O déjà vu é uma das experiências mais intrigantes do cérebro humano. Trata-se da sensação estranha de já ter vivido uma situação inédita, como se o momento atual fosse uma repetição de algo que nunca aconteceu.
Embora ainda envolto em mistério, a ciência já sabe que o déjà vu é uma espécie de mecanismo de checagem de memória: ocorre quando a parte do cérebro que detecta familiaridade se dessincroniza da realidade, gerando a ilusão de reconhecimento.
Mas há outro fenômeno ainda mais raro e desconcertante: o “jamais vu”. Ele é considerado o oposto do déjà vu e provoca a sensação de estranhamento diante de algo que deveria ser absolutamente familiar, conforme explicou o portal Science Alert.

‘Jamais vu’: quando o conhecido se torna estranho
Enquanto o déjà vu gera uma falsa sensação de familiaridade, o “jamais vu” é o contrário: objetos, pessoas, lugares ou até palavras conhecidas parecem irreais, novos ou distantes.
Antes de explicarmos as diferenças entre esses fenômenos, vale uma explicação do significado dessas palavras francesas. Enquanto “déjà vu” significa literalmente “já visto”, a expressão “jamais vu” é traduzido como “jamais visto”.
Pesquisas recentes mostraram que o “jamais vu” pode surgir em situações simples do dia a dia, como:
- Escrever repetidamente uma palavra comum e, de repente, ela parecer “errada” ou sem sentido;
- Olhar para um rosto familiar e ter a impressão de nunca o ter visto antes;
- Músicos que se perdem em trechos que já tocaram centenas de vezes;
- Motoristas que, por um instante, sentem estranhamento com o volante ou os pedais do carro;
- Caminhar por um lugar conhecido e, de repente, enxergá-lo como se fosse novo.
O fenômeno é tão incomum que, em experimentos de laboratório, cerca de 70% das pessoas relataram experiências de “jamais vu” ao repetir palavras simples dezenas de vezes.

O que a ciência já descobriu sobre o oposto do déjà vu?
Apesar de raro, o “jamais vu” pode ser induzido. Em testes realizados com universitários, os participantes eram convidados a escrever palavras repetidamente. Muitos relataram que, após algumas dezenas de repetições, as palavras perdiam o sentido, pareciam irreais ou até como se fossem “truques” criados para enganá-los.
Essa sensação é explicada por um processo chamado saciação – quando uma representação mental é sobrecarregada até se tornar incoerente. O cérebro, diante da repetição excessiva, “desliga” a familiaridade e transforma o conhecido em algo estranho.
Curiosamente, os primeiros registros científicos do “jamais vu” datam de 1907, em um estudo da psicóloga Margaret Floy Washburn. Ela observou que olhar fixamente para uma palavra por vários minutos fazia com que ela perdesse seu significado original.

Por que o ‘jamais vu’ importa?
A ciência ainda está nos primeiros passos para compreender o “jamais vu”, mas os pesquisadores acreditam que ele cumpre um papel importante. Essa sensação de estranhamento pode funcionar como um “alerta” do cérebro para nos tirar de tarefas repetitivas e automáticas, ajudando a redirecionar nossa atenção.
Além disso, estudos sugerem que entender melhor o “jamais vu” pode ajudar a compreender transtornos como o TOC (transtorno obsessivo-compulsivo). Em situações de checagem repetitiva – como verificar se a porta está trancada inúmeras vezes –, o excesso de repetição pode gerar a mesma sensação de irrealidade, dificultando ainda mais a noção de segurança e reforçando ciclos compulsivos.
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Assim como o déjà vu, o “jamais vu” nos mostra o quão complexos e fascinantes são os mecanismos da memória e da percepção. Ambos os fenômenos reforçam que nosso cérebro não é um “gravador perfeito” da realidade, mas sim um sistema dinâmico que busca constantemente equilibrar memória, repetição e atenção.
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