirou os sites do ar partiu da Justiça da Argentina, país onde os servidores das plataformas estavam hospedados. Segundo a Anatel, a medida impactou diretamente os consumidores brasileiros que usavam os serviços, já que o conteúdo vinha do país vizinho.
A ação é resultado de uma investigação internacional que envolveu entidades de combate à pirataria, como a Alianza Contra la Piratería Audiovisual (ALIANZA). Embora a Anatel não tenha participado diretamente do processo que levou à derrubada dos sites, a agência reforçou que mais aplicativos serão derrubados em breve, e que continua atuando ativamente em outras frentes de combate à pirataria no Brasil.
Brasileiros reclamam após queda do serviço
Com a queda do My Family Cinema, usuários que pagavam o serviço já sentiram o impacto do fim da plataforma. Além do site já estar fora do ar, os aplicativos do serviço também pararam de funcionar.
A página do serviço pirata no Reclame Aqui já está com a reputação não recomendada, com diversos usuários prestando queixas sobre o fim do serviço. Além da plataforma não oferecer suporte facilitado para os usuários, a expectativa é que não existam reembolsos para quem assinava anual ou mensalmente.
De acordo com o Reclame Aqui, o My Family Cinema conta com 190 reclamações que ainda não foram respondidas. Entre as mais recentes no site, usuários reclamam que o serviço caiu inesperadamente e sem qualquer retorno ou comunicação dos criadores do app.
“Renovei meu plano no My Family e ele parou de funcionar”, diz um dos clientes. Outros usuários também apontam que mesmo com mudanças de nome no serviço, como Eppi TV e Yoon Cinema, a plataforma também foi derrubada.
Um dos clientes que fala no Reclame Aqui, inclusive, aponta que “o serviço foi interrompido de forma unilateral e sem comunicação adequada ao consumidor”, o que vai contra o Código de Defesa do Consumidor. No entanto, como plataformas piratas não possuem representação legal como empresa no país, buscar os direitos como consumidor é quase impossível.
Combate à pirataria e alerta aos consumidores
Nos últimos meses, a Anatel tem reforçado sua ofensiva contra o consumo de conteúdo ilegal. A agência lembra que o uso de plataformas e dispositivos não homologados pode colocar os dados pessoais dos usuários em risco, abrindo brechas para ataques cibernéticos e fraudes.
“É importante que o consumidor brasileiro assine apenas serviços regulares e desconfie de pacotes com valores muito baixos”, alertou a entidade, em comunicado compartilhado pelo G1.
Esses riscos não são teóricos. A Anatel já identificou casos graves envolvendo malwares pré-instalados em TV Boxes piratas, como o Bad Box 2.0, capaz de roubar senhas, promover fraudes publicitárias e até participar de ataques cibernéticos. Em julho, o Brasil chegou a 1,5 milhão de dispositivos infectados, segundo dados da agência.
Além de comprometer dados pessoais, esses equipamentos geram tráfego suspeito mesmo em modo de espera, o que pode ser usado em golpes e acessos não autorizados a sites de bancos e órgãos públicos. O órgão vem intensificando a fiscalização e investindo em soluções tecnológicas para reduzir o impacto desse tipo de ameaça.
Ações contra TV Box e streaming ilegal
O bloqueio do My Family Cinema acontece em meio a uma série de iniciativas da Anatel visando acabar com a pirataria audiovisual no Brasil. Em setembro de 2024, a agência lançou o Hackathon TV Box, um concurso que premiou desenvolvedores com até R$ 7 mil por soluções inovadoras para detectar e bloquear dispositivos irregulares.
A competição foi organizada em parceria com a Comunidade Hackathon Brasil e buscou ideias que ajudem a interromper o tráfego de dados de aparelhos não homologados, protegendo consumidores e redes de telecomunicações. Segundo a Anatel, projetos como esse são essenciais para manter o equilíbrio entre inovação e segurança digital.
Essas ações fazem parte de uma estratégia maior que envolve tanto a educação do consumidor quanto o bloqueio técnico de dispositivos e serviços ilegais. Com a colaboração de entidades internacionais e operadoras locais, a agência tenta reduzir o alcance do mercado paralelo de streaming e fortalecer o ecossistema legal de entretenimento no país.