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Oracle enfrenta momento tenso, com pior trimestre em mais de 20 anos

by Fesouza
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A Oracle atravessa um momento turbulento poucos meses após anunciar uma mudança no comando executivo. Clay Magouyrk e Mike Sicilia assumiram como novos CEOs há cerca de três meses, mas a transição coincidiu com quedas expressivas em receita e na bolsa de valores.

Agora, a empresa sofre com números abaixo do esperado, ao mesmo tempo em que se compromete a investir alto para honrar compromissos – principalmente aqueles relacionados à inteligência artificial.

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Safra Catz, CEO da Oracle há mais de 10 anos, deixou o comando da empresa em setembro (Imagem: JHVEPhoto/Shutterstock)

Oracle não atendeu expectativas

No trimestre atual, as ações da Oracle acumulam queda de aproximadamente 30%. Com apenas alguns dias úteis restantes para o encerramento do período, o desempenho caminha para ser o pior desde 2001 (ano marcado pelo colapso da bolha da internet).

Segundo analistas consultados pela CNBC, o movimento reflete a desconfiança dos investidores em relação à capacidade da companhia de sustentar a prometida expansão em infraestrutura de nuvem.

O ceticismo ganhou força após a Oracle divulgar resultados trimestrais abaixo das expectativas, tanto em receita quanto em fluxo de caixa livre. Na apresentação aos investidores, o novo diretor financeiro, Doug Kehring, anunciou que a empresa pretende investir US$ 50 bilhões em capital no ano fiscal de 2026 – um salto significativo em relação ao que havia sido projetado meses antes e o dobro do valor investido no ano anterior. Além disso, a companhia prevê compromissos de US$ 248 bilhões em contratos de leasing para ampliar sua capacidade de nuvem e construir novos data centers.

Grande parte dessa expectativa está no acordo fechado com a OpenAI, dona do ChatGPT. O contrato prevê que a desenvolvedora invista mais de US$ 300 bilhões na Oracle, em troca de capacidade de nuvem e data centers. Saiba os detalhes aqui.

Montagem com fotos de pessoa segurando celular com logomarca da Oracle e de tela exibindo foto de Sam Altman, CEO da OpenAI
Acordo entre OpenAI e Oracle é um dos maiores do setor tech e chamou atenção dos investidores (Imagem: sdx15 e Photo Agency – Shutterstock)

Oracle recorreu à dívida e pode precisar rever contratos

Para viabilizar essa expansão, a empresa já recorreu ao mercado de dívida. Em setembro, levantou US$ 18 bilhões em uma emissão de títulos considerada uma das maiores já feitas por uma empresa de tecnologia.

Embora o conselho da Oracle tenha reafirmado que vai honrar a dívida, parte do mercado passou a apostar no oposto, pressionando instrumentos de proteção contra calote da companhia.

Até o acordo com a OpenAI pode entrar em risco:

  • Analistas alertam que o volume de obrigações financeiras pode se tornar difícil de sustentar sem ajustes no acordo com a OpenAI;
  • Em relatórios recentes, casas de análise destacaram o risco de a Oracle precisar rever compromissos caso a geração de caixa não acompanhe o ritmo dos investimentos;
  • Houve até rumores de que a empresa poderia não conseguiria entregar os data centers prometidos há tempo. A Oracle negou.
  • A companhia não respondeu a pedidos de comentários da CNBC.
Data center.
Oracle negou que vá atrasar entrega de data centers para OpenAI (Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)

Crise na direção?

A ‘crise’ começou após a troca no comando da Oracle. Sob a gestão de Safra Catz, que começou como CEO em 2014 (quando o fundador Larry Ellison renunciou) e deixou o cargo em setembro deste ano, a empresa teve saltos expressivos em receita acumulada. Inclusive, o acordo com a OpenAI foi importante nesse sentido: quando o contrato veio a público, as ações dispararam, alimentando expectativas de uma nova fase de crescimento acelerado.

Após Magouyrk e Sicilia assumirem o comando, o cenário mudou. As ações da Oracle perderam mais de 40% do valor de mercado.

Gestores que acompanham a empresa há anos afirmam que a volatilidade faz parte de uma transição estratégica mais ampla e depositam confiança no histórico de Larry Ellison, fundador e figura central nas decisões da companhia.

prédio da oracle
Em meio a dúvidas do mercado, Oracle aposta em crescimento (Imagem: Cristi Croitoru/iStock)

Aposta alta na IA

Em apresentações realizadas no fim do ano passado, Magouyrk, Sicilia e Kehring delinearam uma visão ambiciosa: elevar a receita anual para US$ 225 bilhões até 2030, ante cerca de US$ 57 bilhões previstos para 2025.

A maior parte desse crescimento viria da infraestrutura voltada à inteligência artificial. No entanto, o próprio comando reconhece os riscos disso, uma vez que o negócio tradicional de software da Oracle é historicamente muito mais rentável.

Estimativas de mercado indicam que a margem bruta da empresa pode cair de patamares próximos a 77% para algo em torno de 50% ao fim da década. Além disso, projeções apontam para fluxo de caixa livre negativo nos próximos anos. Para alguns gestores, esse horizonte é longo demais para justificar o risco, especialmente diante da forte dependência de um único cliente de grande porte.

Há também dúvidas sobre a própria demanda futura da OpenAI, que consome grandes volumes de capital e já assumiu compromissos trilionários em projetos de inteligência artificial. Parte do mercado questiona até que ponto essa demanda se sustentará no longo prazo – e se a desenvolvedora poderá pagar.

Outros analistas, porém, veem a situação de forma mais construtiva. Avaliações recentes sugerem que a percepção em torno da Oracle pode melhorar caso a empresa consiga entregar, na prática, os projetos de infraestrutura prometidos. Nesse cenário, o contrato com a OpenAI poderia representar uma fatia relevante da receita nos próximos anos.

Mesmo assim, desafios estruturais permanecem. A Oracle ainda corre atrás de participação em um mercado dominado por concorrentes muito maiores, e enfrenta resistência de empresas de software que preferem não oferecer seus produtos em sua nuvem. Para analistas, a credibilidade da Oracle dependerá menos de promessas e mais da execução.

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