Pequenas espaçonaves tão leves quanto um clipe de papel podem, um dia, viajar até um buraco negro próximo. Publicada nesta quinta-feira (7) na revista iScience, essa proposta ousada prevê o uso de veículos movidos a laser para explorar um dos ambientes mais extremos do cosmos e testar os limites da teoria da relatividade geral de Albert Einstein.
Embora a ideia pareça saída de um livro de ficção científica, o cosmólogo Cosimo Bambi, da Universidade Fudan, na China, garante que ela é baseada em física real. Em um comunicado, ele lembra que, no passado, muitos achavam impossível detectar ondas gravitacionais ou obter imagens de buracos negros – feitos que hoje já são realidade. “Não temos a tecnologia agora. Mas, em 20 ou 30 anos, talvez tenhamos”, acredita o cientista.
Em resumo:
- Estudo propõe lançar uma espaçonave minúscula, movida por laser, rumo a um buraco negro;
- O objetivo seria testar previsões da teoria da relatividade de Albert Einstein;
- Sondas leves seriam aceleradas da Terra a um terço da velocidade da luz;
- O experimento poderia confirmar a existência do chamado horizonte de eventos;
- Viabilidade do projeto depende de avanços tecnológicos e da confirmação de um buraco negro a poucos anos-luz de distância.
Sondas minúsculas chegariam a buraco negro em até 75 anos
O plano envolve o lançamento de “nanonaves”, minúsculas sondas de poucos gramas, equipadas com sensores e uma vela de luz. A propulsão viria de lasers extremamente potentes instalados na Terra, capazes de acelerar as naves a quase um terço da velocidade da luz. Assim, seria possível alcançar um buraco negro a 20 ou 25 anos-luz em cerca de 60 a 75 anos.
Os dados coletados pelas sondas levariam outras duas décadas para chegar, totalizando quase um século de missão. Ainda assim, o projeto abriria caminho para investigar se buracos negros realmente possuem um horizonte de eventos – o limite invisível que nada consegue ultrapassar, nem a luz. Essa fronteira é prevista pela relatividade, mas nunca foi confirmada diretamente.
Na missão, uma sonda registraria a queda de outra em direção ao buraco negro. Segundo descrito no artigo, se houver horizonte de eventos, o sinal da nave em queda enfraquecerá e desaparecerá gradualmente, como Einstein previu. Mas, se o objeto for algo diferente, como a chamada “bola de pelo” (um conceito teórico sem horizonte), o desaparecimento poderá ser abrupto, revelando uma nova física.
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O que é necessário para o projeto se tornar realidade
Segundo Bambi, para que a missão se torne realidade, dois avanços são essenciais: localizar um buraco negro suficientemente próximo e criar sistemas de propulsão a laser, além de naves miniaturizadas capazes de suportar a viagem. Atualmente, o buraco negro mais perto conhecido, Gaia BH1, está a 1.500 anos-luz – de acordo com o novo estudo, no entanto, modelos indicam que pode haver um ainda não detectado a 20 ou 25 anos-luz.
Hoje, o custo para construir o conjunto de lasers seria de US$1,1 trilhão, valor inalcançável para orçamentos científicos. Mas Bambi estima que, em poucas décadas, o preço pode cair para cerca de um bilhão de euros, comparável a missões espaciais de grande porte.
Poranto, se de fato houver um buraco negro próximo e a tecnologia necessária, será apenas questão de tempo para enviarmos “naves-clipes” até ele.
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