Por que humanos beijam na boca, mas não os animais?

Beijo na boca é coisa do passado, e do presente! Beijar na boca parece um gesto natural para muitos de nós, quase um idioma do afeto que atravessa filmes, músicas e rituais sociais, mas basta ampliar o olhar para perceber que não é tão universal assim, e que a comparação com outras espécies costuma confundir mais do que explicar.

A pergunta que guia esta conversa é: por que humanos beijam na boca, mas não os animais, e o que essa diferença revela sobre nossos sentidos, nossos vínculos e as regras que aprendemos para expressar desejo e cuidado?

Por que humanos beijam na boca, mas não os animais?

Beijar na boca parece natural para quem cresceu em sociedades que valorizam esse gesto como prova de afeto e desejo. A prática, porém, está longe de ser universal entre povos humanos e tampouco é um comportamento padronizado no restante do reino animal.

A pergunta carrega uma armadilha que a ciência ajuda a desfazer. Quando se compara humanos e outras espécies, nem sempre se está falando do mesmo ato. O que chamamos de beijo mistura contato físico de lábios e língua, troca de sinais químicos, leitura de cheiros, códigos de vínculo e rituais culturais.

Em outras espécies existem contatos equivalentes que cumprem funções parecidas, mas que não se encaixam no formato que associamos a humanos beijam boca animais.

Divulgação/Columbia Pictures

Se a definição de beijo for restrita ao toque de lábios com intenção afetiva ou sexual, poucos animais passam no teste. Se a definição for ampliada para incluir contato de boca com boca ou trocas próximas de olfato e sabor que funcionam como sinais de vínculo, o cenário muda.

Primatas como chimpanzés e bonobos realizam contatos de boca que ajudam a fazer as pazes depois de conflitos e a reforçar alianças. Elefantes encostam as pontas das trombas em momentos de saudação e conforto. Aves alimentam parceiros e filhotes encostando bicos e trocando alimento. Peixes que parecem se beijar, como os chamados kissing gouramis, na verdade, travam disputas por território ao pressionar as bocas.

Esses exemplos mostram que muitos animais usam o rosto e a região oral para comunicar intenções e cimentar relações, embora a forma e o significado variem.

Entre humanos, o beijo na boca ganhou status de linguagem afetiva porque reúne sinais biológicos e códigos culturais em uma mesma cena. Há liberação de hormônios e neurotransmissores ligados a prazer, apego e redução de estresse. Há leitura de cheiros e gostos sutis que informam sobre higiene, dieta e compatibilidade, pistas que o cérebro avalia sem esforço consciente. Há ainda o aprendizado social que diz quando, onde e com quem esse gesto é apropriado.

Com o tempo, diferentes sociedades cristalizaram regras de etiqueta, significados românticos e rituais públicos que elevaram o beijo a marcador de compromisso e sedução. Essa camada cultural ajuda a explicar por que o ato está presente em cerimônias, narrativas e artes, mesmo não sendo universal entre todos os povos.

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Um traço que a ciência discute é a ideia de que o beijo funciona como uma triagem rápida de compatibilidade. Quando duas pessoas se aproximam, trocam pistas químicas que incluem compostos presentes na saliva e no hálito. O cérebro compara essas pistas com preferências aprendidas e com sinais que, ao longo da evolução, podem ter servido como atalhos para avaliar saúde e potencial reprodutivo.

Nada disso acontece de forma deliberada. A experiência subjetiva é de atração ou de perda de interesse após o primeiro contato. Nos animais essa triagem ocorre por outras vias. Muitos mamíferos cheiram glândulas ou regiões do corpo que concentram sinais químicos. A função é semelhante, embora a forma seja diferente.

O lugar dos outros animais nessa história

(Imagem: Globo FIlmes)

Dizer que animais não beijam é uma simplificação. O que existe é uma coleção de comportamentos que ocupam para eles o lugar que o beijo ocupa para nós. Chimpanzés realizam contatos de boca em reconciliação e cuidado social. Bonobos chegam a usar língua em encontros afetuosos. Cães lambem rostos de pessoas queridas e fazem trocas de cheiro no focinho para reconhecer emoções e estabelecer calma. Gatos encostam focinhos e testam o cheiro do outro para marcar confiança.

A função de baixar tensões, reforçar alianças, reconhecer parceiros e consolar indivíduos aparece em muitas espécies. O que muda é a forma, guiada pela anatomia de cada grupo, pelo ambiente e pelos riscos e custos de ficar com o rosto muito perto do outro.

A confusão nasce do costume de traduzir o mundo animal para a nossa gramática. Quando se busca o beijo fora de humanos, espera-se encontrar lábios que se tocam e a mesma intenção que vemos em casais. Isso estreita o foco e apaga gestos análogos.

Melhor é fazer a pergunta de outro modo: que tipos de contato íntimo entre indivíduos de uma espécie cumprem as funções de acolher, reconciliar, selecionar parceiros e sinalizar compromisso? Com essa lente, o beijo humano deixa de ser um ponto fora da curva e passa a ser uma versão nossa de um repertório mais amplo de contatos sociais.

O que a ciência ainda quer descobrir

(Imagem: Sergey Uryadnikov / Shutterstock.com)

Pesquisadores seguem mapeando a distribuição de beijos românticos entre povos, medindo respostas fisiológicas em casais e comparando espécies que usam contato de boca em contextos sociais. Há interesse em separar o que depende de aprendizagem do que depende de predisposições biológicas, e em entender por que alguns grupos humanos adotam o beijo com centralidade enquanto outros preferem outras formas de intimidade.

Ao mesmo tempo, estudos com primatas e outros mamíferos ajudam a decifrar o papel de cheiros e sabores na comunicação social. A convergência dessas linhas de pesquisa sugere que o beijo é uma tecnologia social construída sobre uma base sensorial antiga que compartilhamos com muitos animais, mas que ganhou trajetória própria na nossa espécie.

Com informações de Live Science.

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