O ditado já dizia que você é o que você come, mas e quando o que a gente come toma conta do corpo e parece se transformar em nós mesmos?
Em muitos quintais e brejos, insetos perfeitamente saudáveis passam a agir de modo estranho, como se uma vontade alheia tivesse ocupado seus circuitos mais básicos. Eles abandonam a rotina, buscam água com urgência e seguem em frente mesmo quando isso coloca a própria sobrevivência em risco.
À primeira vista soa como lenda, mas é um roteiro real do mundo dos parasitas, em que um fio quase invisível encontra no interior do hospedeiro abrigo e tempo para crescer até que algo muda no comportamento e a história dá uma guinada. A pergunta que fica é simples e inquietante. Quem está no controle?
Conheça o verme crina-de-cavalo: o parasita que obriga o hospedeiro a se afogar
Chamado popularmente de verme crina-de-cavalo, este parasita pertence ao filo Nematomorpha e é conhecido em muitas regiões como verme górdio, alusão aos nós emaranhados que forma quando vários indivíduos se enovelam. O nome crina-de-cavalo surgiu porque os adultos lembram fios de cabelo longos e finos, com poucos milímetros de espessura e muitos centímetros de comprimento.
Em lagos, bebedouros, fontes, poças e córregos de águas lentas, esses fios vivos passam despercebidos para quem não conhece o grupo, mas revelam uma das histórias mais curiosas do mundo dos parasitas.
Embora o apelido remeta a cavalos, eles não parasitam equinos nem humanos. A fama se deve ao aspecto e à cena frequente de aparecerem como cordões escuros em recipientes de água usados por animais nas áreas rurais.
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A vida adulta do verme crina-de-cavalo acontece na água. É lá que os indivíduos se encontram, copulam e liberam massas de ovos em cordões gelatinosos que se fixam em plantas aquáticas, pedras e outros substratos.
Dessas massas eclodem larvas minúsculas, invisíveis a olho nu para a maioria das pessoas, que precisam encontrar um caminho até um hospedeiro terrestre ou semiterrestre para continuar o ciclo. É um plano que combina paciência e oportunidade.
As larvas ficam disponíveis no ambiente, aderem a alimentos úmidos ou são engolidas quando o futuro hospedeiro bebe água em poças e bebedouros. Em muitos lugares, o auge da atividade reprodutiva coincide com períodos quentes e chuvosos, quando a água parada e as bordas úmidas dos corpos d’água concentram insetos e aumentam as chances de encontro.
Uma vez dentro do hospedeiro, a larva atravessa tecidos até o interior do corpo, onde encontra espaço e recursos para crescer. Ali o verme se alimenta e se alonga por semanas ou meses, ocupando a cavidade corporal como um fio elástico que se dobra sobre si mesmo. O crescimento não precisa matar o hospedeiro. O objetivo é completar o ciclo e atingir a fase adulta de volta à água.
Quando atinge o tamanho e o estágio adequados, o parasita muda o comportamento do hospedeiro. O inseto passa a procurar um ambiente aquático mesmo que isso contrarie seu padrão natural. Diante de um lago, um tanque, uma poça ou um balde, o hospedeiro entra na água e permanece ali tempo suficiente para que o verme deixe o corpo e nade livre.
Muitas vezes o inseto se afoga durante o processo, o que deu fama ao parasita que obriga o hospedeiro a se afogar para viabilizar o retorno do verme ao ambiente aquático.
Quais bichos ele parasita e por que parecem zumbis
Os alvos mais comuns são insetos de médio porte que transitam entre ambientes úmidos e secos, como grilos, gafanhotos, esperanças, baratas e louva-a-deus. Esses animais bebem água em poças e lambeiros, consomem matéria vegetal úmida e frequentam regiões onde as larvas do verme podem estar aderidas.
Uma vez infectados, seguem a vida até que o parasita complete o crescimento. É no final do ciclo que o comportamento muda de modo mais dramático, e o hospedeiro passa a agir como se estivesse programado para mergulhar. Daí vem a imagem de zumbi.
Não há perda total de controle, mas há um comando interno que empurra o inseto para o cenário ideal do parasita. Para quem observa de fora, a cena é marcante. Um grilo entra no bebedouro de um animal e, minutos depois, um fio escuro sai de seu corpo e serpenteia na água.
Por que o verme não oferece risco a pessoas?
Apesar do impacto visual e do ciclo tão eficiente, o verme crina-de-cavalo não é considerado uma ameaça para humanos, cães, gatos e animais de grande porte. O parasita evoluiu para explorar hospedeiros muito específicos, geralmente insetos de vida terrestre com forte ligação com ambientes úmidos.
Em pessoas e mamíferos, o encontro com o verme adulto é mais frequente em recipientes de água, tanques e fontes. Encontrar um indivíduo em um balde ou no bebedouro de um animal não significa contaminação do rebanho nem risco de infecção interna.
O mais adequado é descartar a água, enxaguar o recipiente e repô-lo com água limpa. Em ambientes naturais, o verme compõe a cadeia de interações que ajuda a regular populações de insetos e serve de alimento para outros organismos aquáticos.
Com informações de Missouri Department of Conservation.
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