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Paracetamol x Acetaminophen: existe alguma diferença?

by Fesouza
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Paracetamol e acetaminophen são o mesmo remédio, mas com nomes diferentes. No Brasil e em boa parte do mundo, a substância é chamada de paracetamol. Nos Estados Unidos, aparece nas farmácias como acetaminophen, sendo vendida em marcas conhecidas como o Tylenol. Analgésico e antitérmico de venda livre, é um dos medicamentos mais usados no planeta para tratar dor e febre.

Agora, o remédio virou centro de uma polêmica política. O governo de Donald Trump anunciou, na segunda-feira (22), que a FDA – Anvisa dos EUA – notificará médicos associando o uso de paracetamol durante a gravidez ao risco de autismo em crianças.

A ideia contraria a posição de médicos e órgãos de saúde, que consideram a substância segura para gestantes quando usada da forma correta.

Paracetamol e acetaminophen: nomes diferentes, mesma substância

O que muda não é o medicamento, mas a forma como ele é chamado em cada país. Nos Estados Unidos, o princípio ativo aparece como acetaminophen, enquanto no Brasil e em boa parte do mundo é conhecido como paracetamol.

Sob diferentes marcas comerciais (entre elas, o Tylenol), o remédio é um básico de farmácia para tratar dor e febre, inclusive em versões específicas para bebês e crianças.

Por que o governo Trump levantou a polêmica

A polêmica começou quando o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que faria um “anúncio incrível” sobre autismo, dizendo que os casos estavam “fora de controle”.

Donald Trump
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que casos de autismo estavam “fora de controle” (Imagem: Joey Sussman/Shutterstock)

Depois, a Casa Branca sinalizou que pretendia associar o uso de paracetamol durante a gravidez a um risco maior de autismo em crianças. A fala chamou atenção porque contraria as diretrizes médicas em vigor. Além disso, abriu espaço para desinformação em torno de um medicamento amplamente usado.

À frente da área de saúde, Robert F. Kennedy Jr. prometeu uma “força-tarefa massiva” para investigar causas do autismo em poucos meses – algo que especialistas consideram fora da realidade. Isso porque a condição é resultado de múltiplos fatores genéticos e ambientais.

Para críticos, Trump e seu governo usam o tema como pauta política, explorando dúvidas da população sem base científica sólida.

O que dizem estudos científicos

Alguns estudos menores, feitos ao longo dos anos, encontraram uma associação discreta entre o uso de paracetamol na gestação e o aumento de risco para autismo ou outros distúrbios do desenvolvimento. Mas é importante destacar: associação não significa causa.

  • Em outras palavras: esses trabalhos identificaram correlação, mas não comprovaram que o medicamento seja o responsável direto pelos casos.

Pesquisas maiores reforçam essa cautela. Um estudo feito na Suécia que analisou dados de quase 2,5 milhões de crianças até identificou um pequeno aumento no risco. Mas quando os cientistas consideraram fatores como histórico familiar e condições de saúde da mãe, a associação desapareceu. Isso mostrou que os resultados anteriores provavelmente refletiam outros fatores e não um efeito direto do remédio.

Autismo
Estudos identificaram correlação, mas não comprovaram que o paracetamol seja o responsável direto pelos casos de autismo (Imagem: Nikosnikossss/Shutterstock)

Mais recentemente, uma revisão conduzida por pesquisadores de Harvard analisou 46 estudos sobre o tema. O grupo encontrou sinais de que pode haver alguma ligação, mas concluiu que as evidências não são consistentes o suficiente para falar em relação de causa e efeito.

A recomendação final foi clara: o paracetamol continua a ser o analgésico mais indicado na gestação, desde que usado na menor dose e pelo menor tempo possível – e sempre com orientação médica.

A posição de médicos e autoridades de saúde

Entidades médicas de diferentes países reforçam que o paracetamol é seguro para gestantes quando usado corretamente.

O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia destaca que o remédio é um dos poucos analgésicos considerados seguros durante a gravidez. No Reino Unido, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) classifica o paracetamol como a primeira escolha para tratar dor e febre em grávidas, sem risco para o bebê.

A própria Comissão Europeia e a Organização Mundial da Saúde (OMS) também rejeitam a ideia de ligação entre o paracetamol e o autismo.

A farmacêutica Kenvue, que fabrica o Tylenol, afirmou não haver base científica para as alegações do governo Trump. E demonstrou preocupação com os efeitos da desinformação sobre gestantes.

O consenso, portanto, é que o medicamento pode ser usado de forma segura, desde que respeitadas as doses recomendadas.

Os riscos reais do paracetamol

O principal risco do paracetamol não está em seu uso correto, mas sim na overdose. O medicamento é seguro em doses recomendadas, mas em excesso pode causar danos graves ao fígado, inclusive insuficiência hepática aguda.

Comprimidos e cápsulas em cartelas de remédios espalhadas
O principal risco do paracetamol está na overdose (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O perigo é que o paracetamol está presente em mais de 600 medicamentos diferentes, incluindo xaropes para gripe, resfriado e outros analgésicos combinados.

Isso aumenta as chances de intoxicação acidental – quando a pessoa usa dois ou três produtos sem perceber que todos contêm o mesmo ingrediente ativo. Por isso, especialistas recomendam atenção redobrada na hora de combinar tratamentos.

As orientações oficiais, como as do Serviço Nacional de Saúde britânico, sugerem uma dose máxima de oito comprimidos de 500 mg em 24 horas, sempre respeitando intervalos entre as ingestões. Ultrapassar esse limite pode levar à produção de substâncias tóxicas no organismo.

No caso de crianças, o cuidado deve ser ainda maior: pais e responsáveis precisam seguir as instruções médicas e evitar duplicar doses quando a criança passa por diferentes cuidadores ao longo do dia.

Leia mais:

O debate maior sobre autismo

Especialistas lembram que o autismo não tem uma causa única. Pesquisas indicam que fatores genéticos explicam a maior parte dos casos, enquanto aspectos relacionados ao ambiente podem ter algum peso, mas de forma muito menos determinante.

autismo
Especialistas reforçam que o autismo não tem uma causa única (Imagem: Veja/Shutterstock)

Nas últimas décadas, o aumento no número de diagnósticos se deveu, em grande parte, à ampliação dos critérios médicos e à maior conscientização sobre a condição. Na prática, isso permitiu que mais pessoas fossem diagnosticadas e recebessem apoio.

Para entidades de pessoas autistas, usar o tema como arma política é perigoso. Grupos de defesa apontam que a retórica do governo Trump alimenta desinformação e reforça estigmas sobre quem está no espectro.

Em vez de buscar “causas milagrosas” ou culpar medicamentos, dizem especialistas e ativistas, o foco deveria ser em políticas públicas de inclusão, educação e cuidado humanizado para as pessoas autistas e suas famílias.

(Essa matéria usou informações da BBC, CNN Brasil e G1.)

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