Uma população até então desconhecida habitou a região central da Argentina por 8.500 anos. Esse povo teve características persistentes e sobreviveu a mudanças climáticas, como secas e escassez de alimentos, sem apresentar nenhuma adaptação por milhares de anos.
O estudo sobre a descoberta foi publicado na revista Nature este mês e é a maior cobertura temporal e espacial já produzida para a região do Cone Sul da Argentina.

População habitou centro da Argentina há milhares de anos
A pesquisa analisou o DNA de 238 pessoas que viveram na Argentina ao longo dos últimos dez milênios. A investigação começou em 2017, com análise de 28 dentes arqueológicos vindos de Córdoba. Ao longo dos anos, outras 20 instituições cederam ainda mais amostras para análise, incluindo 344 fragmentos ósseos ou dentários de 310 indivíduos de 133 sítios arqueológicos no país.
A equipe teve que sequenciar e filtrar os dados, e encontrou alguns padrões. Por exemplo, um exemplar de 8.500 anos, da região de Jesús María (em Córdoba), apresentou um conjunto de variantes genéticas que nunca havia sido observado. Ele se tornou o ponto de início da pesquisa.
A partir desse primeiro exemplar, os pesquisadores conseguiram encontrar a mesma linhagem em mais indivíduos de 4.600 a 150 anos atrás.

Ancestrais continuam na Argentina
Pelo recorte temporal analisado, a população conseguiu sobreviver ao longo de milhares de anos, enfrentando grandes mudanças no clima (como secas extremas e escassez de alimentos), na tecnologia e na economia. A grande surpresa é que, em vez de se adaptarem para lidar com as adversidades, o DNA continuou exatamente o mesmo.
Além de serem extremamente resilientes, os ancestrais dessa linhagem antiga ainda podem ser identificados em parte da população atual da Argentina.
Outro aspecto curioso que chamou atenção no DNA da população é o isolamento, uma vez que não houve troca com outras linhagens. Entre 8 mil e 5 mil anos atrás, eram três povos distintos vivendo na região do Cone Sul argentino, sendo que apenas uma delas se sobressaiu. No entanto, mesmo sem barreiras geográficas que expliquem esse isolamento, a população encontrada no estudo permaneceu sem trocas significativas em relação aos vizinhos.
Essa descoberta também contradiz outros estudos, que já haviam determinado, a partir da análise de materiais compartilhados entre as populações, que houve troca entre elas. A nova pesquisa revela que, no caso desse grupo, não houve migração.

Como era a população?
- Segundo o estudo, a população habitou geografias diferentes, como serras, planícies e áreas úmidas;
- Diferentes grupos dessa mesma linhagem tiveram estratégias distintas para sobreviver, desde caça e coleta até horticultura e uso de recursos vindo de rios;
- Ainda, há cerca de 1.500 anos, um desses grupos – na serra de Córdoba – chegou a cultivar pequenas plantações;
- A comunidade até poderia ter contatos esporádicos com grupos vizinhos, mas sem que isso deixasse marcas genéticas neles;
- A hipótese é de que, em algum momento da história, parte dessa população chegou ao noroeste da Argentina e se combinou com povos com genes dos Andes centrais. Já outra parte teria ido para os Pampas há cerca de 3.300 anos e passou a habitar a região Sul do continente.
Em comunicado, o Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET) reforçou como a descoberta destaca que os padrões de formação populacional da América do Sul são únicos e complexos.
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