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O que a epidemia de doenças alérgicas tem a ver com a crise climática

by Fesouza
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Nem mesmo as doenças alérgicas ficaram de fora dos tópicos explorados no contexto da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, realizada nesta semana, em Belém, no Pará. E o motivo é simples: os efeitos das mudanças no clima têm agravado a epidemia de doenças alérgicas e respiratórias em escala global.

O alerta foi feito pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) em uma carta aberta enviada ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30. Segundo ele, apenas a predisposição genética não explicaria o aumento exponencial de pacientes com asma, rinite, dermatite atópica, conjuntivite alérgica e alergias alimentares ocorrido nas últimas décadas entre a população brasileira.

“O Brasil ao sediar a COP 30 terá a oportunidade de promover ações que diminuam a poluição ambiental e aquecimento global. A conscientização de todos que a saúde humana depende de uma saúde planetária adequada é essencial e o engajamento principalmente da população jovem nas ações de reparação climática é primordial”, diz a carta.

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Predisposição genética não explicaria o aumento exponencial de doenças alérgicas no Brasil, diz associação (Imagem: SeventyFour/iStock)

“A ASBAI se disponibiliza para realizar parcerias em relação a orientações, promoção de conhecimento, apoio a políticas públicas e realização de pesquisas que colaborem para a preservação do meio ambiente e a prevenção de doenças alérgicas.”

O impacto da poluição

Diversos estudos relacionam os fatores ambientais como as mudanças climáticas, o aumento da poluição atmosférica com o aumento da prevalência e incidência de doenças imunomediadas. Isso porque poluentes atmosféricos, da água e solo, e ondas de calor alteraram as barreiras superficiais de mucosas de diferentes órgãos e sistemas de indivíduos, favorecendo reações inflamatórias alérgicas.

Poluentes como material particulado (MP), dióxido de carbono (CO2) associados ao aquecimento global favorecem as mudanças nos ciclos naturais de alérgenos. Concentrações elevadas de CO2 intensificam a fotossíntese e ciclo reprodutivo de plantas aumentando a produção e dispersão de polens.

Além disso, tempestades e inundações facilitam a proliferação de ácaros e fungos em ambientes domiciliares. Outros poluentes como o ozônio troposférico (O₃) e o dióxido de nitrogênio (NO₂), cada vez mais presentes nos centros urbanos, danificam também as barreiras de mucosas, facilitando a entrada de alérgenos e amplificando a resposta imunológica.

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Enchentes no RS levaram à proliferação de fungos e demais patógenos (Imagem: Cid Guedes/iStock)

A carta cita como exemplo as enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024, que levaram à proliferação de fungos e demais patógenos, agravando doenças alérgicas e respiratórias. E também relembra o aumento de mais de 60% nos incêndios na região amazônica entre janeiro e outubro de 2024, em comparação com o ano anterior — a fumaça se espalhou por parte do Brasil e países vizinhos, liberando quantidades de material particulado e outros poluentes superiores aos limites estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Um alerta sobre plásticos

Outra ameaça ambiental relacionada a doenças alérgicas é a poluição plástica. A contaminação por microplásticos (partículas com menos de 5mm de diâmetro) está relacionada com doenças crônicas por alterar vias de sinalização intracelular e da microbiota intestinal, o sistema imunológico, além de atingir diversos tecidos e órgãos e agravar doenças alérgicas como dermatite atópica e asma. 

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Microplásticos podem afetar o desempenho do sistema imunológico (Imagem: MargJohnsonVA/iStock)

“O Brasil é o quarto maior produtor de plástico no mundo com produção aproximada de 11,6 milhões de toneladas de resinas termoplásticas e recicla menos de 2%. Embora o Tratado Global contra a Poluição Plástica de 2022 tenha enfrentado impasses para a sua execução, esperamos que na COP 30 sejam retomadas as negociações para diminuir a poluição plástica do planeta com incentivos à reciclagem, coleta e reutilização de produtos plásticos”, finaliza a carta.

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