Pacientes com câncer de cólon que usaram medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro tiveram mais chances de sobreviver após o diagnóstico da doença, segundo um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego.
A pesquisa indica que esses remédios, conhecidos por tratar diabetes e obesidade, podem estar ligados a uma redução de mais de 50% no risco de morte num período de cinco anos.
O estudo, publicado no começo de novembro de 2025, analisou mais de 6,8 mil pacientes. E encontrou diferença expressiva entre quem usava e quem não usava os chamados agonistas do receptor GLP-1 (categoria do Ozempic, Wegovy, Mounjaro etc).
Entre os pacientes analisados no estudo, a mortalidade em cinco anos foi de 15,5%, contra 37,1% no grupo sem medicamentos estilo Ozempic – mesmo após corrigir fatores como idade, Índice de Massa Corpórea (IMC), gravidade do tumor e outras condições clínicas.
O tema ganha importância diante do avanço do câncer de cólon, hoje uma das principais causas de morte por câncer, principalmente em pessoas com menos de 50 anos (lembra da Preta Gil?).
Benefício de medicamentos como Ozempic é mais forte em pacientes com obesidade severa
A equipe analisou dados clínicos de 6.871 pacientes com câncer de cólon, extraídos do universo de prontuários do University of California Health Data Warehouse.
Entre eles, estavam tanto pacientes que usavam agonistas do receptor GLP-1 quanto aqueles que nunca tiveram contato com esse tipo de medicamento.
Quem utilizava GLP-1 RAs teve 62% menos probabilidade de morrer em cinco anos por conta de câncer de cólon, quando comparado ao grupo que não usava. Porém, o ganho de sobrevivência não foi igual para todos.
Quando os pesquisadores separaram os pacientes por IMC, o benefício ficou “confinado” aos que tinham obesidade severa, onde o efeito protetor foi descrito como “mais pronunciado”.
No grupo de IMC normal (abaixo de 25), o uso das drogas não alterou a taxa de sobrevivência. Já entre pacientes com obesidade severa, o impacto foi robusto tanto na mortalidade em cinco anos quanto no tempo até a fatalidade.
Os usuários desses medicamentos também apresentaram menor risco de infarto e menos indicadores de câncer avançado, como sepse. Isso sugere uma proteção sistêmica adicional.
O estudo, publicado no periódico Cancer Investigation, foi conduzido por Raphael Cuomo, Ph.D., professor associado do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina da UC San Diego e pesquisador do Moores Cancer Center.
Pesquisadores apontam redução da inflamação, mas pedem ensaios clínicos
Medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro foram desenvolvidos para tratar diabetes tipo 2 e obesidade. Eles incluem moléculas já conhecidas do público, como semaglutida (Ozempic, Wegovy), liraglutida (Victoza, Saxenda) e tirzepatida (Zepbound, Mounjaro).
Ao analisar sua relação com o câncer de cólon, os pesquisadores destacam que o impacto desses medicamentos podem ir muito além do controle glicêmico e da perda de peso.
Segundo o estudo, os GLP-1 RAs são “biologicamente pleiotrópicos”. Além de baixar o açúcar no sangue e reduzir o peso, eles:
- Modulam a inflamação;
- Afetam a fisiologia cardiovascular;
- Alteram o esvaziamento gástrico;
- Podem influenciar a biologia tumoral.
Entre as hipóteses levantadas, estão:
- A redução da inflamação sistêmica;
- A melhora metabólica que pode “amortecer vias promotoras de tumor”;
- Possível capacidade de “causar curto-circuito no microambiente tumoral”.
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Estudos de laboratório também sugerem efeitos anticâncer diretos, como indução de morte celular e remodelação tumoral.
Mesmo assim, os autores fazem questão de enfatizar: não se sabe se a proteção vem de um efeito direto contra o câncer ou de uma melhora geral da saúde metabólica.
Em comunicado publicado pela universidade, Cuomo reforça que os resultados são observacionais e não permitem conclusões definitivas.
A próxima etapa, apontam os pesquisadores, deve ser a realização urgente de ensaios clínicos randomizados (RCTs) para testar o uso de GLP-1 como terapia complementar, sobretudo para tumores relacionados à obesidade.
Estudos futuros também devem explorar possíveis mecanismos e identificar quais subgrupos respondem melhor, inclusive em outros tipos de câncer associados ao excesso de peso.
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