Alguns animais despertam curiosidade por parecer desafiar as fronteiras entre o real e o lendário. Ao longo da história, o mistério do lobisomem povoou mitos e obras de ficção, com seus uivos e transformações sob a luz da Lua cheia.
Mas, no mundo natural, há uma criatura que também parece se encantar por esse mesmo astro, e é um pequeno roedor que, de forma surpreendente, ganhou fama por “uivar” para o céu noturno.
Trata-se do rato-gafanhoto, um mamífero de aparência comum, mas de comportamento totalmente inesperado. Em vez de fugir para o abrigo quando o sol se põe, esse pequeno animal se torna protagonista de um espetáculo curioso, inclinando a cabeça, esticando o corpo e emitindo sons que lembram o uivo de um lobo.
O fenômeno foi registrado por cientistas e vem intrigando pesquisadores, especialmente pela semelhança acústica e comportamental com os predadores caninos.
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Conheça na matéria a seguir o que é o rato-gafanhoto, por que ele “uiva” para a Lua e o que a ciência já sabe sobre o comportamento, além de quais espécies apresentam esse ritual tão incomum.
Conheça o rato-gafanhoto: um roedor que “uiva” para a Lua
O rato-gafanhoto, conhecido cientificamente como Onychomys torridus, é um pequeno roedor encontrado nas regiões áridas e desérticas da América do Norte. Apesar do nome, ele não se alimenta de grãos ou vegetais como a maioria dos ratos, tendo uma dieta predominantemente carnívora. Ele caça insetos, pequenos répteis e, principalmente, gafanhotos, o que lhe garantiu o apelido.
Mas o que realmente chama atenção nesse animal é o fato de ele emitir sons prolongados e agudos que lembram um uivo. Segundo pesquisadores, esse comportamento é usado para marcar território e se comunicar com outros indivíduos da espécie, funcionando como uma espécie de “grito de domínio”.
O som é tão alto e característico que, em noites de Lua cheia, foi comparado por observadores ao uivo de lobos, uma semelhança que lhe rendeu o apelido de “roedor-lobisomem”.
Um canto territorial e noturno
O “uivo” do rato-gafanhoto não é apenas um som curioso, mas parte de uma estratégia de defesa. Os machos, principalmente, usam essa vocalização para afastar rivais e demonstrar domínio sobre uma área.
Porém, diferente dos lobos, o rato não precisa de uma alcateia, sendo um caçador solitário que prefere agir sozinho em territórios bem demarcados. Portanto, esse som funciona como uma forma de “aviso” para outros roedores não invadirem o espaço já ocupado.
As gravações feitas em laboratório e no ambiente natural mostram que o som é surpreendentemente poderoso para um animal tão pequeno, com frequências que ecoam pelo deserto durante a noite.
Aparentemente, o comportamento é mais comum nas noites iluminadas, o que pode ter alimentado a ideia de que o rato “uiva para a Lua”, ainda que, para a ciência, o som tenha função territorial e social, e não mística.
Como é o som do uivo do rato-gafanhoto
O som emitido pelo rato-gafanhoto foi analisado com equipamentos de alta sensibilidade e revelou uma estrutura complexa. Ele combina chiados agudos e vibrações graves que, juntos, criam um som muito semelhante a um uivo em miniatura. Para emitir o som, o roedor se ergue levemente sobre as patas traseiras, estica o corpo e inclina a cabeça para cima, como se realmente estivesse “cantando” para o céu.
Em um vídeo bastante divulgado por cientistas e divulgado pelo portal IFLScience, é possível ver e ouvir o rato-gafanhoto durante seu “uivo lunar”. A gravação mostra de forma impressionante a potência e a duração do som emitido, reforçando a ideia de que o comportamento é único no reino dos roedores e muito raro até mesmo entre pequenos mamíferos.
Espécies e características gerais
Existem três espécies principais conhecidas de ratos-gafanhotos: Onychomys torridus, Onychomys leucogaster e Onychomys arenicola.
Todas são encontradas em ambientes desérticos e semidesérticos dos Estados Unidos e do México e, ainda que compartilhem hábitos semelhantes, apenas algumas populações do O. torridus parecem emitir os “uivos” noturnos mais intensos. O motivo exato dessa variação ainda está sendo estudado, mas pode estar relacionado à competição territorial ou a fatores ambientais.
Fisicamente, o rato-gafanhoto tem corpo compacto, pelagem espessa de coloração acinzentada e dentes afiados adaptados à caça. Seu metabolismo acelerado e comportamento agressivo contrastam com a aparência fofa, e sua mordida é poderosa o bastante para abater presas maiores do que ele próprio.
Em muitos aspectos, é um caçador nato, o que explica parte do comportamento vocal que o tornou tão famoso.
Comportamento e hábitos noturnos
O rato-gafanhoto é um animal noturno, que passa o dia escondido em tocas subterrâneas e sai à noite em busca de alimento. Suas caçadas são rápidas e silenciosas, mas, entre uma emboscada e outra, ele pode ser ouvido emitindo sons para avisar que o território está ocupado.
É justamente durante essas interações territoriais que o “uivo” se torna mais evidente, principalmente sob a luz do luar, quando a visibilidade é maior.
Cientistas acreditam que o comportamento pode ter evoluído como uma forma de comunicação de longa distância, já que o ambiente aberto do deserto favorece sons que se propagam por grandes áreas. Assim, o uivo serviria não apenas para intimidar rivais, mas também para atrair parceiros, tornando o comportamento tanto uma arma quanto um chamado reprodutivo.
Um “mini-lobisomem” do deserto
O apelido de “rato-lobisomem” é, claro, mais uma metáfora do que uma relação biológica. O rato-gafanhoto não se transforma nem teme a prata, mas compartilha com o lobisomem um comportamento noturno, territorial e um tipo de “uivo” que ecoa na escuridão. Essa coincidência sonora acabou encantando o público e tornando o animal uma celebridade entre a espécie.
Apesar da aparência inofensiva, esse pequeno roedor é um predador eficiente e uma peça importante no ecossistema do deserto, ajudando a controlar populações de insetos e pequenos animais. E, ao mesmo tempo, continua sendo uma lembrança de que, mesmo em meio à aridez e ao silêncio, a natureza encontra um jeito de surpreender.
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