Empreendedores e capitalistas de riscos avaliam que o plano do presidente Donald Trump de cobrar taxas de US$ 100.000 (cerca de R$ 528 mil) sobre os pedidos de visto H-1B vai prejudicar o setor de startups dos Estados Unidos de forma desproporcional, segundo reportagem da CNBC. A autorização permite que empresas contratem temporariamente trabalhadores estrangeiros em ocupações qualificadas, como TI, saúde e engenharia.
Especialistas disseram que a obtenção desse tipo de visto já era dificultada pelas cotas anuais limitadas. Até então, os custos variavam de cerca de US$ 1.700 (R$ 8,9 mil) a US$ 4.500 (R$ 23,7 mil). Agora, as empresas aguardam a divulgação de mais detalhes sobre as mudanças para eventualmente alterar estratégias de contratação.
Nos últimos dias, a Alma, uma startup de tecnologia jurídica sediada em São Francisco que fornece consultoria sobre imigração para profissionais e outras startups, viu crescer em 100 vezes o número de consultas desde a declaração da Casa Branca. Há expectativa de que o novo processo comece a valer para pedidos apresentados a partir de 2026, segundo a Al Jazeera.
“Nos últimos dias, os clientes ficaram assustados e ansiosos, porque o tamanho de suas empresas sugere que eles não conseguirão pagar US$ 100.000 e competir em termos de salários”, disse a fundadora e CEO da Alma, Aizada Marat, à reportagem. “O principal problema é: haverá oferta local suficiente para atender à demanda caso esses talentos internacionais desapareçam?”, questionou Marat.
Em busca de talentos
No ano passado, todos os pedidos de H1-B feitos pela plataforma de tecnologia de RH Workstream foram negados, contou o CEO Desmond Lim. Segundo ele, as contratações realizadas em anos anterior de trabalhadores estrangeiros foram “transformadoras, tanto para os funcionários quanto para a empresa”.
“Como uma startup em estágio inicial, cada contratação é preciosa, e escolhemos apenas os melhores para passar pelo programa H-1B, porque não só custa dinheiro, mas também leva tempo”, disse.
Empresas ainda em formação deverão ser as mais afetadas por não terem recursos de grandes empresas que poderiam absorver esse custo, na opinião de Alexandre Lazarow, sócio-gerente da Fluent Ventures. Além disso, não é incomum que startups passem por dificuldades para contratar os especialistas necessários localmente.
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Impactos a longo prazo
O aumento da taxa também pode impactar o financiamento de empreendedores e o setor de capital de risco. Isso porque muitas startups que contratam por meio do visto H-1B têm maiores chances de obter financiamento externo, abrir o capital e de fazer avanços inovadores, diz a reportagem.
A mudança pode “reduzir o apetite por nomes americanos em estágio inicial que dependem fortemente de trabalhadores H-1B, muitos dos quais podem agora olhar para o exterior para garantir suas carreiras em vez de arriscar mais incertezas nos EUA”, disse o diretor de investimentos da Crossbridge Capital, Manish Singh, à CNBC.
Analistas acreditam que os EUA podem ver uma inversão da chamada “fuga de cérebros”, que ocorre quando trabalhadores altamente qualificados migram para nações com cenário mais promissor para empreendedores. As incertezas sobre os processos migratórios americano podem favorecer a ida desses profissionais principalmente para a Europa.
Atualmente, cerca de 730.000 pessoas são portadoras de visto H-1B nos EUA e mais 550.000 dependentes, incluindo cônjuges e filhos, somando quase 1,3 milhão de residentes, de acordo com o jornal The Guardian. Amazon, Google, Meta, Microsoft e Apple estão entre as empresas que mais contratam trabalhadores com o H-1B, segundo o Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA.
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